É #FAKE que os gráficos de apuração dos votos no primeiro e no segundo turno das eleições de 2022 indicam fraude

Circula a informação de que os gráficos de apuração dos votos no primeiro e no segundo turno das eleições de 2022 indicam que houve fraude. Tome cuidado, essa notícia é falsa!

Principalmente nas redes sociais, usuários compartilharam imagens dos gráficos de apuração nos dias 2 e 30 de outubro e apontam, sem qualquer evidência, que a virada de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre Jair Bolsonaro (PL), que aconteceu em momentos parecidos nos dois turnos, indica manipulação. A fala é afirmada também em diversos vídeos de manifestantes responsáveis pelos bloqueios das estradas de todo o Brasil, que acontecem desde o final de domingo, dia 30, e que tem como principal pauta a suposta fraude eleitoral.

No entanto, não é bem assim. No primeiro turno, logo que as urnas foram abertas, às 17h, Bolsonaro saiu na frente, com 48,6% dos votos válidos. No mesmo momento, Lula tinha 41,54% dos votos. Bolsonaro manteve a frente até as 20h, quando 66,67% das urnas estavam apuradas. Foi nesse momento que o candidato do PT ultrapassou o atual presidente e assumiu a liderança com 45,74% dos votos válidos, contra 45,51% para Bolsonaro. Lula manteve a frente e abriu vantagem. Quando a apuração se encerrou, o petista tinha 48,43% dos votos válidos, enquanto Bolsonaro tinha 43,20%, com uma diferença de pouco mais de 6,1 milhões de votos.

Já no segundo turno, quem saiu na frente da disputa foi o candidato Lula, com 57,3% dos votos, contra 42,7% para Bolsonaro. Lula manteve a posição apenas até 17h07, e na atualização seguinte, Bolsonaro passou a frente com 54,78% dos votos válidos, contra 45,22% para o candidato do PT. O atual presidente ampliou a vantagem até às 17h16, quando a diferença começou a cair. Lula passou novamente à frente às 18h44, ficando com 50,01% dos votos, contra 49,99% para Bolsonaro. Neste momento, 67,76% das urnas estavam apuradas.

A partir daí, Lula manteve a frente e conseguiu ampliar ligeiramente a vantagem sobre o adversário até o final da apuração, que deu a vitória ao petista por 50,9% dos votos contra 49,1% para Bolsonaro. No segundo turno, Lula obteve 60.345.999 votos, pouco mais de 2,1 milhões a mais do que o atual presidente. Embora a diferença de percentual entre eles tenha diminuído, o petista conquistou 3 milhões de votos a mais do que no primeiro turno.

Um argumento comum entre os que apontam fraude com base no gráfico é a “linearidade” dele, ou seja, o fato de não aparecerem altos e baixos, oscilações entre os dois candidatos. Alguns comentários nos posts virais tentam comparar o gráfico de apuração no Brasil com os gráficos nos Estados Unidos, supostamente cheio de oscilações entre os candidatos. Mas essa não é uma comparação plausível, para os especialistas. Primeiro, pelo tempo de apuração, e depois pela forma como os votos são contabilizados aqui e lá.

No Brasil, a apuração acontece rapidamente, já que o voto é feito em urnas eletrônicas. A contagem, então, é feita voto a voto e por seção eleitoral, não por grandes blocos. Ou seja, a totalização é feita à medida que os votos das seções eleitorais vão chegando, e não por colégios, como acontece nos Estados Unidos. Lá, por exemplo, os votos dos delegados de cada estado são enviados em bloco, e quando um estado com maior “peso” na totalização soma seus números, é comum que haja uma oscilação maior.

O estatístico Carlos Miranda, ouvido pelo Estadão, afirma que se aqui no Brasil tivesse lugares muito ermos, de difícil acesso, que os votos demorassem a chegar e que significassem uma grande leva, quando esses votos chegassem, eles provocariam um salto mais visível no gráfico – para cima ou para baixo. No entanto, nas eleições brasileiras, os saltos são do tamanho dos boletins de urna, que não possuem um número grande o suficiente para ocasionar mudanças visíveis no gráfico.

O Estadão também conversou com Neale El-Dash, fundador e diretor metodológico do Polling Data e doutor em Estatística pela Universidade de São Paulo (USP). Ele explica que o comportamento dos gráficos é esperado e não mostra nenhum tipo de fraude. El-Dash diz que o gráfico começa com um desbalanço porque depende da hora e de como chegam as urnas que serão apuradas, e depois vai entrando em equilíbrio. O comportamento em si é totalmente esperado, não mostra nada de fraude. Há também o aspecto das regiões que são apuradas primeiro, já que em alguns estados determinado candidato tem maior número de votos e outro não.

Desde 1996, quando as urnas eletrônicas começaram a ser implantadas no País, nenhum caso de fraude eleitoral foi comprovado. Em 2022, o TSE convidou um número recorde de observadores internacionais, autoridades estrangeiras que contribuem para a transparência do sistema eleitoral brasileiro.

Após o primeiro turno, diferentes auditorias externas comprovaram que não ocorreu qualquer fraude. Em resposta ao Comprova, o Tribunal de Contas da União (TCU), o Ministério Público Federal (MPF), a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) afirmaram não terem encontrado vulnerabilidades capazes de trazer insegurança ao processo. Manifestação no mesmo sentido, por parte da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade de São Paulo (USP), Sociedade Brasileira de Computação (SBC) e Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep), foram localizadas em documentos e notas disponíveis na internet.

Este conteúdo também foi verificado pelo portal Yahoo. No primeiro turno, o Projeto Comprova mostrou que a totalização de votos a cada 12% não indicava fraude.

*Com informações do Estadão Verifica 

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