Sopa que faz bem: trabalho voluntário transforma cotidiano de comunidades

Para alimentar o corpo e também a mente. São esses os resultados esperados com as atividades da Casa da Sopa, em Iraí. É no alto de um morro, na Vila Militar, onde pelo menos 50 pessoas – em sua maioria crianças – recebem aos sábados um prato de comida.

Logo depois das 10 horas, dona Salete Barbosa começa os preparativos do cardápio do dia, que será servido a partir das 11h30.

Embora a instituição leve o nome do primeiro prato oferecido no local, há quatro anos, os voluntários preparam os alimentos que conseguirem. “É tudo vindo de doações, feitas pelo povo, pela sociedade”, explicou o coordenador da Casa da Sopa, Glenio Barbosa.

Do sonho à realidade
Foi pelo empenho de Glenio e da esposa, Salete, que a instituição passou da condição de sonho para a realidade. O casal juntou dinheiro e comprou uma casa de madeira para transformá-la em uma igreja de sua religião. Com o passar do tempo, eles puderam construir um refeitório no porão e foi aí que tudo começou. “Aqui é desenvolvido um trabalho da Igreja Evangélica Assembleia de Deus, cujo pastor-presidente é Peri Brizola. Nessa comunidade, eram os excluídos dos excluídos, e nós tínhamos o desejo de mudar isso, o que fizemos depois que me aposentei”, resumiu Glenio.

Antes do horário do almoço, crianças e adolescentes são incentivadas a brincar, ler, cantar e praticar esportes. Kelly Talita, 7 anos, frequenta a instituição todos os sábados e disse que aprecia tanto a comida quanto as atividades. “Gosto de vir para brincar, ver os amigos e comer bombons”, contou a menina.

A mãe dela, Franciele Portella, de 25 anos, também aprova as ações. “É um trabalho muito interessante, eles ensinam muita coisa para as crianças”, destacou.

Futuras profissões
A ideia, futuramente, é implementar frentes de trabalho em um pavilhão doado por uma construtora. “Queremos despertá-las para uma profissão. Assim que estiver pronto, queremos oferecer oficinas de crochê, tricô… Gostaríamos também de ter aulas de música, mas falta gente para trabalhar voluntariamente. Precisamos de ajuda humana – até na cozinha –, de gente que possa assumir isso como um compromisso”, expôs Salete.

Mudança social
A mudança na comunidade não se deu somente por meio da distribuição de comida e da realização de atividades recreativas. “Ensinamos que as crianças devem respeitar as pessoas. Sim, senhor; muito obrigado; por favor… As professoras elogiam muito e falam que o comportamento nas salas de aula melhorou em torno de 80%”, comemorou Glenio.

Um grande empecilho no caminho nas ruas da vila era o lixo. Aliás, continua sendo um problema de saúde pública. “As ruas estão bem mais limpas. Conseguimos lixeiras com a prefeitura e outras improvisamos. Ensinamos que o lixo tem lugar e não é a rua”, disse o coordenador da Casa da Sopa, que ao perguntar às crianças “Onde vai o lixo”, prontamente recebe a resposta, em coro: “Na lixeira”.

Sopão do Bem
Em Palmeira das Missões, um grupo de voluntários realiza ação semelhante. É o “Sopão do Bem”.

Tudo começou em 2013, quando Tatiane Silva e a amiga Juliana Menegazzo tiveram a iniciativa de fazer um sopão solidário, buscando ajudar os moradores de rua do município. Mas, para a surpresa delas, não encontraram ninguém nessa condição. Então, foram até os bairros mais pobres do município, para fazer a entrega de sopas e cobertores.

De lá pra cá, o sopão está sendo um sucesso e já é distribuído três vezes por semana – nas segundas, quartas e sextas-feiras -, em sete bairros: Esperança, Santa Catarina, Mutirão, Passo D’Areia, Pró-morar II, Jardim e Profelurb.

Tati criou a página no Facebook chamada “Sopão do Bem”, que já conta com mais de dois mil membros que realizam as doações dos alimentos a serem distribuídos, que inclusive, retratam o tamanho da solidariedade do povo: mais de 200 litros de sopa e 1,5 mil pães são entregues às famílias toda a semana.

Trabalho que dá gosto
Segundo ela, o trabalho voluntário é gratificante, pois dessa forma, as pessoas começam a entender que não precisam de muito para viver. “Não tem preço que pague ver o sorriso de uma criança quando a gente chega com o carro na frente da sua casa. Certo dia, estive na casa de uma família de catadores de papel e fiquei impressionada com relação a como fui recebida. Um casal de irmãos achou no lixo algumas peças de roupas, que para minha surpresa, elas estavam usando. Eu perguntei: ‘Vocês estão indo a alguma festa?’, e a menina me respondeu, ‘Não, a gente se arrumou para esperar vocês’. Isso mexe com o ser humano”, explicou.

Futuramente, as voluntárias esperam aumentar ainda mais a produção. A próxima tarefa está planejada para ser realizada durante as férias escolares, neste mês, quando muitas crianças ficarão em casa e devem ganhar lanche, além do sopão.

Cristiane Luza e Renato Padilha/Folha do Noroeste