
Polícia gaúcha mira golpistas que fingiam ser médicos pra extorquir pacientes em hospitais
Sete pessoas foram presas na Operação Cura Ficta
A Polícia Civil do Rio Grande do Sul, através da Delegacia de Repressão aos Crimes Patrimoniais Eletrônicos (DRCPE/DERCC), deflagrou nesta terça-feira,(2), Operação Cura Ficta, visando desarticular uma organização criminosa interestadual especializada na prática do estelionato conhecido como “Golpe do Falso Médico”. Os agentes cumpriram nove mandados de prisão preventiva e 13 ordens de busca nos estados do Mato Grosso, Goiás e Rio de Janeiro. Sete pessoas foram presas.
De acordo com a investigação, o grupo criminoso explorava a vulnerabilidade emocional de familiares de pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) de hospitais em território gaúcho. Por meio de WhatsApp, eles contatavam as vítimas, passando-se por médicos ou diretores clínicos, utilizando nomes fictícios e fotos retiradas da internet. Com acesso a dados privilegiados, informavam um falso agravamento no quadro de saúde do paciente (como leucemia ou infecções bacterianas graves), exigindo pagamentos urgentes via Pix para supostos exames ou medicamentos.
O líder do esquema foi identificado como um detento de 35 anos, atualmente recolhido na Penitenciária de Rondonópolis (MT). Mesmo encarcerado, ele coordenava as chamadas e a logística do golpe. No interior de sua cela, durante investigações pretéritas, foram apreendidos cadernos com anotações de roteiros do golpe (“scripts”), dados bancários e números de telefone. Uma mulher, que cumpria pena no regime semiaberto com tornozeleira, atuava como braço direito desse apenado, operando contas bancárias, gerenciando o fluxo financeiro dos golpes.
A apuração técnica da DRCPE/DERCC desvendou uma rede complexa de lavagem de dinheiro e ocultação de identidade. Além da base em Mato Grosso, a quadrilha tinha ramificações no Rio de Janeiro e em Goiás, onde foram identificados dois operadores responsáveis por fornecer e movimentar contas bancárias utilizadas para receber os valores extorquidos, agindo em sincronia com os contatos telefônicos feitos de dentro do presídio. Um dos suspeitos tinha 121 chaves de Pix cadastradas em seu CPF, o que indica a utilização profissional de contas para pulverizar o dinheiro ilícito.
Além disso, foi identificado o uso de emuladores de Android em computadores para simular múltiplos aparelhos celulares, permitindo que um único criminoso gerenciasse diversas contas de WhatsApp e aplicativos bancários simultaneamente, dificultando o rastreamento. Segundo apuração policial, parte dos lucros obtidos era destinada ao financiamento de uma facção criminosa com forte atuação no Mato Grosso.
O delegado e diretor do DERCC, Eibert Moreira Neto, explica que a investigação começou após o registro de ocorrências em Porto Alegre e Canoas. As vítimas relataram prejuízos que, somados, ultrapassam dezenas de milhares de reais em poucos dias.
