No meio de junho, pouco mais de um mês depois do início das enchentes e da maior catástrofe climática da história do Rio Grande do Sul, que registrou mais de 180 mortes, o governo gaúcho confirmou que manteria a realização da Expointer, a tradicional feira de agronegócio que acontece desde a década de 1970.
A Expointer começa neste sábado (24) e tem programação até o dia 1º de setembro. Nesta 47ª edição, a feira busca superar as perdas da tragédia do começo do ano.
É uma Expointer da retomada, símbolo de resiliência e força do povo gaúcho. Acho que esse ano, mais do que pensar em quebrar recordes, é simbolizar essa resistência.
-Eugênio Zanetti, vice-presidente da Fetag-RS (Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul)
Feira começa neste sábado. Segue até o dia 1º de setembro, o parque estadual de exposições Assis Brasil, em Esteio, região metropolitana de Porto Alegre, que ficou cerca de 20 dias debaixo d’água, abre as portas tentando ser marco de superação e retomada, antes de visar bater recordes, segundo a subsecretária do parque, Elizabeth Cirne Lima.
Expointer bateu recorde de público e negócios em 2023. No ano passado, o evento registrou a maior marca de público de sua história, com 822.340 visitantes em uma semana, e em negócios, chegando a quase R$ 8 bilhões na comercialização de produtos da agricultura familiar, animais, insumos e máquinas e implementos agrícolas, setor responsável pela maior fatia da cifra. Neste ano, no entanto, não há expectativas de recordes.
Quando nós confirmamos a realização da Expointer 2024, não tínhamos expectativa de bater número ou ser maior que nos anos anteriores. A gente simplesmente entendia a necessidade de ter o parque em condições de realizá-la, porque é um evento que movimenta de forma muito expressiva e necessária todo o setor do agro. Acho que devemos chegar no final com um número entre R$ 5 e 8 bilhões de negócios realizados.
-Elizabeth Cirne Lima, subsecretária do Assis Brasil
Enchente impactou a produção. A diferença para o período da pandemia, quando a feira adotou formato online e até mesmo drive-thru para venda de produtos da agricultura familiar, por exemplo, é a extensão dos impactos materiais que atingiram expositores e parte significativa da produção gaúcha, na avaliação dela.
Apesar dos esforços para recuperação, clima é positivo entre os expositores. Com maior carga de trabalho para a preparação de estruturas do que em anos anteriores, segundo a subsecretária, o clima dentro do parque ainda assim tem sido positivo e parece indicar uma edição forte. O número de animais inscritos cresceu em média 40% com relação ao ano passado.
A maior parte são animais que vem para julgamento e comercialização. Por conta das enchentes, a gente deixou de ter eventos, feiras, exposições, esses animais estão em casa, precisando trazer para comercialização.
Elizabeth Cirne Lima, subsecretária do Assis Brasil
Enchentes estão em pauta. O tema da catástrofe natural, que chegou a deixar mais de meio milhão de pessoas desalojadas, também estará presente em mesas e palestras durante o evento, incluindo discussões sobre as consequências para os animais.
”As empresas rurais, na sua grande maioria, são empresas a céu aberto. A gente fica muito à mercê das alterações climáticas, tanto pecuária, como agricultura. Vínhamos de três anos seguidos de seca, tínhamos uma expectativa de um ano um pouco mais chuvoso, e tivemos a destruição de algumas áreas do estado por conta de enxurrada”, lembra Cirne Lima. ”A gente tem que se preparar para um próximo momento, que não sabemos quando poderá acontecer.”
Agricultura familiar
Aumento do número de inscritos. O pavilhão da feira destinado à produção da agricultura familiar também registrou um aumento de empreendimentos inscritos com relação ao ano passado — serão 413 em 2024, 41 expositores a mais do que em 2023, quando o setor movimentou R$ 8,6 milhões em comercialização na feira.
O número de empreendimentos liderados por mulheres e jovens também cresceu em comparação ao ano passado. Em 2024, serão 217 negócios liderados por mulheres, superando os 148 do ano passado. Estarão presentes, ainda, 126 jovens na liderança de empresas; em 2023, foram 87. O espaço também contará com 69 estreantes, de acordo com dados da Secretaria de Desenvolvimento Rural.
Antes das enchentes, a gente já entendia que era necessário ampliar a área de expositores no pavilhão da agricultura familiar porque sempre tinha uma demanda reprimida que não conseguíamos receber. Expositores que queriam estar na Expointer e já não tinham vaga.
Elizabeth Cirne Lima, subsecretária do Assis Brasil
Prejuízos causados pelas enchentes impactaram a agricultura familiar. Um relatório feito pela Emater/Ascar (Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural), e divulgado pelo governo gaúcho em junho, apontou que a catástrofe climática afetou mais de 206 mil propriedades rurais no estado. O levantamento estima ainda mais de 19 mil famílias com perdas de estrutura nas propriedades e cerca de 200 empreendimentos familiares com prejuízos.
Fonte: Uol