Duas velas acesas e um silêncio que ensurdece. A Rua dos Andradas, umas das mais movimentadas do Centro de Santa Maria, dá lugar ao vazio que não consegue ser preenchido. A tragédia da Boate Kiss completa oito anos nesta quarta-feira com a sensação de impunidade, palavra estampada na nova arte da fachada e que não sai da boca dos familiares das vítimas.
Por conta da pandemia, as tradicionais homenagens ficaram restritas. A orientação da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia (AVTSM) é que os pais permanecessem em casa. As homenagens foram programadas para acontecerem à distância.
Nesta madrugada, às 2h30min, momento em que o incêndio teria começado na boate, sirenes tocaram oito vezes em memória às vítimas. A única família que esteve no local foi a de Isabel dos Reis Rodrigues, mãe de Maria Mariana, de 18 anos, vítima do incêndio.
– Eu sempre digo que é uma dor sem nome, a dor de perder um filho. No decorrer da vida nós vamos perder outras pessoas, mas um filho é uma dor que não tem igual. Minha filha era uma menina sadia. Não tem aceitar – lamenta.
A expectativa é para o julgamento dos quatro réus do caso, adiado em função da pandemia. Elissandro Spohr, Mauro Hoffmann, Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Bonilha Leão devem ser julgados em Porto Alegre, ainda sem data definida.
– Cada ano que passa, sentimos essa dor mais forte. É massacrante essa demora da justiça. Esperamos que o júri aconteça ainda este ano, mesmo que seja no fim do ano, porque temos consciência da gravidade da pandemia. Queremos ter condições de acompanhar o julgamento de quem matou nossos filhos, por isso teremos paciência – disse o presidente da AVTSM, Flavio Silva.
Ainda nesta quarta-feira, uma live com artistas nacionais está prevista para às 20h. A mediação será do jornalista Marcelo Canellas, com a participação de Cristiane Torloni, Dira Paes, Glória Perez, Tony Ramos, Ligiane Righi, mãe de vítima, e Jair Krischke, jurista. A transmissão será feita pelo Facebook da AVTSMSantaMaria.
*Diário de Santa Maria