A UFSM iniciou 2021 com a obtenção da proteção de duas cultivares de aveia-preta (Avena strigosa Schreb.) junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), aumentando a lista de produtos agrícolas desenvolvidos no campus de Frederico Westphalen que contam com patenteamento. A conquista representa mais um avanço importante no que se refere à inovação tecnológica na Universidade.
Com a proteção das cultivares UFSMFW 2101 e UFSMFW 2202 pelo Serviço Nacional de Proteção de Cultivares (SNPC) do Mapa, a Instituição passa a ter o direito de reprodução comercial destas variedades em todo o país por 15 anos (prazo de proteção para a maioria das espécies vegetais), ficando vedado a terceiros a produção com fins comerciais, o oferecimento à venda ou a comercialização do material de propagação da cultivar sem autorização.
“A conquista é extraordinária para a UFSM, sendo um grande avanço em relação à inovação tecnológica”, avalia o diretor da UFSM-FW Braulio Otomar Caron, que integra a equipe responsável pelo trabalho.
Com a proteção em mãos, a meta agora é finalizar a obtenção dos dados de Determinação do Valor de Cultivo e Uso (VCU) – que vai garantir que a cultivar tenha valor agronômico comprovado em condições de campo – e obter o registro das cultivares até o final de 2021, para então ser iniciada a produção e comercialização de sementes, por meio de parceria – a proteção da cultivar dá o direito à propriedade intelectual ao seu obtentor, enquanto o registro permite a produção, o beneficiamento e a comercialização de sementes e mudas.
Trabalho teve início em 2013
A conquista coroa um trabalho iniciado pelo Laboratório de Melhoramento Genético e Produção de Plantas (LMGPP) da UFSM-FW ainda em 2013, com a coleta a campo de sementes salvas por produtores nos municípios de Ajuricaba, Alto Alegre, Boa Vista das Missões, Campos Borges, Chapada, Condor, Espumoso, Palmeira das Missões, Planalto, Salvador das Missões, Santa Rosa, Taquaruçu do Sul e Tenente Portela. Na sequência, as sementes foram colocadas a campo e selecionadas plantas pelo método de melhoramento genealógico (pedigree). O processo teve continuidade com os ensaios preliminares e de VCU. Duas linhagens foram selecionadas e deram origem às cultivares agora protegidas.
Inicialmente os trabalhos foram coordenados pelo professor Velci Queiroz de Souza, atualmente na Universidade Federal do Pampa (Unipampa). No final de 2016, o professor Volmir Sergio Marchioro, que já tinha experiência como melhorista no desenvolvimento de uma cultivar de aveia-branca e 24 cultivares de trigo em outras instituições de pesquisa, assumiu a coordenação dos trabalhos e a responsabilidade técnica pela condução dos ensaios necessários para fins de proteção: de distinguibilidade (a cultivar é considerada distinta quando se diferencia claramente de qualquer outra reconhecida na data do pedido de proteção), homogeneidade (quando utilizada em plantio, em escala comercial, a cultivar apresente variabilidade mínima quanto aos descritores que a identifiquem) e estabilidade (quando reproduzida em escala comercial, mantenha a sua homogeneidade através de gerações sucessivas).
Alunos do Programa de Pós-Graduação em Agronomia – Agricultura e Ambiente (PPGAAA) da UFSM-FW também tiveram participação. Daniela Meira defendeu sua dissertação de mestrado em 2018 com a condução de parte do processo de melhoramento, sob a orientação do professor Caron. Atualmente, Luis Antonio Klein está conduzindo os ensaios de VCU que vão fazer parte da sua dissertação de mestrado, sob a orientação do professor Volmir.
“No grupo de melhoristas das duas cultivares temos ex-alunos que passaram pelo grupo de trabalho e hoje são professores em outras instituições de ensino e da própria UFSM, o que mostra a importância da pesquisa, da iniciação científica e da pós-graduação”, afirma Volmir.
Importância e diferenciais das novas cultivares
Embora não existam estatísticas precisas em relação a área cultivada e volume de produção, a aveia-preta tem boa aceitação para alimentação animal, sendo cultivada principalmente nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul. É utilizada como pastejo durante o inverno, corte e, em alguns casos, como feno e silagem. Destaca-se devido à utilização para rotação de cultura e cobertura de solo, principalmente antecedendo a semeadura da soja. Por apresentar crescimento rápido, rusticidade e tolerância à acidez do solo, auxilia no controle de plantas daninhas e quebra o ciclo de algumas doenças importantes para culturas subsequentes, além de outros benefícios que a palhada de aveia proporciona em relação à fertilidade do solo.
As cultivares de aveia-preta UFSMFW 2101 e UFSMFW 2202 possuem algumas diferenças entre si em relação a tipo de folha, pilosidade, cerosidade e formato de panícula e grão. Mas o principal diferencial destas cultivares, que as coloca em destaque, está relacionado ao ciclo vegetativo e reprodutivo: a UFSMFW 2101 é de ciclo muito precoce, e a UFSMFW 2202, de ciclo precoce. Segundo Volmir, outro fator de extrema importância para ambas as cultivares é a produtividade de grãos (sementes), associada à excelente produtividade de matéria seca/verde, considerando que são cultivares de ciclo precoce – normalmente as maiores produtividades de matéria seca/verde são obtidas em cultivares de ciclo longo. O ciclo precoce das cultivares irá refletir diretamente na rotação de culturas, permitindo a antecipação do próximo cultivo.
Além disso, conforme Volmir, o elevado potencial produtivo de sementes destas cultivares permitirá aos produtores obter um volume elevado de sementes por área, reduzindo custos, o que normalmente não acontece para cultivares de ciclo longo. Outro aspecto importante é que as cultivares foram selecionadas por precocidade e potencial de produtividade de matéria verde/seca e de sementes em Frederico Westphalen, sendo, consequentemente, adaptadas à região norte gaúcha.
Cultivares da UFSM com proteção
A UFSMFW 2101 e a UFSMFW 2202 são as primeiras cultivares de aveia-preta desenvolvidas na UFSM protegidas pelo Mapa. A Universidade conta também com cinco cultivares de cana-de-açúcar protegidas, desenvolvidas pelos professores Velci Queiroz de Souza, Bráulio Otomar Caron e Denise Schmidt, do campus de Frederico Westphalen. Atualmente, estes materiais de cana estão em ensaios de VCU e processo final de registro, sob a responsabilidade técnica do professor Caron.
O professor Volmir lembra que o Laboratório de Melhoramento Genético e Produção de Plantas ainda tem algumas linhagens de aveia-preta e cana-de-açúcar que podem gerar novas cultivares num futuro próximo. Também foram iniciados trabalhos de cruzamentos e seleção em soja e linhaça, respectivamente.
*Divulgação UFSM/FW