É #FAKE que vacinas contra a Covid-19 estão relacionadas à explosão de doenças cardíacas em crianças

Está circulando pela internet a informação de que vacinas contra a Covid-19 estão relacionadas à explosão de doenças cardíacas em crianças. Tome cuidado, essa é uma notícia falsa!

A publicação reproduz a capa  da 11ª edição do jornal irlandês The Irish Light, que tem publicado conteúdo antivacina. No site, o jornal da Irlanda disponibiliza para consulta as capas das suas 11 edições, das quais seis possuem conteúdo antivacina. No entanto, no portal não constam os textos – em formato digital e por escrito – das edições impressas. Há  somente imagens das capas, o que não permite que os leitores saibam mais sobre as alegações. 

A reprodução que traz a manchete investigada atribui ao Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos e ao Escritório Nacional de Estatísticas Britânico supostos dados sobre mortes e sequelas em crianças pós-vacinação contra a Covid-19. Ambas as instituições têm monitorado e divulgado pesquisas e dados sobre o assunto, mas nenhuma delas identificou a disparada de óbitos ou efeitos graves em crianças por conta da vacinação. 

O jornal afirma que “dados oficiais publicados pelo Centro de Controle de Doenças dos EUA revelaram que 106 crianças morreram após a vacinação”. Entretanto, o CDC, até o momento, não observou nenhum relato de morte após a vacinação com mRNA Covid-19 em que o curso clínico ou os achados da autópsia fornecem evidências claras de que a morte pode ser atribuída à miocardite associada à vacina”. Logo, o dado utilizado na matéria não procede. 

Centro de Controle de Doenças norte-americano ainda informou que qualquer pessoa pode consultar os dados sobre Eventos Adversos Selecionados Relatados pós-vacinação no site do órgão. O centro também afirmou que as vacinas da Covid-19 “estão passando pelo monitoramento de segurança mais intenso da história dos Estados Unidos”. 

A matéria investigada menciona que “o Escritório Britânico de Estatísticas revelou que as crianças têm até 52 vezes mais chances de morrer após a vacina do que aquelas que não a tomaram”. A entidade britânica ressaltou que “essa interpretação dos dados é altamente enganosa”. O Escritório explicou que “as taxas de mortalidade devem ser interpretadas com cuidado para crianças devido à forma como as crianças em risco foram priorizadas no lançamento da vacina”. 

O órgão também indicou um artigo publicado em março de 2022 sobre vacinação e mortalidade envolvendo jovens, que indica que, atualmente, não há evidências de mudança no número de mortes relacionadas a doenças cardíacas ou mortes ocorridas por qualquer causa após a vacinação contra o coronavírus em jovens de 12 a 29 anos na Inglaterra. Entretanto, ainda não há um quadro completo de como a pandemia de coronavírus afetou o número de óbitos entre jovens, já que leva tempo para investigar as mortes por causas externas. 

O presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Renato Kfouri, entrevistado pelo projeto Comprova, alerta que pacientes infectados pelo Sars-Cov-2 têm apresentado várias complicações posteriores ao contágio, na chamada covid longa. Adultos com infarto agudo do miocárdio e arritmias, crianças com miocardite (inflamação do músculo cardíaco) e também arritmias são vistos, segundo ele, com alguma frequência. 

Em relação ao efeito adverso da vacina, Kfouri afirma que não há risco cardiológico que não seja a miocardite, um evento associado à vacina de RNA mensageiro que, no Brasil, é a tecnologia da vacina produzida pela Pfizer. O risco estimado, aponta o pediatra, é de 30 a 50 casos para cada um milhão de doses aplicadas. 

No entanto, o risco da doença levar à miocardite é maior que o risco da vacina. Tanto é que, mesmo conhecendo esse risco atribuído ao imunizante, o benefício da vacinação é maior, com um grande número de mortes evitadas, de hospitalizações e a própria miocardite. 

O presidente da SBIm, Juarez Cunha, reforça que os dados do Brasil são muito tranquilizadores, tanto para crianças quanto para adolescentes e adultos jovens em relação a eventos adversos mais relacionados a risco cardiológico. A doença causa muito mais alterações cardiológicas, inclusive miocardite e pericardite, do que os raríssimos eventos adversos pós vacinais. 

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em nota da assessoria, acrescenta que, desde o início do uso das vacinas contra a Covid-19 no país e, particularmente, da aplicação em crianças, os imunizantes têm sido monitorados com rigor pelo sistema de farmacovigilância que envolve, além da agência, o Ministério da Saúde, empresas, profissionais e serviços de saúde. 

A prática de disseminação de notícias falsas é danosa à saúde pública porque, se as pessoas não se imunizam, o controle do vírus torna-se mais complexo. Além disso, a desinformação afeta a confiança da população nos imunizantes de maneira geral, contribuindo para o reaparecimento de doenças já eliminadas.

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