Cirurgias bariátricas crescem no Brasil e números da obesidade preocupam

O último levantamento feito pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Metabólica e Bariátrica (SBCBM) aponta um aumento de 84,73% no número de cirurgias bariátricas realizadas no Brasil. Em 2011 foram realizadas 34,6 mil procedimentos desse tipo no país. Já em 2018, o número aumentou para 63,9 mil. 

Especialistas apontam que os principais fatores que explicam o aumento dos números são os avanços tecnológicos da medicina em relação ao procedimento, além do domínio da técnica por parte dos cirurgiões. “Isso diminuiu muito o número de complicações da cirurgia e consequentemente resultou na baixa mortalidade. Além disso, temos que citar os excelentes resultados a longo prazo da cirurgia para controle dessa doença grave chamada obesidade mórbida”, explica o cirurgião bariátrico José Eduardo Queiroz de Carvalho.

Os números são mesmo preocupantes: a Pesquisa Nacional de Saúde 2019, realizada pelo IBGE, mostra que, entre 2003 e 2019, a proporção de obesos na população com 20 anos ou mais de idade do Brasil mais que dobrou, passando de 12,2% para 26,8%. “A obesidade mórbida é uma doença crônica multifatorial. Ela tem causas biológicas, sociais, psicológicas, comportamentais, não se sabe ao certo qual é o fator principal. É uma doença que nao respeita idade, sexo, cor e condição socioeconômica”, ressalta José Eduardo.

O médico também alerta sobre as doenças associadas à obesidade. “Hipertensão arterial, diabete, apneia do sono e problemas nas articulações são alguns exemplos. O importante para o paciente que tem obesidade mórbida é que entenda esse processo e que é uma doença crônica, o que significa que não tem cura, mas tem tratamento”, destaca.

Cirurgia bariátrica é alternativa efetiva 

Uma das fases mais importantes do tratamento para a obesidade mórbida é a cirurgia bariátrica. Conforme explica José Eduardo, existem dois tipos de operação: a cirurgia mista, que tem caráter restritivo, e faz uma redução do estômago e uma emenda com o intestino delgado. “Os pacientes submetidos a essa cirurgia têm uma restrição alimentar maior, é necessário ter um controle de vitaminas e controle laboratorial mais seguido do que os pacientes que fazem o outro tipo”, explica o cirurgião.

Já na cirurgia restritiva, se mexe somente no estômago. “É feito um corte no estômago e se diminui bastante o seu volume. Esse paciente tem uma capacidade um pouco maior ingerir alimentos, principalmente sólidos, como a carne. E eles também têm um controle um pouco melhor no pós operatório”, esclarece. 

Muito se fala na recuperação da cirurgia, que precisa ser criteriosa para o resultado efetivo. José Eduardo ressalta que ela começa antes mesmo da operação ser feita. “O primeiro passo é procurar uma equipe especializada, com o cirurgião, psicólogos, nutricionistas, cardiologistas e demais profissionais, para que ela possa ter um atendimento adequado. A recuperação depende do entendimento do paciente sobre a cirurgia e sobre a questão da doença em si. É muito importante que o paciente crie uma aderência com a equipe que o trata para que ele possa seguir no pós operatório”, explica. 

Ainda segundo o médico, as revisões que acontecem no pós operatório, que começam uma semana depois da cirurgia e seguem uma vez por mês por pelo menos 6 meses e depois o acompanhamento é de pelo menos duas vezes ao ano. “É muito importante pro paciente que ele siga sendo acompanhado praticamente pelo resto da sua vida com a equipe que escolheu, para que possa ter um resultado adequado”, reforça.

Segundo o profissional, a preparação do ponto de vista psicológico e nutricional antes da cirurgia é tão importante quanto o acompanhamento depois da operação. “Esse acompanhamento é pro longo prazo, não existe uma data específica para que o paciente tenha alta. Como é uma doença crônica, esse paciente tem que se tratar pro resto da vida. É importante que eles façam esse acompanhamento com uma equipe multidisciplinar e que tenha experiência”, destaca José Eduardo. “A cirurgia é parte do tratamento, uma parte importante e quem trazido ao longo dos anos excelentes resultados para o controle dessa doença. Ela não tem cura, mas tem tratamento e esses pacientes podem ter uma vida adequada e feliz com o controle da doença”, finaliza.

 

*Correio do Povo