Pesquisadores de Passo Fundo encontram mais de 10 mil artefatos arqueológicos no Pará

Com a finalidade de proporcionar experiências práticas na área de Arqueologia, estudantes e professores da especialização em Cultura Material e Arqueologia da Universidade de Passo Fundo (UPF) participaram de um projeto de pesquisa de campo no Parque Estadual Serra das Andorinhas, em São Geraldo do Araguaia, no Pará. O local é um dos maiores sítios arqueológicos de arte rupestre a céu aberto do mundo.

Na primeira etapa das aulas, com duração de uma semana, foram encontrados 10,2 mil artefatos na Vila de Santa Cruz. Supervisionados por quatro professores, os 25 estudantes ficaram acampados no sítio-escola para aprenderem todas as etapas do processo, entre elas, ter responsabilidade com os materiais de prospecção de campo, comprometendo-se com a higienização, catalogação e estudos das peças.

Os fragmentos encontrados podem ser originados de utensílios como vasilhames cerâmicos de diferentes formatos. Agora, todo o material coletado passará por análise criteriosa e pelo processo de higienização, feito manualmente. A previsão é de que a conclusão da análise ocorra no início do próximo ano.

Pesquisa com a participação da comunidade local

Para a realização da parte prática da especialização foi desenvolvido um projeto piloto que busca envolver a comunidade na pesquisa, no gerenciamento e na preservação do patrimônio arqueológico. “A partir deste estudo de campo, temos a perspectiva de desenvolver ações de médio a longo prazo no Parque Serra das Andorinhas e arredores”, comenta a coordenadora da especialização, professora Dra. Jacqueline Ahlert.

Além do envolvimento em atividades de campo, os pós-graduandos farão estudos no laboratório da Fundação Casa da Cultura de Marabá, ao lado de pesquisadores de todo o Brasil. “Buscamos ampliar o levantamento arqueológico na área da Serra das Andorinhas e aprofundar os conhecimentos a respeito do registro arqueológico contido nessa área de estudo, que apresenta um alto potencial científico, de acordo com estudos preliminares desenvolvidos na área nas últimas décadas”, afirma a professora.

Passado e presente marcando o tempo da história

O período pré-colonial e a história recente se misturam na localidade, que hoje conta com a vida e a rotina de uma vila. De acordo com Jaqueline, essa realidade ajuda os pesquisadores a compreender melhor a passagem do tempo, uma vez que a população que hoje habita o local interage com os resquícios de civilizações passadas e constroem, em cima delas, a própria história.

“A pesquisa teve o objetivo de mapear processos muito diferentes de ocupação. Desde ocupações pré-coloniais, com muita presença de cerâmica, de material lítico, mas ocupação histórica também, visto que existe hoje uma pequena vila de moradores em cima desse sítio arqueológico, que continua interagindo com o sítio com própria vivência, então os processos históricos pelos quais as pessoas passaram também são evidenciados na pesquisa arqueológica”, pontua.

A Serra das Andorinhas

Com um relevo composto por serras, cavernas, abrigos e fendas desenvolvidas em quartzito, além de cachoeiras, praias, matas, cerrados, campos e chapadas associados a uma fauna diversificada, o Parque Serra das Andorinhas traz vestígios de grupos pré-ceramistas e ceramistas nas cavernas e abrigos sob rocha, totalizando 44 sítios arqueológicos e outros 16 sítios ceramistas a céu aberto.

É um dos maiores sítios arqueológicos de arte rupestre a céu aberto do mundo. Ao todo, são mais de 370 cavernas identificadas na área que engloba todo o Parque, as quais foram cadastradas e registradas pelos pesquisadores (espeleólogos) da Fundação Casa da Cultura de Marabá. A região também foi palco da Guerrilha do Araguaia, movimento armado ocorrido entre o final da década de 1960 e meados da década de 1970.