A homenagem às vítimas das recentes enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul e o alerta para o avanço da crise do clima foram os destaques centrais da 47ª Romaria da Terra, realizada nesta terça-feira de Carnaval em Arroio do Meio, município às margens do rio Taquari. A escolha da região se deu pelo impacto severo das cheias, que resultaram em dezenas de mortes e significativos prejuízos econômicos e ambientais. Já no estado, segundo a Defesa Civil, somente nas enchentes de 2024, foram registrados 183 óbitos e 27 desaparecidos.
Além de prestar apoio ao Vale do Taquari e fortalecer a fé e a esperança, o evento, que foi organizado pela Diocese de Santa Cruz do Sul e pela Comissão Pastoral da Terra (CPT/RS), celebrou a solidariedade e convidou os romeiros a refletirem sobre a crise mundial do clima. O objetivo foi acolher o sofrimento dos atingidos, repensar a relação humana com a natureza e reforçar a importância de ações para a reconstrução das comunidades.
Nas primeiras horas da manhã, caravanas de diversas regiões foram acolhidas no Seminário Sagrado Coração de Jesus, local que serviu de abrigo para muitas famílias durante as enchentes. Entre os romeiros, estavam o ex-governador Olívio Dutra, 83 anos, presente desde a primeira edição da romaria; o presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Edegar Pretto; e o deputado estadual Adão Pretto Filho. Os irmãos Pretto participam das procissões desde a infância, acompanhados pelo pai Adão Pretto, deputado federal falecido em 2009. Eles se uniram a mais de cinco mil fiéis que, em caminhada e oração, percorreram cerca de 2,5 quilômetros, passando, inclusive, pelas margens do rio Taquari.
“Neste ano, com a COP30 no Brasil, o mundo volta os olhares para o país. Conectada à conferência da ONU, a Romaria da Terra reforça a urgência de agir, unindo fé e compromisso. As enchentes no estado, que causaram estragos e fizeram vítimas, evidenciam o colapso do clima. Por isso, estar no Vale do Taquari hoje é muito simbólico e reforça o nosso compromisso de proteger o planeta e as futuras gerações”, afirmou Edegar durante a caminhada.
Para Adão, que tem entre as bandeiras do seu mandato a defesa da agricultura familiar e do meio ambiente, o mundo vive uma crise do clima nunca antes vista. “As enchentes de 2023 e 2024 no Vale do Taquari só reforçam a urgência de mudarmos nossa relação com a natureza, como reduzir o uso de agrotóxicos nas plantações”, destacou.
Uma das principais simbologias da romaria foi uma cruz de madeira, feita a partir de destroços das cheias na região. Em um gesto de respeito e memória, os fiéis colocaram nela uma faixa de tecido com os nomes das vítimas. Outro marco importante foi a inauguração de um memorial em frente à capela do bairro Navegantes, um dos mais afetados em Arroio do Meio, e próximo à Casa do Peixe, que ficou conhecida no país pela imagem da bandeira do Rio Grande do Sul hasteada, se tornando símbolo da resistência e da resiliência gaúcha. Uma rocha retirada de escombros na localidade de Três Pinheiros, em Roca Sales, onde seis pessoas da mesma família foram soterradas, foi colocada no local para que nenhuma vítima das enchentes seja esquecida.
Durante o trajeto, uma série de cenários lembrou o drama das comunidades, com destaque para a situação da agricultura e das estruturas destruídas, como casas, escolas e postos de saúde. A caminhada também evidenciou as ações de solidariedade e cuidado aos atingidos, por meio de abrigos, doações, cozinhas solidárias e do trabalho de socorristas e voluntários.
Ao final do percurso, os fiéis participaram de uma missa na Rua Coberta, na Praça Flores da Cunha, seguida da tradicional partilha de alimentos. À tarde, ocorreu a tribuna popular, com pronunciamentos e apresentações culturais. Na ocasião, também foi anunciado que o município de Caibaté, na região das Missões, sediará o evento em 2026.
Foto: Paulo Roberto/ ALRS