ELAS estão no mapa

Princesa Isabel, Anita Garibaldi, Olga Benário, Tarsila do Amaral, Maria Quitéria, Marta. A lista de mulheres marcantes e importantes para o Brasil não tem fim. Estrelas das artes, dos esportes, das batalhas do cotidiano ou até mesmo dos campos militares, não há dúvida que “elas” foram e são dia-a-dia protagonistas que encorajam e inspiram demais mulheres por todo o mundo.

Nomes memoráveis transformam-se costumeiramente em homenagens e não é preciso andar muito para encontrarmos logradouros que fazem referência a diferentes personalidades que marcaram momentos históricos. Em nossa cidade as ruas trazem dezenas de referências à médicos, mártires, militares, engenheiros, presidentes, entre outros cargos, porém, das 402 ruas frederiquenses, apenas seis fazem referência à mulheres, o que totaliza 1.4% dos logradouros do município.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cidade de Frederico Westphalen possui 28.843 habitantes, dos quais 14.715 são mulheres, número superior ao de homens, que somam no total 14.128. Esse cenário não está presente apenas em Frederico Westphalen, o Brasil também possui mais mulheres do que homens em seu número total de habitantes, mesmo assim a ampla maioria de ruas pelo país carrega nomes masculinos.

A desigualdade de gênero não é representada apenas em nomes de ruas em nosso país. De acordo com pesquisas do IBGE, as mulheres trabalham em média 7,5 horas a mais que os homens em jornada dupla, que envolve a rotina doméstica. As brasileiras têm um desempenho melhor que os brasileiros nos indicadores de saúde e educação, mas ainda enfrentam acentuada discrepância em representatividade política e paridade econômica. O cenário que já é preocupante não possui expectativas muito animadoras, pois em pesquisa do ano passado, a estimativa é que a lacuna de desigualdade entre homens e mulheres leve 95 anos para ser preenchida no Brasil.

Para a professora e doutora em comunicação, Luciana Carvalho, o modo como a sociedade hoje se constitui, ou seja, que têm os homens ainda na condução da maioria das áreas de atuação na sociedade,  está diretamente ligado ao fato de que o número de ruas com nomes femininos é inferior, em relação às que levam nomes masculinos:

De acordo com Luciana, embora as mulheres fossem vistas, apenas, como “do lar”, elas sempre estiveram e estão na constante luta por espaço na sociedade e pela garantia de seus direitos: 

As mulheres lutam diariamente pelo reconhecimento em diferentes esferas e, apesar de muitos setores reconhecerem este problema, poucas são as atitudes efetivas para que de fato a desigualdade de gênero diminua.

 Seis Mulheres

Em pouco mais de 60 anos, o município de Frederico Westphalen se orgulha de ter em seus habitantes grandes personalidades. Entre importantes pessoas destacam-se seis mulheres, elas dão nome a seis ruas da cidade, que de uma forma especial, mantêm vivas suas memórias. A equipe da Rádio Comunitária foi em busca das histórias dessas seis mulheres.

Nossa primeira personagem é Amélia Campos Tomazi, natural de Água Santa, foi a primeira telefonista de Frederico Westphalen. Era por meio da sua dedicação como chefe da central telefônica, que as pessoas  mantinham contato com outras cidades do estado e do país. Durante 25 anos a central telefônica do município funcionou em sua residência. Segundo relatos da filha Ivani Tomazi e da neta Sayonara Cerutti, a dedicação de Amélia para com a central telefônica, era diária. Sayonara relembra que sua vó não media esforços para realizar seu trabalho: 

O trabalho de Amélia envolvia também a família. O marido, filhos e netos auxiliavam de diversas maneiras, como relembra a filha Ivani:  

Lembrada não só como a centrista dedicada, Amélia se notabilizou pela personalidade altiva e carismática. De fato, a modernidade e o avanço das tecnologias referentes ao meio telefônico tirou da senhora Tomazi o seu instrumento de trabalho, mas mesmo aposentada de suas funções como telefonista, a sua vontade de ajudar  sua família e amigos não terminou.  São por características como estas, ligadas ao importante serviço desempenhado por Amélia, que Ivani e Sayonara entendem que a memória da eterna telefonista deveria ser melhor lembrada:

Do sofá em frente à central telefônica aos carnavais, o legado que Amélia Campos Tomazi deixa não só para a família, como também para aqueles que a conheceram, é de uma trajetória de muita dedicação ao trabalho e da constante alegria que distribuiu em seus 87 anos de vida.

Assim como Amélia Tomazi, a dedicação era um dos pontos mais valorosos de Brandina Brescovici. Quando chegou em Frederico Westphalen vinda da cidade de Roca Sales em 1947, aos 35 anos de idade, Brandina já tinha família composta. Ela, juntamente com seu esposo, mantiveram residência por toda a vida onde hoje está localizado o Bairro Jardim Primavera, justamente o Bairro onde atualmente encontra-se a rua com seu nome. Valmor Brescovici é filho de Brandina, ele relata que a dedicação de sua mãe foi exemplar, não somente como matriarca da família mas também como agricultora:  

Hoje a rua Brandina Brescovici é considerada uma rua em desenvolvimento e importante para o crescimento desta área da cidade.

A rua Terezinha Piaia Milani também é nova se compararmos as demais ruas do município. Localizada no loteamento Claudino Milani, a rua carrega o nome de uma precursora do Bairro Aparecida, sobretudo no que diz respeito à construção da Capela da comunidade, uma obra que caracteriza a localização.  Terezinha era responsável pela família, amável e receptiva com todos, era natural de Vista Alegre e veio para Frederico Westphalen em 1957, onde permaneceu até os momentos finais de sua vida. Quem viveu na velha Frederico Westphalen dos anos 60 se lembra da dedicação em construir um local mais agradável de se viver, e esse também foi um dos objetivos de Terezinha.  Quem lembra com muito carinho e fala da personalidade amorosa de Terezinha é sua filha, Adelma Milani: 

Outra característica de Terezinha era o grande coração. Além de criar seis filhos biológicos, a mãe afetuosa também adotou um menino, que foi criado com o mesmo amor e carinho que dava aos demais.

Matriarca de uma das famílias mais tradicionais de Frederico Westphalen, Hermínia Milani, foi casada com o sr. Arthur Milani que também nomeia uma via do município. Arthur e Hermínia foram um dos casais pioneiros da cidade e chegaram a FW em 1919 quando se instalaram na localidade de Oswaldo Cruz, antiga vila Mussolini. Junto a seu marido e a frente de um empreendimento de ferragens, Hermínia teve gêmeos que seguiram no ramo empresarial da família.

 

Mulher devota das novenas de Santo Antônio, mãe rígida e que criou 14 filhos, Jovita Gerardi, hoje possuí uma rua em sua homenagem no Bairro Santo Antônio. Dona Gerardi acompanhou a construção da Catedral, auxiliando no transporte das pedras para a obra, motivo de orgulho para sua filha Soeli, que relembra de sua mãe com saudade:

Jovita veio da região norte do Rio Grande do Sul, e enraizou-se junto a seu marido na antiga comunidade Sanga Escondida, próximo ao Rio da Várzea. Mãe muito dedicada aos filhos, levava uma jornada dupla, dividida entre os afazeres domésticos e também do campo. Infelizmente Jovita não resistiu e veio a falecer em consequência de doença cardíaca, porém continua viva na memória de toda Frederico Westphalen e principalmente de Soeli, que reside na rua que leva o nome de sua mãe, Jovita Gerardi.

Chiquinha é a última, mas não menos importante, mulher que nomeia uma das ruas do município. De acordo com historiadores, havia uma senhora que residia em uma das comunidade do interior de Frederico Westphalen que se chamava Chiquinha dos Santos Anjos e, por ser muito popular, a vila ficou conhecida como Chiquinha. Posteriormente a comunidade passou a se chamar Getúlio Vargas e uma das ruas do município, no bairro São José, carregou a homenagem a Dona Chiquinha. A equipe da Rádio Comunitária não encontrou familiares de Chiquinha para que fosse possível obter mais informações sobre quem foi esta mulher que tem uma rua em sua homenagem.

Homenagens por meio de nomes de ruas não são o bastante para diminuir a desigualdade de gênero em nosso país que é marcada cotidianamente na vida de todas as brasileiras. A cada dia surge uma nova luta para que as mulheres consigam conquistar seu espaço e direitos na sociedade. Nomes de ruas, placas, bustos ou até mesmo estátuas não bastam para expressar a importância das mulheres em nosso cotidiano. 

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