Empresas afetadas pela enchente no Rio Grande do Sul precisam de mais acesso a crédito e uma ajuda do governo nos moldes do que houve na pandemia, dizem entidades empresariais.
Entenda a situação das empresas
Três em cada dez estabelecimentos localizados em áreas que foram inundadas ainda não voltaram à operação normal. Levantamento do governo do RS mostrou que 20% das empresas nas regiões afetadas ainda estão com vendas abaixo de 30% da média anterior à enchente. Outros 7% operam com vendas entre 30% e 70% do normal. E 73% estão vendendo normalmente. O dado considera o período entre 19 e 26 de junho.
Os números mostram que houve evolução, mas ainda preocupam. Entre 8 e 14 de maio, o índice de empresas operando normalmente era de apenas 32%. Mas há preocupação com quem ainda não conseguiu se reerguer.
Uma preocupação é com a competitividade dessas empresas. As dificuldades logísticas causadas pela enchente ainda levarão tempo para serem solucionadas. Esses entraves devem dificultar a competição dos produtos da região no mercado.
Há empresas sem previsão de retorno
Parte relevante dos empreendedores da indústria ainda não sabe o que fazer com seu negócio. Uma pesquisa realizada pela Fiergs entre 23 de maio e 10 de junho mostrou que 64,2% das empresas que responderam pretendiam permanecer no mesmo local. Porém, 20,1% disseram que ainda não sabiam o que fazer com o negócio.
Parte significativa disse que só retomaria atividades após seis meses ou não tinham previsão de retorno. Dentre as empresas respondentes, 33% previam retomar as atividades em até uma semana. Porém, 4,3% previam uma retomada somente no prazo entre seis meses e um ano, 2,6% previam retomar as atividades em mais de um ano e 7% disseram que não tinham previsão de retorno.
Juros dificultam o acesso ao crédito
Uma das principais necessidades das empresas afetadas pela enchente é acesso a crédito. O governo federal anunciou R$ 15 bilhões em crédito para empresas do estado. Duas das três linhas de crédito anunciadas com esse montante têm taxas de 1% ao ano mais o spread bancário (diferença entre taxa de captação do dinheiro pelos bancos e a cobrada dos clientes).
Mas o spread bancário alto dificulta acesso ao dinheiro. “A taxa está sendo anunciada num patamar baixo, mas o spread está muito elevado. Então, no total da operação, o empresário pega próximo de 10%”, diz Baggio.
Medidas para manutenção de emprego ainda são tímidas. O governo editou uma Medida Provisória concedendo dois meses de salário-mínimo aos trabalhadores das cidades afetadas. Entidades avaliam que a medida é benéfica, mas a ajuda ainda é pouca e por um período curto. Entidades defende que seja feito algo nos moldes do período mais difícil da pandemia.
Agro já tinha dívidas anteriores
Agricultores afetados pela enchente correm risco de ficar inadimplentes, diz entidade. O agricultor gaúcho já tinha dívidas das safras anteriores. Com a situação de calamidade causada pela enchente, muitos não têm condição de pagar a rolagem do passado, diz Gedeão Pereira, presidente da Farsul (Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul).
Agro quer renegociação de dívida. O setor conseguiu a prorrogação de operações de crédito até o dia 15 de agosto. Agora, quer avançar na negociação. A proposta da Farsul é de refinanciamento da dívida em 15 anos, com dois anos de carência e juro fixo de 3% ao ano.
Chegada do inverno preocupa. “Tem propriedade que perdeu tudo, ficou terra arrasada. E tem quem não perdeu seus animais, mas não tem alimentação para eles. Com a chegada do inverno, o crescimento da vegetação é mais baixo, o que torna essa questão muito custosa”, diz Pereira.
Perdas no agronegócio somam ao menos R$ 468 milhões. Um levantamento feito pela Farsul em parceria com a SOS Agro ouviu cerca de 540 agricultores. Desses, 347 disseram ter tido perdas que somavam R$ 468 milhões, uma média de R$ 1,4 milhão em prejuízo para cada agricultor.
Fonte: Uol