Os extremos climáticos estão ameaçando o futuro da segurança alimentar no Brasil. Segundo a Conab e IBGE, as ondas de calor da primavera de 2023 levaram à retração de 6% na produção de grãos da safra 2023/2024. Já o INPE divulgou que o número de dias seguidos sem chuva no país cresceu 25% em 60 anos, tornando a vegetação ainda mais seca e vulnerável a incêndios. Logo, votar por políticos que compreendem a importância do meio ambiente e resiliência climática é fundamental para assegurarmos alimentos de qualidade e a preço justo para todos.
Entre 2015 e 2021 os incêndios florestais no Brasil causaram prejuízos de R$ 1,1 bilhão. As queimadas de agosto de 2024, somente no estado de São Paulo, chegaram ao mesmo valor, destacou a Confederação Nacional de Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais. O valor é 33 vezes maior do que as perdas do mesmo período em 2023, apontou a Confederação Nacional dos Municípios (CNM).
Quanto o impacto considera o agronegócio – grandes e médios latifúndios que produzem culturas (commidities) para diversos fins, não só o alimentício – a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) estimou prejuízo de R$ 14,7 bilhões, de junho a agosto, em 2,8 milhões de hectares de propriedades rurais no Brasil.
Porém, mais forte que o efeito dos incêndios é a seca. “Antigamente, a chuva chegava em setembro, depois passou a chegar em novembro. Agora, veio chover só em janeiro. Perdi tudo o que plantei”, afirmou Antônio Veríssimo, 58 anos, que vive na terra indígena Apinajé, no estado de Tocantins. “Tudo”, no caso, envolve: feijão, milhão, batata, abóbora e melancia. Apenas a mandioca sobreviveu. Verissímo é mais um pequeno agricultor que vê as mudanças climáticas mudando drasticamente o período de chuvas no Cerrado.
Segundo José Carlos Hausknecht, sócio da consultoria MB Agro, a seca atinge a produção agropecuária de forma mais generalizada. N’O Globo, levantamento mostra que foram identificados 557 municípios onde pequenos produtores estão mais frágeis aos impactos ambientais – produtores estes da agricultura familiar, responsável por 70% dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros.
Entre as principais culturas impactadas estão: arroz, feijão, café, laranja, melancia, açúcar, hortaliças. A Conab informou que as fortes chuvas que voltaram a se abater no Rio Grande do Sul em setembro deste ano interromperam a semeadura de arroz no estado. O Agrolink ressaltou que “as condições climáticas têm impactado de forma diferenciada o progresso da semeadura de arroz nas principais regiões produtoras do país”.
Já frutas como laranja, melancia e banana e commodities-chave para a indústria brasileira, como açúcar e café, têm enfrentado aumentos de preços por conta do fogo e secas. O fruto acaba dando em menor quantidade ou menor tamanho. No caso do café, desde uma geada atípica em 2021, passando pela estiagem de 2023, as condições climáticas adversas fazem com que seu preço não pare de subir. Especialistas apontam que cultura demorará cerca de 3 a 4 anos para estabilizar seus preços.
No caso das hortaliças que precisam de bastante água, como alface, cenoura e tomate, lavouras precisam de sistema de irrigação adequado para sobreviver à seca prolongada. Culturas perenes, como a laranja, também apresentam queda na produção há algumas safras. Um relatório divulgado pela Fundecitrus, entidade de pesquisa do setor, explicou que a produção do “cinturão citrícola” de São Paulo e Triângulo/Sudoeste Mineiro na safra 2024/2025 deverá ter queda de 7% em relação à estimativa anterior.
A redução se deve ao menor tamanho dos frutos, por causa do clima quente e seco. “As condições climáticas previstas em maio para os primeiros quatro meses da safra foram ainda piores, com volume de chuvas 31% inferior ao esperado. Além disso, as temperaturas elevadas durante o outono e o inverno intensificaram a evapotranspiração, agravando a severidade da seca”, diz o relatório.
A Folha registrou que as secas e queimadas contribuíram para o aumento da inflação para 2024, que continua se distanciando da meta central de inflação (3%) e se aproximando do teto definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 4,5%.
O que cabe a prefeitos e vereadores
O clima mudou, a política também tem que mudar. Decisões tomadas hoje se refletem por anos e décadas seguintes. Pegue a questão do solo, por exemplo: um solo destruído por eventos climáticos exige tempo e investimento para voltar a ter nutrientes o suficiente para produzir alimentos de boa qualidade.
Assim sendo, políticas de reflorestamento e recuperação de áreas degradadas, proteção de nascentes, incentivo à agricultura de baixo carbono e a à agroecologia, políticas de manejo sustentável e controle de queimadas e educação ambiental são algumas das ações para criar resiliências ambiental e climática.
Nestas eleições, escolha políticos comprometidos com a causa ambiental e climática – e não só isso, escolha políticos que deixam claro em seus planos de gestão como farão isso. A tendência, infelizmente, não é seguida em capitais como Manaus (AM), Porto Alegre (RS), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP). Não caia nessa, sem clima, não há comida. Nossos políticos precisam estar cientes disso.
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Por Juliana Aguilera, jornalista no ClimaInfo.