
Operação Aurora investiga rede criminosa que lucrava com abortos clandestinos
A Polícia Civil do Rio Grande do Sul, em parceria com a Diretoria de Operações Integradas e de Inteligência da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Diopi/Senasp), por meio do Projeto Impulse, inserido no Programa Nacional de Enfrentamento às Organizações Criminosas do Ministério da Justiça e Segurança Pública (Enfoc/MJSP), desencadeou na manhã desta segunda-feira (08) a Operação Aurora.
A operação foi realizada de forma simultânea com o apoio de efetivos das Polícias Civis estaduais, nos seguintes estados e municípios: Paraíba/João Pessoa; Goiás/Goiânia e Valparaíso; Rio de Janeiro/Nova Iguaçu; Espírito Santo/Aracruz; Bahia/Irecê e Itaguaçu; Minas Gerais/Santos Dumont; Brasília/Distrito Federal. Até o momento, três pessoas foram presas. Drogas e celulares foram apreendidos durante a ação.
Segundo a Delegada Karoline Calegari, titular da Delegacia de Polícia de Guaíba, a ação tem como objetivo desarticular uma organização criminosa interestadual especializada no tráfico de medicamentos controlados, com destaque para o Cytotec (Misoprostol), substância utilizada ilegalmente para a prática de aborto.
Além da comercialização ilícita, os integrantes do grupo também ofereciam orientações e suporte às usuárias quanto ao modo de administração do fármaco durante o procedimento abortivo, evidenciando uma estrutura criminosa articulada e com atuação ampla.
Entenda o caso:
A partir do aborto realizado por um casal na cidade de Guaíba/RS no dia 02/04/25, a Delegacia de Polícia da cidade passou a investigar as circunstâncias do fato. A mulher que realizou o aborto chegou ao hospital regional com dores muito fortes e acabou expelindo dois fetos.
Ouvida, a mulher informou que havia ingerido o medicamento misoprostol, que lhe fora vendido pela internet. Junto com os medicamentos, a jovem também teria contratado os serviços de assessoramento técnico no momento do aborto, o que seria feito de modo “online” por “uma doutora”. Ocorre que, durante o procedimento, a pessoa que a estava orientando passou a demorar para responder, negligenciando a gestante e deixando-a sem assistência, cheia de dores.
Esclarecendo como chegou até este grupo, contou que, ao ter certeza da gravidez, passou a fazer pesquisas em rede social sobre aborto e gestação indesejada, quando foi abordada por uma pessoa que lhe informou conhecer profissionais que poderiam ajudá-la “com segurança” a interromper a gestação.
A mulher entrou em contato com o número fornecido e a pessoa contatada revelou trabalhar ajudando mulheres a interromper gestações indesejadas. Nesse momento, apresentou a tabela de preços do medicamento misoprostol, em que também constava o número de comprimidos necessários de acordo com a quantidade de semanas de gravidez.
Na sequência, a gestante foi adicionada num grupo de conversas por aplicativo denominado “Sinta-se acolhida”, cuja descrição sugeria um espaço para compartilhar sua experiência pós procedimento, incentivando outras mulheres que ainda estivessem na dúvida, mas advertindo que detalhes do momento do aborto e do preparo para o procedimento não deveriam ser publicados.
A gestante então adquiriu o procedimento e agendou a data para o procedimento com sua “doutora”, passando a agir conforme lhe era orientado. Em dado momento, durante o processo, passou a ser negligenciada pela pessoa que lhe “assistia”, que demorava para responder. Não suportando as dores, a grávida procurou atendimento médico, onde os fetos acabaram sendo expelidos.
A partir da investigação, a polícia identificou os administradores do grupo, os quais, segundo regras claras do próprio grupo, são os únicos autorizados a realizar a venda do produto Cytotec e acompanhar o procedimento abortivo. Os investigados residem em diferentes estados da federação, com ramificação na Paraíba, Goiás, Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e no Distrito Federal.
A primeira etapa da Operação Aurora visa esclarecer a participação de cada indivíduo no esquema criminoso, bem como entender como funciona a dinâmica da organização e apurar de onde o medicamento está sendo desviado, já que se trata de droga de uso controlado, que só pode ser ministrada em hospitais, sendo vedada a comercialização em farmácia e afins.
Segundo a Delegada Karoline Calegari, que presidiu as investigações, mais de 250 mulheres faziam parte do grupo, inferindo-se que o lucro obtido pelo grupo possa ser expressivo.
A Operação Aurora, com importante apoio do Ministério da Justiça, demonstra a articulação das Polícias Civis do Brasil contra o narcotráfico, na defesa da integridade física das mulheres e na proteção da vida, seja qual for a sua fase de desenvolvimento.
