Nego Di debochava das vítimas de estelionato investigado pela Polícia Civil, dizem delegados

A Polícia Civil gaúcha realizou uma coletiva de imprensa, neste domingo (14), presidida pelo chefe de Polícia, delegado Fernando Sodré, concedida no Palácio da Polícia, em Porto Alegre, sobre o caso da prisão do influenciador Dilson Alves da Silva Neto, o Nego Di.

Segundo Cristiano Reschke, diretor da 2ª Delegacia de Polícia Regional Metropolitana, com sede em Canoas, que também participou da manifestação da polícia aos jornalistas, ressaltou que o humorista usava de deboche para se referir aos clientes, em vídeos que foram obtidos pela Polícia Civil.

“Há inclusive vídeo em que Nego Di se manifesta de forma debochada brincando em relação as pessoas que não receberam os bens, enquanto se desloca em carro de luxo, uma Mercedes branca, conversível, chegando em seu restaurante”, comentou Reschke.

g1 entrou em contato com a defesa do humorista, mas não teve retorno sobre esta declaração do delegado até a publicação desta reportagem.

Nego Di foi preso pela Polícia Civil do RS neste domingo, na praia de Jurerê Internacional, em Florianópolis, Santa Catarina. Na última sexta (12), ele havia sido alvo de uma operação do Ministério Público por suspeita de lavagem de dinheiro.

Ele deve ser transferido para Porto Alegre ainda no domingo, após a audiência de custódia.

A prisão preventiva foi decretada por outra investigação, deste estelionato, realizada pela Polícia Civil desde 2022.

Ele é suspeito de lesar pelo menos 370 pessoas com a venda de produtos por meio de uma loja virtual da qual é proprietário – mas os produtos nunca foram entregues. A apuração da Polícia Civil indica que a movimentação financeira em contas bancárias ligadas a ele na época, em 2022, passa de R$ 5 milhões.

Sócio está foragido

Anderson Bonetti, o sócio de Nego Di, também é suspeito de estelionato, e está foragido com mandado de prisão preventiva expedido.

Boneti também teve a prisão preventiva decretada pela Justiça, no ano passado. Ele foi preso na Paraíba em 25 de fevereiro de 2023, mas solto dias depois.

A reportagem do g1 não teve acesso à defesa de Bonetti.

Investigação

A loja virtual, “Tadizuera“, operou entre 18 de março e 26 de julho de 2022 – ocasião em que a Justiça determinou que ela fosse retirada do ar. Nego Di fazia a divulgação em seus perfis nas redes sociais dos produtos à venda, como aparelhos de ar-condicionado e televisores, muitos deles com preços abaixo do de mercado – uma televisão de 65 polegadas, por exemplo, era vendida a R$ 2,1 mil.

Parte dos seguidores do influenciador comprou os produtos, mas nunca recebeu, de acordo com a Polícia Civil. A investigação aponta que não havia estoque, e que Nego Di enganou os clientes prometendo que as entregas seriam feitas, apesar de saber que não seriam. Ainda assim, movimentou dinheiro que entrava nas contas bancárias da empresa.

A Polícia Civil afirma que tentou por diversas vezes intimar Nego Di para prestar esclarecimentos, mas ele nunca foi encontrado.

As autoridades policiais estimam que o prejuízo dos 370 clientes lesados seja superior a R$ 330 mil, mas como as movimentações bancárias são milionárias, a suspeita é de que o número de vítimas do esquema seja maior e inclua pessoas que não procuraram a polícia para representar criminalmente contra o influencer.

Antes da prisão, Nego Di se manifestou na sua conta de X, o antigo Twitter. “Estávamos preparados para o que aconteceu ontem [sexta]. Nós sabíamos que iria acontecer mais cedo ou mais tarde, e todo mundo sabe o porquê do que aconteceu ontem”, escreveu ele.

Promoção de rifas virtuais

A operação realizada na sexta-feira investiga a suspeita de irregularidades em sorteios virtuais. Com prêmios atraentes, como dinheiro instantâneo via PIX, celulares, videogames e até carros, Nego Di encontrou nas promoções uma forma de engajar o público e ganhar dinheiro. No entanto, segundo o MP, o esquema envolve lavagem de dinheiro.

Em uma das promoções, Nego Di anunciou:

“Seguinte, internautas: 30 mil no Pix, mais um iPhone 15 + 1 PlayStation 5 por apenas 15 centavos, e já foi 50%. E o que mais tem pra quem tá achando tendo pouco? É mil na hora no Pix, pai. Compra rápido, porque isso aí já tá assim, ó, se encaminhando pra finaleira. Resultado pela loteria federal e sem trampa vai tudo f*…”, comunica.

As promoções envolveram também a oferta de uma Porsche, anunciada da seguinte forma pelo influenciador: “A Porsche pode ser tua por apenas 0,99 centavos. Vai levar essa pra casa com 10 bilhetes premiados valendo 10 mil cada”.

O que parecia ser uma oportunidade de prêmios acessíveis se transformou em uma investigação. Em janeiro, ao promover o sorteio de um carro de luxo blindado, Nego Di chamou a atenção do MP.

Na sexta-feira (12), ele e a esposa, Gabriela Sousa, foram alvos de uma operação que aconteceu em Santa Catarina. A mulher foi presa em flagrante por porte de arma de uso restrito, mas pagou fiança de R$ 14 mil e foi liberada.

Em nota após a operação, os advogados do casal afirmam que não tiveram acesso aos autos dos inquérito.

A investigação revelou que os depósitos dos sorteios de Nego Di eram canalizados para contas vinculadas à sua esposa, empresas em nome do casal e até parentes. A movimentação financeira chegou a R$ 2,6 milhões.

Segundo o promotor de Justiça da 8ª Promotoria de Justiça Especializada Criminal, Flávio Duarte, o esquema caracteriza lavagem de dinheiro. De acordo com ele, “todos os valores oriundos das rifas realizadas por esse influenciador são ilícitos“:

“Esses valores ingressavam inicialmente na conta de uma terceira pessoa, depois eventualmente retornavam para uma empresa e somente depois que já estavam incorporados na empresa, dando uma aparência de lícito e ao mesmo tempo se distanciando daquele valor que se sabia que era ilegal, oriundo de uma contraversão penal, ele adquiriu os bens. Todo esse mecanismo, toda essa dissimulação, esse distanciamento da origem delituosa configura o crime de lavagem de dinheiro“, explica Duarte.

Os investigadores descobriram que Nego Di usou parte dos recursos para adquirir dois carrosavaliados em mais de R$ 630 mil.

O MP investiga se esse veículo foi sorteado e onde ele se encontra. O promotor ainda indica que não havia nenhum tipo de controle sobre as rifas e nem uma data para o sorteio.

“No meio da ação (do sorteio), ele vendeu o veículo e não houve demonstração que tenha ocorrido um sorteio. Esse carro foi vendido dele diretamente por uma empresa parceira dele de negócios. Mesmo depois da venda desse veículo para uma revendedora, continuaram entrando nas contas dele valores referentes à rifa”, esclarece Duarte.

Fonte: g1 RS

Foto:  Divulgação/Polícia Civil  do  RS

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