Como parte da programação da 2ª Semana Municipal da Pessoa com Deficiência, a Sessão Ordinária da terça-feira, 29 de agosto, reservou momentos emocionantes e de superação. Na oportunidade, o espaço da Tribuna Popular foi dedicado às pessoas com deficiência, que puderam relatar suas trajetórias e desafios à comunidade. Os depoimentos foram transmitidos na Língua Brasileira de Sinais, por meio da colaboração voluntária das intérpretes de Libras, Angela Padilha e Angélica Pozzer.
“Tudo o que sei aprendi na faculdade da vida”
Inicialmente, o relato foi da moradora Ana Grassi, que possui deficiência física em decorrência de uma paralisia infantil ainda quando tinha 1 ano e 4 meses. “Sofri a poliomielite, doença que hoje pode ser prevenida com uma simples gotinha, por isso a importância de sempre cuidarmos da vacinação das nossas crianças”, relatou. Ana também contou que sua família mudou do interior para a cidade em busca de melhores condições e oportunidades, contudo os desafios na área urbana também foram e continuam sendo grandes. “Só consegui estudar até a 3ª série. Hoje, tudo o que sei aprendi na faculdade da vida. Juntamente com outras pessoas com deficiência continuamos nossa luta por mais igualdade e acessibilidade. Acessibilidade não é simplesmente uma rampa, é muito mais, é o acesso ao prédio, ao posto de saúde, a calçada, é o respeito no comércio e na sociedade, pois somos todos iguais”, ressaltou.
“Passei por muitos desafios, mas também tive várias conquistas pessoais”
O segundo relato da noite foi do bacharel em Direito, especialista em Direito Criminal e professor de inglês, Guilherme Antônio de Oliveira, que comentou sobre as conquistas alcançadas em prol das pessoas com deficiência nos últimos anos, como as leis Berenice Piana, Antibullying, Antimanicomial, Romeu Mion, o Estatuto da Pessoa com Deficiência e a Lei Brasileira de Inclusão.
Autista nível 1 de suporte, Oliveira também relatou os desafios a serem enfrentados por aqueles que apresentam o espectro autista, tais como, “a reversão do desmonte a que foi submetida a Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da educação inclusiva, desde 2016; combater a chamada indústria do autismo e seus predadores financeiros; combater a criminalização da pessoa com deficiência e lembrar que existem muitos autistas em privação de liberdade”, citou. “Também gostaria de compartilhar alguns desafios pessoais que eu passei, assim como muitas famílias e autistas frederiquenses passam, que foi ter um diagnóstico, entender o diagnóstico e conviver com o diagnóstico, mas também algumas conquistas pessoais, como a conclusão dos estudos até a pós-graduação, a busca constante pela autonomia e a melhora na comunicação, de superar o medo de falar em multidões”, acrescentou Oliveira.
“Por não ter tantos estereótipos, muitas vezes, eu não fui lida como uma pessoa com deficiência”
A Sessão Ordinária ainda contou com o depoimento da acadêmica de Relações Públicas da UFSM/FW, Luana Keny, que também é integrante da Associação Nacional para Inclusão de Pessoas Autistas (Ania), participante da Associação Regional de Pais e Amigos dos Autistas Miguel e do Movimento Vidas Negras com Deficiência Importam. Atualmente trabalhando na área da comunicação antirracista e diagnosticada, aos 20 anos, como autista entre os níveis 1 e 2 de suporte, Keny argumentou sobre as dificuldades confrontadas na primeira infância e na sua adolescência enquanto uma pessoa autista, dentre elas, os sinais de introversão, timidez e a dificuldade em se comunicar oralmente com as outras pessoas. “Com o tempo eu também acabei me tornando muito boa com o masking social, que é algo muito conhecido, principalmente, entre as mulheres que estão dentro do espectro autista. Elas, em sua maioria, conseguem disfarçar muito bem que são pessoas autistas, e principalmente pelo autismo ser uma deficiência invisível, nós conseguimos nos adaptar melhor ao que as demais pessoas estão fazendo. Então, por exemplo, se eu acabo notando que mexer no cabelo é algo socialmente aceito, eu imito esse gesto. Isso acaba tornando o diagnóstico um pouco mais complicado, uma vez que eu estou camuflando os sintomas. Por não ter tantos estereótipos, muitas vezes, eu não fui lida como uma pessoa com deficiência”, relatou.
Após os relatos, um vereador de cada bancada também fez sua manifestação, destacando os desafios enfrentados, a superação das pessoas com deficiência e a necessidade de mais respeito, igualdade e de política públicas.
Com informações da Ascom da Câmara de Vereadores de FW.