A pandemia do novo corona vírus chegou como um turbilhão na vida de todos e com muita intensidade para nós, profissionais da educação. Foi necessário aprender a lidar rapidamente com as tecnologias, gravar aulas e transformar a nossa própria casa em ambiente de aprendizagem. Pois bem, chegamos no ponto que eu quero falar hoje: sobre aprendizagem.

Refleti muito nesses meses sobre o que realmente importa para as crianças. Manter o processo de aprendizagem é recorrer a um argumento falacioso. É momento de ressignificar o ato de educar, é olhar para aquele ser humano em construção e compreender que ele pode muito mais do que ler, escrever e fazer cálculos. Mas o que realmente as crianças têm que aprender agora?

Será mesmo artigos definidos, tabuada, mitocôndrias e outros conteúdos descontextualizados da realidade vão ajudá-las a enfrentar umas das maiores (se não for a maior) crise social, econômica e cultural de nosso século? Será que agora tudo o que elas aproveitarão para construírem-se enquanto seres humanos é uma imersão na cultura Youtuber por meio de vídeo-aulas? Precisamos aprender com os momentos difíceis, em meio ao caos, o que podemos ensinar aos nossos pequenos? 

É importante pensar na grande oportunidade que estamos tendo de ensinar sobre a condição humana, sobre sentimentos, valores, respeito ao próxima e sobre as incertezas da vida. Conteúdos dissociados da realidade é só mais um protocolo que a sociedade inventou para preencher planilhas. Morin nos ensina e fala em suas obras sobre a ética do gênero humano e valoriza as relações entre o indivíduo, a comunidade, a espécie humana e o planeta.

Mas o que isso quer dizer? Que devemos respeitar a existência de DEMOCRACIAS dentro uma comunidade planetária, que considere o meio, a cultura e os povos em suas particularidades, porém para ensinar isso as crianças é um conceito muito distante e abstrato quando falamos a palavra por si só, a palavra democracia é de difícil entendimento para os pequenos, então devemos usar exemplos mais concretos e que são vivenciados nos tempos atuais, em tempos de isolamento social.

Dê o exemplo da família e converse sobre a importância de seguir as regras da casa e da liberdade de renegociá-las quando preciso. Fale sobre a importância de respeitar a si mesmo, aos outros e o planeta, pois estamos todos conectados. A Pandemia é um exemplo concreto de como as nossas escolhas estão diretamente ligadas a nós mesmos, aos outros, ao planeta e ao destino da espécie humana. Ficar em casa agora é um ato de amor a si mesmo, ao próximo, ao planeta e à toda humanidade. 

Quero me dirigir em especial aos pais e mães de crianças em processo de alfabetização e letramento, desfrutando da primeira e da segunda infância. Não criem expectativa em torno das crianças, não pulem etapas, não queiram disputar com outros pais a capacidade de cada um e cada uma.

A aprendizagem é feita de etapas, e se pulamos alguma delas, certamente ficará um déficit no aprendizado que talvez só será percebido com o passar do tempo.

Como pedagoga afirmo que antes das crianças aprenderem a escrever o nome, elas precisam se transformar em sujeitos que saibam ressignificar as palavras e ações.  Antes de ensinar sobre as letras, precisamos ensinar a ressinificar as palavras ditas. Antes de ensinar sobre cálculos de matemática, que aprendam sobre valores humanos. Ainda sobre leitura de mundo, quero que compreendam sobre as “oportunidades”. Pois é, elas não são para todos. A pandemia escancarou a desigualdade social e as mazelas do nosso país. Definitivamente o sol não nasceu para todos.

Eduquemos nossas crianças para tolerância e para a liberdade, mas precisamos também apresentar a eles a igualdade e a solidariedade. Não apenas tolerar e aceitar pessoas diferentes na cor ou no gênero, mas ensiná-los a amar, a estender a mão e a emprestar o ombro para que caminhem lado a lado.

Eu sonho com um futuro melhor, com um país democrático, com políticos corretos. Eu acredito na educação que vem de casa, eu acredito que o amor e o carinho dedicado todos os dias aos nossos filhos e filhas podem fazer a diferença neste mundo cruel e desigual.

Nem de longe sou uma mãe, feminista, pedagoga perfeita e que sabe sempre como agir. Nem de longe. Mas eu tento, eu reinvento, eu insisto em acreditar que podemos mudar o mundo através das crianças.

Encerro comas palavras de Paulo Freire que diz: “Para mim, é impossível existir sem sonho. A vida na sua totalidade me ensinou como grande lição que é impossível assumi-la sem risco.”

Então, sigo sonhando!!!

Prof. Me. Chana Beltramin

Pedagoga

Mestre em educação

Psicanalista