Circulam nas redes sociais diversas publicações que divulgam o link de um site que supostamente revela o voto de qualquer cidadão nas eleições presidenciais do Brasil em 2022 por meio do CPF. Tome cuidado, essa notícia é falsa!
Em mensagens compartilhadas, usuários alegam que houve fraude nas eleições, uma vez que os resultados revelados por um site não condizem com o voto depositado por eles nas urnas. Os internautas também alegam que a mesma página na web traz informações dos votos de pessoas que já morreram e, por isso, não teriam como votar.
O site mencionado é o vejaseuvoto.info, que falsamente divulga o voto dos eleitores, chegou a sair do ar no dia 12 de dezembro, mas voltou a funcionar dois dias depois, com uma versão atualizada. O professor Paulo Matias, do Departamento de Ciências da Computação da UFSCar, foi entrevistado pela Agência de Notícias Lupa, e analisou o servidor nos dois momentos – antes e depois de sair do ar – e apontou uma série de divergências no site.
Na primeira versão do site, qualquer número que fosse digitado, mesmo não sendo um CPF, gerava resultados. Isso justifica o fato de que até mesmo o CPF de uma pessoa que já morreu retornava com o suposto voto nas eleições, como muitas pessoas alegaram nas redes sociais. Agora, ele verifica o CPF digitado em uma base de dados, então não é mais possível consultar um número aleatório ou com algarismos iguais repetidos.
Outro ponto importante, segundo o professor, é que o site mostra resultados mesmo quando são inseridos, por exemplo, os 11 números finais de um CNPJ – como se uma empresa tivesse votado, o que é impossível. “A base de dados que eles usam é de CPFs e CNPJs. Só que um CNPJ tem bem mais dígitos que um CPF. O que eles fizeram foi considerar apenas os 11 dígitos finais”, explicou.
De acordo com o professor Paulo Matias, qualquer pessoa com conhecimento em programação seria capaz de desenvolver uma fórmula matemática para gerar números “pseudo aleatórios” usando o CPF como ponto de partida.
“Uma forma bastante simples de fazer isso é aplicar uma função hash sobre o CPF, que basicamente faz uma série de operações matemáticas sobre ele e produz um número que parece aleatório (mas é fixo para uma dada entrada) como resultado. Se esse resultado for par, você pode dizer que a pessoa votou em 22, se for ímpar, diz que votou em 13. Assim, um mesmo CPF gera sempre um mesmo resultado no sorteio”, explicou.
Matias ainda chama atenção à inserção de uma seção “saiba mais”, com informações para os usuários. No texto, os responsáveis pelo site, que revelam sua identidade, afirmam que os dados divulgados [supostos votos dos eleitores] foram extraídos diretamente das urnas por meio de arquivos disponibilizados pelo TSE, cujo link pode ser encontrado nos Dados Abertos da Corte eleitoral.
No entanto, apesar de ser público, o log da urna (arquivo disponível no site mencionado) não registra informações como o número do título de eleitor nem revela voto. O próprio Tribunal Superior Eleitoral afirma que o armazenamento é feito de modo que ninguém, nem mesmo a Justiça Eleitoral, possa saber em que candidato cada eleitor votou.
Os autores do site também afirmam, em outra parte do texto, que a página saiu do ar porque foi derrubada e perdeu seu primeiro servidor, que foi cancelado. Contudo, o servidor consultado na primeira e na segunda versão do site é o mesmo.
*Checagem feita pela Agência Lupa