Uma consciência negra para todos

Instituído pela lei federal 12.519 no ano de 2011 durante o governo de Dilma Roussef, o dia Nacional da Consciência Negra passou a ser comemorado no Brasil todo 20 de novembro. Mais do que uma parte sangrenta de nossa história, a data é marcada pela morte do negro Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares símbolo da luta em busca a liberdade e a
valorização do povo preto.
Com a chegada do mês de novembro ainda me assusto ao ouvir de algumas pessoas por que não comemoramos a semana da consciência humana. Quem não entende o que foi a escravidão e o peso disso até os dias de hoje, não entende o que é Brasil.

Em 2019, os negros (soma dos pretos e pardos da classificação do IBGE) representaram 77% das vítimas de homicídios, com uma taxa de homicídios por 100 mil habitantes de 29,2. Comparativamente, entre os não negros (soma dos amarelos, brancos e indígenas) a taxa foi de 11,2 para cada 100 mil, o que significa que a chance de um negro ser assassinado é 2,6 vezes superior àquela de uma pessoa não negra. Em outras palavras, no último ano, a taxa de violência letal contra pessoas negras foi 162% maior que entre não negras. Da mesma forma, as mulheres negras representaram 66,0% do total de mulheres assassinadas no Brasil, com uma taxa de mortalidade por 100 mil habitantes de 4,1, em comparação a taxa de 2,5 para mulheres não negras.
Se essas porcentagens não te assustam, você já está normalizado assim como boa parte da população Brasileira. Na véspera do dia da Consciência Negra de 2020, na noite do dia 19, mais um homem negro foi espancado até a morte por seguranças do Mercado Carrefour em Porto Alegre, mais um nome que virou estatística e será esquecido pelo sistema.
A consciência preta não é só para o preto, é uma luta de todos, devemos desmistificar todos os dias a consciência humana e o mito da democracia racial. Precisamos falar sobre o racismo cada vez mais e não tratá-lo como uma pauta exclusiva dos movimentos sociais negros, é uma responsabilidade social de todos. Essa é uma ferida aberta, o racismo é uma consequência histórica, hoje no Brasil, a cor do medo é negra.
É impossível tratar como igual os desiguais, mais do que movimentos nas redes sociais BLM (Black Lives Metter) com militância seletiva, devemos ter consciência negra todos os dias. É necessário abrirmos nossos olhos para o racismo que nos cerca e nos posicionarmos para construirmos um país que queremos, um país representativo e inclusivo, um país que pare de nos matar. O povo preto até hoje nada mais é que sobrevivente, sobrevivemos à escravidão, ao genocídio negro, sobrevivemos todos os dias ao descaso além da desigualdade. Somos consciência de uma luta e seremos resistência ate de fato, sermos livres.

 

Por: Lavínia Machado