A Justiça Eleitoral de Porto Alegre condenou o prefeito eleito, Sebastião Melo (MDB), a pagar R$ 106 mil por divulgar uma pesquisa falsa na véspera do segundo turno, realizado em 29 de novembro.
A sentença atinge também a coligação formada pelo candidato. Por ser uma decisão de primeira instância (158ª Zona Eleitoral), cabe recurso. O processo foi movido por Manuela D´Ávila (PCdoB), que concorreu com ele no segundo turno. Melo foi eleito com 54,58% dos votos válidos.
No sábado,12, ao tomar conhecimento da decisão, Manuela comentou em rede social. “Que paguem por seus erros e que no futuro o prêmio pela divulgação de notícias falsas, pesquisas falsas e caminhões distribuindo mentiras não seja a prefeitura da nossa cidade”, afirmou.
“Uma pesquisa falsa, com registro inventado, e divulgada (o que agrava ainda mais a situação) por um grande grupo de comunicação”, prosseguiu a candidata e ex-deputada. O site da Band publicou, se corrigindo mais tarde. “Melo publicou a pesquisa falsa em suas redes sociais. O print com a notícia falsa correu os grupos de Whats, em mensagens enviadas massivamente”, acrescentou Manuela.
Mas era só “a cereja do bolo”, segundo a representante do PCdoB na disputa em Porto Alegre, listando várias ocorrências – que não foram coibidas. “Eles haviam orquestrado a rota de dezenas de caminhões na cidade espalhando em todo canto que iríamos distribuir carne de cachorro (sem que nada fosse feito pelas autoridades, o absurdo correu solto). Espalharam, ainda, que fecharíamos as igrejas, o comércio. Que promoveríamos a ‘legalização da maconha’.”
Engenheiros do caos
Os problemas continuaram inclusive no confronto direto com o adversário. “No debate final, Melo apareceu com um dossiê de ‘informações contra mim’ acreditando que isso pudesse me intimidar . Ou seja, a pesquisa falsa, de fato, foi a ponta do iceberg. Os algoritmos dão a cada indivíduo a impressão de estar no coração de um levante histórico.”
Ela analisa os impactos dessa “estratégia” de comunicação. “Assim, tirando o foco em estar no centro moderado de um assunto e concentrando esforços em juntar o maior número de pessoas em extremos, estão atuando, já há algum tempo, o que o cientista político italiano Giuliano Empoli denomina de ‘engenheiros do caos’. Sim, essa galera que não mede esforços para difundir mentiras. Na lógica quase ancestral de que uma mentira contada muitas vezes passa a ser verdade. Na realidade pura e simples: não passa. Mas, na cabeça de centenas de milhares de pessoas, sim”, constata Manuela.
Ela aponta o uso do “absurdo como ferramenta organizacional mais eficaz que a verdade”. Caso de violência política. “Se a diferença na votação foi por causa das Fake News, não temos como mensurar. Mas o que sabemos, com certeza, é que combater ao gabinete do ódio e as notícias falsas é um dos maiores desafios da nossa democracia no Brasil. Em 2020 o alvo foi a nossa campanha. E se no futuro for o candidato que você gosta?”
*Brasil de Fato