No Rio Grande do Sul, de janeiro a novembro deste ano, foram 47,7 mil registros de lesão corporal e ameaça contra mulheres. Os dados são da Secretaria da Segurança Pública do Estado.
O número de ocorrências de lesão corporal aumentou 9,3% no comparativo com o mesmo período do ano passado. Foram 17.739 mulheres agredidas nestes 11 meses. É como se a cada 27 minutos uma mulher gaúcha fosse agredida. Da mesma forma, as notificações de ameaças subiram 6%. Se considerarmos os registros policiais, a média é de um caso de agressão ou ameaça a cada dez minutos. Porém, os estudos de violência doméstica indicam que aquilo que é reportado à polícia está longe de representar o número real.
Diferentemente dos casos de feminicídios, que em geral não são subnotificados, quando se trata de outros tipos de violência, uma minoria chega ao conhecimento das autoridades. A maioria das mulheres ainda não consegue romper o silêncio. É por isso que, na visão da delegada Cristiane Ramos, titular da Divisão de Proteção à Mulher (Dipam) no Estado, a elevação dos registros pode ser vista como positiva.
— Há muita subnotificação. Quando a gente tem um aumento no registro me parece que talvez estejam se sentindo mais acolhidas pela rede de atendimento — avalia.
Segundo a delegada, a Polícia Civil investiu em cursos de atendimento e enfrentamento aos feminicídios para qualificar os policiais que atendem às vítimas. Em Porto Alegre, houve aumento do número de servidores no plantão, na tentativa de reduzir o tempo de espera por atendimento e impedir que as mulheres desistam de registrar.
— A gente oferecer um atendimento mais célere, mais qualificado, faz com que mais mulheres registrem ocorrência. É muito positivo isso — diz a delegada.
Promotora de Justiça do Ministério Público, coordenadora do Centro de Apoio Operacional de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher, Ivana Battaglin, ressalta que os dados de violência doméstica contra mulheres têm aumentado de maneira geral no país. Ela ressalta que a criação masculina, que ainda reforça estereótipos como o de que homens não choram, devem brigar e não demonstrar sentimentos auxiliam a perpetuar a cultura que resulta em conflitos e atos violentos.
— O aumento tem duas perspectivas: elas estão denunciando mais, mas também estão sofrendo mais violências. O fato de que se fala mais no assunto mostra às mulheres a possibilidade de denúncia. Aquelas que sofriam caladas estão começando a falar. Mas também está aumentando a violência. As mulheres estão mais cientes de seus direitos. Os homens, por outro lado, não estão preparados para essa independência. Estamos criando meninos como eram criados há 50 anos. Não ensinamos outra forma de masculinidade para os homens que não seja a violência — alerta Ivana.
Outra preocupação, segundo a promotora, é com a redução de investimentos em políticas públicas para proteger as mulheres, a nível nacional.
— Toda a rede precisa estar equipada e trabalhando junto. Tudo exige investimento. Essa mulher precisa ter uma rede de proteção, de apoio, que passa pela família, amigos e sobretudo o Estado. Às vezes precisa sair de onde está. É um local perigoso. Precisa encontrar creche, vaga na escola para os filhos. Ela precisa de políticas públicas que fomentem a inclusão dela no mercado de trabalho. São muitas as políticas que podem auxiliar a mulher a sair da violência. A condenação do agressor é importante, mas tão somente ela não vai resolver — diz a promotora.
Onde pedir ajuda
Brigada Militar
- Telefone – 190
- Horário – 24 horas
- Serviço – atende emergências envolvendo violência doméstica em todos os municípios. Para as vítimas que já possuem medida protetiva, há a Patrulha Maria da Penha da BM, que fiscaliza o cumprimento. Patrulheiros fazem visitas periódicas à mulher e mantêm contato por telefone.