O 16 de outubro de 1945 foi criada a Organização das Nações Unidas (ONU) para a Alimentação e a Agricultura, a FAO (sigla para Food and Agriculture Organization of the United Nations) e desde 1979 se comemora nesta data o dia Mundial da Alimentação. O objetivo desta data comemorativa (de ‘comemorar’, lembrar na memória coletiva) tem como objetivo de conscientizar sobre a fome no mundo, promover a segurança alimentar e a nutrição adequadas para todos. A FAO busca combater a fome através de esforços internacionais, alcançar a segurança alimentar para todas as pessoas e garantir o acesso a alimentos de alta qualidade e em quantidades o suficiente para que as pessoas possam ter uma vida saudável e ativa.

Observamos cada vez mais a inexistência da fome natural no mundo; hoje temos apenas fome de origem política. Se as pessoas ainda morrem de fome em qualquer parte do mundo é apenas porque alguns governos assim o desejam. A pobreza certamente causa muitos problemas de saúde e a má nutrição reduz a expectativa de vida até mesmo nos países ricos. Muitas partes do mundo e também aqui no Brasil, ainda há milhares de pessoas que acordam cada manhã sem saber se terão algo para comer nesse dia. Frequentemente as refeições são pouco saudáveis (carboidratos em excesso e carência de proteínas e vitaminas).

O problema da fome e desnutrição não se deve a falta de alimentos; se deve a falta de acesso a capital tanto para comprar ou produzir estes alimentos. Seja nos países mais pobres ou nos mais ricos, pessoas têm dificuldades em conseguir alimentos por serem economicamente excluídas, e não porque não tem comida suficiente. Uma criança que vive numa favela do Rio de Janeiro, por exemplo, está mais suscetível a passar e conviver com a insegurança alimentar do que uma outra criança que mora em um condomínio de luxo, a 3 quarteirões de distância. Se a comida chega pra uma, também chega pra outra. A diferença é que uma pode comprá-la, mas a outra não. Então, o problema não é a distribuição dos alimentos e sim o acesso de capital (dinheiro) para comprar os produtos.

A insegurança alimentar é a situação de quem não tem garantia de acesso a quantidades suficientes de comida afetando milhões de pessoas.

Por outro lado, na maioria dos países, comer demais se tornou um problema muito pior do que a fome. Há uma epidemia silenciosa de obesidade que afeta milhares de pessoas. Isso deriva da extrema desigualdade social que exacerba esse problema: enquanto famílias ricas de qualquer cidade do mundo comem alimentos orgânicos e saladas, nas grandes periferias os pobres comem alimentos ultra-processados (aqueles produtos industrializados com alto teor de açucares, sal e gordura) baratos, mas com pouco valor nutricional gerando depois problemas de saúde como a obesidade e desnutrição.

O dilema que enfrentamos: há muita comida, mas a maior parte delas é insalubre, o que em vez de nutrir, está acarretado pessoas doentes. O número de pessoas que morrem por obesidade e problemas relacionados como as Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs) tais como pressão alta, diabetes, infartes e câncer de diversos tipos aumentou consideravelmente nos últimos anos. A obesidade é um emblema dos desafios socioambientais contemporâneos, na qual se devem encontrar soluções entre produção e consumo. Vários estúdios mostram que, pela primeira vez na História, a quantidade de pessoas com sobrepeso e obesidade supera a de desnutridos.

As consequências dos atuais hábitos alimentares são desastrosas para a saúde das pessoas e dos ecossistemas. A política agrícola de muitos países se concentra em produção e comércio e está curiosamente divorciada das questões vitais da boa nutrição. Temas como concentração da renda e da produção, falta de vontade política e até mesmo desinformação e consolidação de uma cultura alimentar pouco nutritiva são fatores que compõe o cenário alimentar no planeta.

A emergência climática em curso já afeta a produção e disponibilidade de alimentos. Eventos extremos como ondas de calor, secas, tempestades, incêndios florestais estão aumentando afetando desproporcionalmente muitos países. Quebras de safras com perdas milionárias têm sido constante nos últimos anos por causa dos eventos extremos. E para tornar mais grave o cenário, as guerras em vários lugares têm exacerbado a pobreza e fome colocando em risco a vida de milhares de pessoas.

Nas próximas semanas falaremos mais sobre a emergência climática, da importância das florestas e sua relação com o clima e com a alimentação.

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