No Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo (SP), mesmo local onde construiu sua trajetória como sindicalista e fez o último discurso antes de se entregar à Polícia Federal em abril de 2018, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se pronunciou, nesta quarta-feira (10), sobre a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, de anular os processos pelos quais foi condenado pelo ex-juiz Sergio Moro.
Num discurso longo e de improviso, por quase 1h30 Lula abordou temas relativos aos seus processos e também a situação trágica pela qual passa o Brasil, com quase duas mil pessoas morrendo diariamente de covid-19.
A seguir, alguns destaques do pronunciamento:
Inocência e dor
Lula lembrou a decisão de provar a inocência e a suspeição de Moro quando estava preso na sede da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.
“A verdade vencerá. Eu tinha tanta confiança e tanta certeza no que estava acontecendo no Brasil e que esse dia chegaria, e ele chegou”, afirmou, destacando ter todos os motivos para estar magoado, mas que não está. “Fui vítima da maior mentira jurídica contada em 500 anos de história.”
Sobre a decisão de Fachin, agradeceu, ao mesmo tempo em que destacou o atraso da medida. “Foi um dia gratificante. A decisão que ele tomou, tardiamente, foi colocada por nós desde 2016.”
O ex-presidente recordou a morte decorrente de um AVC da ex-esposa Marisa Letícia e de ter sido impedido de ir no velório de um irmão enquanto estava preso.
“Se tem um brasileiro que tem razão em ter profundas mágoas, sou eu, mas não tenho. Não tenho porque o sofrimento do povo brasileiro e das pessoas pobres é infinitamente maior do que a dor que eu senti quando estava preso na polícia federal. Não há dor maior para um ser humano do que chegar na hora do almoço e não ter um prato de comida com farinha pra dar pro filho. A dor que eu sinto não é nada diante da dor de milhões de pessoas”, enfatizou, também fazendo referência à dor das famílias e amigos dos mais de 260 mil brasileiros que morreram vítimas da covid-19.
Vacinas
Lula criticou veementemente as políticas de armamento do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e afirmou que o país precisa de vacinas e não de armas.
“Não é uma questão de ter ou não dinheiro. É uma questão de escolher a vida ou a morte, é saber o papel do presidente em cuidar do seu povo”, declarou. O ex-presidente se solidarizou com os governadores que têm trabalhado para adquirir mais vacinas diante da demora do governo federal em organizar o Plano Nacional de Imunização. “É uma luta titânica contra um governo incompetente e um ministro da Saúde incompetente.”
Moro e imprensa
Durante o discurso, Lula enfatizou em diversos momento que permanecerá em busca de provar a suspeição do ex-juiz Sérgio Moro nos processos em que foi condenado. E criticou setores da imprensa que durante a Lava Jato aceitaram os vazamentos programados vindos da operação de Curitiba sem checar a veracidade das denúncias.
“Durante cinco anos, amplos setores da imprensa não exigiram veracidade do Moro e dos procuradores, e agora, mesmo com um perito da polícia federal analisando as mensagens (obtidas por meio de um hacker), o Moro e os procuradores não reconhecem as mensagens. Contra o Lula não precisava provas, era preciso destruir e evitar que esse cidadão voltasse à governar o País.”
Ao mesmo tempo em que criticou a cobertura midiática no seu processo, o ex-presidente também defendeu a liberdade de imprensa e definiu como “épico” a edição do Jornal Nacional desta terça-feira (9), sobre a cobertura do início do julgamento da suspeição de Moro pelo STF.
“Ontem tivemos um Jornal Nacional épico. Pela primeira vez a verdade prevaleceu, dita não por um político do PT, mas pelos ministros Gilmar Mendes, Ricardo Lewandovski e também a Carmen Lúcia. Fiquei feliz com a verdade. É pra isso que servem os meios de comunicação. A verdade nua e crua, é pra isso que precisamos de uma imprensa livre”, afirmou. E falando diretamente para os jornalistas que estavam no sindicado, completou: “O compromisso de vocês é escrever o que viram ou as pessoas disseram, e não o que o editor pede.”
*Sul 21