A comissão EAT-Lancet publicou em 2019 um documento denominado ‘Alimento, Planeta, Saúde’, resultado de uma série de pesquisas sobre dietas que sejam saudáveis e também uma produção sustentável. O trabalho deriva da produção de 37 cientistas de 16 países das mais diferentes áreas, alertando que o sistema agroalimentar atual é um grande impulsionador da degradação ambiental, ameaçando o equilíbrio climático do planeta.

A comida é a alavanca mais forte para otimizar a saúde humana e a sustentabilidade ambiental na Terra. Para muitos cientistas, a atual forma como os seres humanos estão produzindo e consumindo os alimentos ameaça tanto a saúde das pessoas como o meio ambiente. Há um imenso desafio de fornecer a uma população mundial crescente com dietas saudáveis a partir de sistemas alimentares sustentáveis.

A agricultura atual, chamada de ‘agronegócio’ realizada em grandes extensões, pouca diversificação, baseado no uso de agrotóxicos e usando pouca mão de obra, busca unicamente o lucro, ameaça a estabilidade climática e a resiliência dos ecossistemas. A produção apenas como negócio é uma parte da crise climática devido a suas altas taxas de emissão de Gases de Efeito Estufa.

António Guterres, o secretário-geral das Nações Unidas, chamou as mudanças climáticas de “a questão definidora do nosso tempo”. Em setembro de 2018: “Se não mudarmos nossa rota até 2020, corremos o risco de deixar passar o momento em que é ainda possível evitar uma mudança climática desenfreada (runaway climate change), com consequências desastrosas para a humanidade e para os sistemas naturais que nos sustentam”.

É importante destacar que precisamos da Agricultura (não do agronegócio) para nos alimentar; a agricultura é muito dependente de fatores não humanos, isto é, de chuvas sazonais em quantidades regulares e de um sistema climático minimamente estabilizado: não adiante termos a melhor genética de plantas e animais, equipamentos da última geração etc., se houver secas ou enchentes. Dai que, chuvas regulares e clima favorável dependem, por sua vez, da conservação das florestas e das demais coberturas vegetais nativas. Por isso a importância de conservar e plantar mais florestas que reciclam a umidade proveniente dos oceanos, estabilizam as chuvas, refrigeram o clima, preservam a fertilidade dos solos e mantêm a biodiversidade, sem a qual não temos dispersores de sementes, polinizadores, fungos e micro-organismos necessários à reprodução das plantas.

O relatório Lancet menciona evidências científicas substanciais que vinculam dietas à saúde humana e à sustentabilidade ambiental. A ciência nos alerta sobre as urgentes necessidades de repensar a nossa alimentação, que possa beneficiar a saúde das pessoas e o planeta. Por isso é necessário que:
1) países desenvolvidos reduzam o consumo de carne.
2) todos reduzam o desperdício alimentar já que 1/3 dos alimentos antes de consumir vão parar no lixo e
3) se modifique os métodos de produção para reduzir a desmatamento e o consumo de água.

A transformação para dietas saudáveis até 2050 exigirá mudanças substanciais na dieta. O consumo geral de frutas, vegetais, nozes e legumes terá que duplicar, e o consumo de alimentos como carne vermelha e açúcar terá que ser reduzido em mais de 50%. Uma dieta rica em alimentos à base de plantas e com menos alimentos de origem animal confere benefícios à saúde e ao meio ambiente.

Sem ação, as crianças de hoje herdarão um planeta gravemente degradado e onde grande parte da população sofrerá cada vez mais desnutrição e doenças evitáveis.

Relatório EAT-Lancet disponível em: https://irp-cdn.multiscreensite.com/63a687e5/files/uploaded/EAT-Lancet_Commission_Summary_Report_Portugese.pdf

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