Há um ano, em 2 de junho de 2020, o menino Miguel Otávio Santana da Silva caiu do 9º andar de um prédio em um condomínio de luxo, no Recife (PE). A mãe dele, Mirtes Renata Santana de Souza, havia deixado a criança sob os cuidados da patroa, Sarí Côrte Real, enquanto passeava com o cachorro da família dos chefes.
Sarí se comprometeu a ficar com a criança por 10 ou 15 minutos. Nesse tempo, Miguel quis buscar a mãe e a patroa permitiu que ele entrasse no elevador sozinho. No 5º andar, ela apertou o botão do último piso, mesmo ciente de que a criança buscava o térreo.
Após a entrada de Miguel no elevador, a ex-primeira dama voltou ao apartamento para ser atendida por uma manicure. O menino, de cinco anos, apertou outros botões aleatoriamente e desceu no 9º andar, de onde cairia acidentalmente minutos depois, de uma altura de 35 metros.
Apesar de ter sido presa em flagrante, Sarí foi solta pouco depois, após pagamento de fiança no valor de R$ 20 mil. O processo na justiça seguem até hoje sem conclusão. Quando a morte do menino ocorreu, o marido da patroa, Sérgio Hacker (PSB), era prefeito de Tamandaré, cidade da Zona da Mata sul de Pernambuco.
A família de Miguel questiona pontos do processo. No mês passado, uma testemunha convocada pela defesa de Sarí prestou depoimento sem a presença da equipe que representa a mãe de Miguel, procedimento irregular.
Em outro caso, o Ministério Público do Trabalho acusou o ex-prefeito por improbidade administrativa, após descobrir que ele mantinha Mirtes e a mãe dela, Marta Santana, como funcionárias da Prefeitura de Tamandaré. O casal foi condenado a pagar indenização R$ 386 mil por dano moral coletivo, mas recorreu.
Luta por justiça
Até o próximo sábado, 5, movimentos populares organizam a Semana Internacional Menino Miguel. Serão realizadas atividades em diversos locais do país e virtualmente. Nesta quarta-feira (2), a mãe de Miguel participará de um ato no Recife.
A Caminhada por Miguel terá concentração em frente ao Palácio da Justiça, a partir das 14h. Os manifestantes vão se dirigir até o condomínio de luxo onde o menino morreu. Haverá eventos também em São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Branco, Brasília e Recife.
Em declaração aos movimentos que acompanham o caso, Mirtes afirmou: “Para mim a pior dor foi tomar ciência da linha de defesa que os advogados de Sarí estão operando: o discurso deles busca nitidamente adultizar Miguel e infantilizar Sari”.
A mãe de Miguel considera a narrativa “uma barbaridade, de uma crueldade imensa” e ressalta que os advogados da ex-patroa querem retratar o menino como uma criança incontrolável e responsabilizá-lo pela própria morte.
Uma petição pública pedindo justiça pelo caso já recolheu quase três milhões de assinaturas. Para acompanhar a programação da semana acesse as páginas das organizações Afro Resistance e Coalização Negra por Direitos.
*Brasil de Fato