Áudios do Superior Tribunal Militar mostram tortura na ditadura do Brasil

A jornalista Míriam Leitão, colunista do jornal “O Globo”, publicou neste domingo, 17, a udios de sessões do Superior Tribunal Militar (STM), que mostram relatos de tortura durante o período da ditadura militar (1964-1985).
Na primeira semana de abril, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL), filho do presidente Jair Bolsonaro, debochou da tortura que Miriam enfrentou durante a ditadura.

Ao todo, são mais de 10 mil horas de gravações, e os áudios foram analisados pelo historiador Carlos Fico, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Nos áudios, por exemplo, um general defende a apuração do caso de uma uma grávida de 3 meses que sofreu aborto após choques elétricos na genitália; e um ministro denuncia uma confissão de roubo a banco obtida a marteladas – o suspeito estava preso à época do crime.
O g1 tentou contato com as assessorias do Exército e do Ministério da Defesa, mas não conseguiu até a última atualização desta reportagem.
Neste domingo, o presidente da Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado, Humberto Costa (PT), informou que solicitará acesso aos áudios, para tomada de possíveis providências.
“A exposição das gravações em que ministros do STM admitem tortura é uma assunção cabal do Estado sobre tudo o que cometeu durante o regime militar”, declarou o petista em uma rede social.
Em entrevista a “O Globo”, Carlos Fico explicou que, em 2006, o advogado Fernando Fernandes pediu ao STM acesso às gravações, mas não conseguiu e, então, acionou o Supremo Tribunal Federal, que determinou a liberação do conteúdo. O STM, porém, acrescentou Fico a “O Globo”, não obedeceu a decisão e, em 2011, a ministra Cármen Lúcia determinou o acesso irrestrito aos autos, decisão posteriormente referendada pelo plenário.
Por telefone, o professor informou ao g1 que desde 2018 analisa os áudios e já está na metade do processo, o que abrange o período entre 1975 e 1979. Carlos Fico acrescentou ainda que, embora algumas pessoas tentem negar que houve tortura na ditadura, cabe aos historiadores apresentar a história como ela é.
“Quando a gente vive tempos traumáticos, algumas pessoas tendem a criar memórias que as apaziguem com o passado. Outra coisa é a história. Não há dúvida que houve tortura, isso é óbvio. É até um pouco reiterativo, repetitivo dizer que houve tortura. Houve. Ponto final. Claro que houve. Outra coisa é a memória que algumas pessoas constroem, de negação da tortura”, disse o historiador.
Em dezembro de 2014, a Comissão Nacional da Verdade divulgou um relatório no qual responsabilizou 377 pessoas por crimes cometidos durante a ditadura, entre os quais tortura e assassinatos. O documento também apontou 434 mortos e desaparecidos na ditadura; e 230 locais de violações de direitos humanos.
Em manifestação divulgada na ocasião, o Clube Militar chamou o relatório de “coleção” de “calúnias” e de “absurdo”.

 

G1**

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