Testemunha viu carro arrancando e ‘movimentação estranha’ perto de contêiner de lixo onde corpo de menina foi encontrado no RS

O vigilante de uma escola localizada perto do contêiner de lixo onde a menina Kerollyn Souza Ferreira, de 9 anos, foi encontrada morta disse à polícia que viu uma “movimentação estranha” horas antes do corpo ser achado. O caso aconteceu em agosto, em Guaíba, na Região Metropolitana de Porto Alegre.

A Polícia Civil informou a conclusão das investigações na segunda-feira (9), mas o depoimento é visto como um ponto não explicado no caso. O homem foi uma das primeiras pessoas ouvidas. Os pais de Kerollyn foram indiciados.

O vigilante contou que entre 2h e 3h30 estava no seu posto de trabalho, na parte do fundo da escola, quando escutou “um barulho de carro arrancando muito rápido, cantando pneu”. Ele não conseguiu ver o modelo do veículo ou a cor, e afirmou ter estranhado, pois a região costuma ser calma durante as noites.

Ele também conta que, por volta de 0h, viu uma mulher passando pela lixeira e parando um pouco mais à frente, onde ela ficou mexendo no celular. O homem diz que se aproximou cerca de 20 metros, ligou a lanterna e direcionou pra ela, que continuou no celular. O zelador disse que foi até os fundos da escola e, depois, ao voltar, a mulher não foi mais vista.

A polícia não conseguiu descobrir quem era a mulher, descrita como “branca”, que estava usando uma jaqueta “branca ou cinza, com plumagem na gola” e “usava um capuz colorido, provavelmente vermelho”. O homem disse não conhecer Carla Carolina Abreu Souza, a mãe da menina.

As imagens de câmeras de segurança da escola foram usadas para tentar identificar o carro ou a mulher. No entanto, o relatório do policial que analisou os vídeos aponta que eles não eram nítidos o suficiente para ajudar na identificação do carro, visto nas imagens, ou da mulher, que não teria sido captada.

Dúvidas sobre a morte

A perícia aponta a causa da morte de Kerollyn como indeterminada. O Instituto-Geral de Perícias anota, no entanto, que é possível que uma combinação de fatores tenha influenciado na morte.

O perito escreveu que “considera-se causa plausível da morte a hipótese de asfixia mecânica mista, com mecanismo posicional (posição do corpo no contêiner ), obstrução das vias aéreas e confinamento, por causa do efeito do clonazepam, sem descartar a ação hipotérmica adicional”, ou seja, o frio.

A perícia do local de crime encontrou vários medicamentos abertos na casa. A mãe, em depoimento, confirmou que deu clonazepam para a menina. A polícia e a defesa de Carla pediram um exame que pudesse identificar a quantidade de remédio no corpo, o que não foi especificado.

Um carro abandonado que estava em uma praça próxima passou por perícia. Vizinhos disseram em depoimento que várias vezes viram a menina no veículo. A perícia não encontrou sangue.

Como Kerollyn entrou no contêiner

A polícia aponta que Kerollyn entrou no contêiner sozinha. Segundo o delegado regional de polícia Nedson Oliveira, ela procurava um brinquedo.

“A última pessoa que viu a Kerollyn com vida foi um senhor ali por volta das 21h30. A Kerollyn pediu para ele uma lanterna ou uma vela, porque ela queria procurar um brinquedo que estava dentro do contêiner. Foi a última pessoa que viu a Kerollyn com vida. No outro dia, o corpo dela estava dentro do container”, relata o delegado.

A polícia não soube explicar porque a menina estava sem as botas, que foram encontradas ao lado do corpo. As meias que Kerollyn estava, uma branca e outra preta, foram analisadas. Para os peritos, as peças não apresentavam sujidades compatíveis com alguém que tivesse caminhado sem as botas em um chão úmido para entrar no contêiner. O contêiner não passou por perícia.

Indiciamentos

Conforme a polícia, Carla Carolina Abreu de Souza, mãe da menina, responderá por suspeita de maus-tratos com resultado morte e violência psicológica. Ela foi liberada do sistema prisional no fim de semana, segundo a Polícia Penal do RS, e deverá cumprir medidas cautelares.

Já Matheus Lacerda Ferreira, o pai de Kerollyn, será investigado por suspeita de abandono material e violência psicológica. Ele vive em Santa Catarina. A filha chegou a morar com Matheus nos primeiros meses de vida e aos sete anos, contudo, a criança voltou para a casa da mãe.

O inquérito policial foi remetido ao Ministério Público (MP), que decide se acusa ou não os pais de Kerollyn na Justiça. Caso faça isso e o Judiciário aceite a denúncia, os dois começam efetivamente a ser julgados pelo crime.

O que dizem as defesas

A advogada Thais Constantin, responsável pela defesa de Carla Carolina Abreu de Souza, alega que desde o início “foi colocada uma única linha investigativa”. “Se o delegado vem à imprensa e afirma que eles têm convicção que essa criança foi colocada dentro de uma lixeira, e a gente tem um possível indiciamento de maus-tratos e não da questão do homicídio, alguém vai ter que responder quem matou essa criança”, sustenta.

Os advogados Carla Lima e José Luiz Aveline Zanella, que representam Matheus Lacerda Ferreira, afirmaram que “a defesa discorda frontalmente do seu indiciamento por abandono material e violência psicológica”. Eles dizem que ainda que “ao longo da instrução processual, será comprovado que Matheus foi um pai amoroso, com quem Kerollyn sempre manteve grande carinho e afeto”.

Fonte: g1 RS
Foto: Reprodução

Comentar