O Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) denunciou, nesta quinta-feira (19), 15 pessoas suspeitas de envolvimento na adulteração de produtos lácteos estragados, usando soda cáustica ou água oxigenada para disfarçar a má qualidade.
Cinco pessoas foram presas em operação realizada no último dia 12. Segundo o MP, todos foram denunciados, entre eles o químico industrial Sérgio Alberto Seewald, conhecido como “alquimista” ou “mago do leite”. O investigado é considerado figura central em fraudes identificadas em fases anteriores da operação. O g1 tentou contato com a defesa de Seewald, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.
Segundo o MP, entre janeiro de 2022 e dezembro de 2024 foram comprovados 22 fatos delituosos na investigação.
“Os 15 denunciados corromperam, adulteraram e falsificaram produtos lácteos destinados ao consumo humano, mediante a adição de produtos químicos impróprios, tornando-os nocivos à saúde. Ato contínuo, os denunciados fabricavam, mantinham em depósito para expor à venda e revendiam o alimento. Exames laboratoriais comprovaram leite fora dos padrões de consumo”, detalha o MP.
Foi identificado o uso de ração animal para diluir o leite. Soda cáustica e bicarbonato de sódio eram usada para neutralizar a acidez do leite cru. Água oxigenada também era utilizada para dar maior vida útil ao leite cru.
Produtos vencidos eram usados para aumentar volume e diminuir prejuízo com descarte. Também foi identificada a adição de leite bovino em leite caprino.
Galpão com produtos impróprios
A reportagem da RBS TV esteve em um dos locais utilizados para armazenamento irregular na empresa Dielat, em Taquara, a poucas quadras da empresa. Na fachada, há uma placa de “aluga-se”. Mais próximo ao pavilhão, uma outra placa identifica uma mecânica de carros. No interior do ambiente, os promotores encontraram toneladas de produtos em condições impróprias, como validade vencida, bolor, sujeira e barata.
A investigação afirma que os envolvidos adicionavam soda cáustica e água oxigenada em produtos como leite UHT, leite em pó e compostos lácteos. Essas substâncias são perigosas à saúde e usadas para reprocessar produtos vencidos e recuperar itens deteriorados.
A sede da Dielat foi fechada. Um aviso informa que as atividades no local estão interrompidas até que a investigação seja concluída.
Em nota na época da operação, a empresa manifestou “surpresa diante da divulgação de infundadas suspeitas sobre a regularidade de sua atuação industrial e dos produtos por ela comercializados”.
Como era a fraude
“Além de ajustar o pH e mascarar a acidez do leite, essas substâncias são usadas para reprocessar produtos vencidos e recuperar itens deteriorados, o que representa graves riscos à saúde, incluindo potencial carcinogênico”, afirma o MP.
Entre as marcas alvos da operação no Brasil estão: Mega Lac, Mega Milk, Tentação e Cootall, comercializadas no varejo e acessíveis ao consumidor em mercados. Na Venezuela, os produtos levam o nome de Tigo e Tigolac.
O Mega Milk, leite UHT e em pó, tinha valor mais acessível comparado a outras marcas concorrentes. Para licitações, foi criada outra empresa, de nome Agrovita, que distribuía o mesmo leite da marca Mega Milk, pertencente a Dielat.
‘Alquimista’
Entre os presos, está o químico industrial Sérgio Alberto Seewald, conhecido como “alquimista” ou “mago do leite”. O investigado é considerado figura central em fraudes identificadas em fases anteriores da operação. A Dielat teria contratado o químico para assessorar a produção.
Seewald já havia sido alvo em 2014, na quinta fase da investigação, por práticas semelhantes em outra indústria de laticínios em Imigrante, no Vale do Taquari. Ele foi absolvido de uma condenação de 2005 por um caso similar, recebeu uma medida cautelar da Justiça de Teutônia e está há dois anos aguardando para utilizar tornozeleira eletrônica.
A defesa do quimíco sustenta que “ele não possui relação formal ou informal com a empresa Dielat”, alvo das investigações. Segundo o advogado Nicholas Horn, “trata-se de uma criação de fatos por parte do Ministério Público, que não enseja a verdade”. O representante do suspeito acrescenta que “todas as medidas necessárias para a sua soltura estão sendo tomadas”.
Nota da Dielat
“A DIELAT Indústria e Comércio de Laticínios Ltda., vem a público manifestar surpresa diante da divulgação de infundadas suspeitas sobre a regularidade de sua atuação industrial e dos produtos por ela comercializados. A DIELAT reafirma seus compromissos com o oferecimento de produtos com qualidade e inovação, com responsabilidade socioambiental, reconhecida nacionalmente por oferecer produtos de qualidade.
Em sua trajetória iniciada há mais de 8 anos, a empresa mantém permanente dedicação à ética, à moral, aos bons costumes, às leis, a todos os seus clientes e consumidores, traduzida no oferecimento de produtos livres de quaisquer dúvidas em relação à sua integridade. A empresa submete as suas instalações, insumos e produtos a constante e rigorosa fiscalização das autoridades sanitárias brasileiras e internacionais, já que exporta parte de sua produção para o exterior, e permanece à disposição de todos os órgãos públicos, de maneira ininterrupta, para demonstrar a excelência de seus produtos e o cuidado empregado na sua elaboração.
A todos os clientes, fornecedores, colaboradores e funcionários, a DIELAT manifesta tranquilidade frente aos questionamentos, com a certeza de que o esclarecimento da lisura de sua atuação será inevitavelmente obtido ao cabo de todas as apurações que se fizerem necessárias. Neste momento, os responsáveis pela empresa decidem interromper temporariamente as suas atividades, que serão imediatamente retomadas, com a mesma qualidade e compromisso, assim que superada a presente situação momentânea e finalizadas as necessárias investigações, com a certeza de que será finalmente demonstrada a absoluta regularidade de seus procedimentos e a excelente dos produtos disponibilizados ao mercado consumidor.”
Fonte: g1 RS