Milhares de pessoas passam ao mesmo tempo pela Ponte da Amizade, que separa a Cidade do Leste, no Paraguai, de Foz do Iguaçu, no Brasil. O local é cenário de um milionário esquema de transporte clandestino, que visa o horário de maior movimento para contrabandear as mercadorias.
Às 7h de manhã, horário de maior movimento na fronteira, muitos paraguaios passam pela ponte para trabalhar. Nesse momento, de acordo com a Receita Federal, contrabandistas e traficantes aproveitam a confusão provocada pelo trânsito intenso e a fragilidade na fiscalização.
Como funciona
A reportagem do Fantástico mostrou que muitos motoqueiros pegam produtos em uma tenda, ao lado do prédio da imigração paraguaia. Eles escondem e seguem caminho, principalmente no horário de maior movimento.
Os “laranjas” vão nas garupas das motos com as mercadorias, e alguns tentam fugir já no posto de fiscalização, no lado brasileiro.
A maior parte das mercadorias que entram aos poucos no país com as motos é transferida para ônibus, com destino a outras cidades e estados.
Outra estratégia dos contrabandistas é de só carregar a maior parte da mercadoria já na estrada. Um dos veículos parados na blitz, a 258 km de Foz do Iguaçu, trazia mais de 44 mil dólares (quase R$ 240 mil) em contrabando.
Esquema movimenta milhões de reais
No ano passado, 1295 motos foram apreendidas. A Receita Federal calcula que só esses veículos tenham passado mais de 86 mil vezes pela fronteira até serem pegos. Esse fluxo pode ter movimentado cerca de R$ 760 milhões.
Um trabalho de inteligência lê as placas por meio da IA e identifica quantas vezes cada moto passa por dia. Assim, para fugir desse controle, motoqueiros usam a estratégia de passar ao mesmo tempo no horário de maior movimento.
Para identificar possíveis suspeitos, os agentes procuram quem tem menos “característica de viajante”, levando mais mercadorias do que malas com roupas.
De cigarros eletrônicos a drogas
Nos últimos anos, os cigarros eletrônicos têm sido um dos produtos mais contrabandeados para o país. De 2020 até maio deste ano, o número de apreensões cresceu mais de 12 mil vezes.
Além deles, os celulares e produtos eletrônicos também são transportados. Boa parte desses produtos, falsificados ou não, entra no país através do Paraguai e é levada até o posto da fronteira por “laranjas”.
A reportagem do Fantástico acompanhou um carro em que um homem, acompanhado de uma mulher e duas crianças, é visado pelos agentes. A mulher e as crianças saíram durante a abordagem e foram encontradas mais tarde escondidas, em um banheiro dentro do posto da Receita. O homem fugiu correndo, deixando o veículo.