É #FAKE que mamografia aumenta o risco de câncer de mama

Circula nas redes sociais um vídeo que associa a realização frequente de mamografia a uma maior incidência de câncer de mama. É #FAKE.

O que diz a publicação falsa

 

🛑 Divulgada em 2 de fevereiro de 2025 no Instagram, a publicação desaconselha mulheres a fazerem a mamografia (radiografia do tecido mamário), dizendo equivocadamente que o exame tem alta carga de radiação.

 

  • O vídeo tem uma tarja com seguinte mensagem: “Quanto mais mamografia você fizer, mais risco de câncer você vai ter”.

 

🚫 Na gravação, uma mulher afirma:

 

  • “A mamografia equivale a 150 incidências de raio X. Agora, imagina você todo ano tomando essa incidência de radiação.”
  • Em países da Europa, a mamografia é feita depois dos 50 anos e uma vez a cada 3 anos. Aqui é diferente, né? Aqui, todo ano aconselham a mulher era fazer a mamografia, e, o pior, a partir de 30, 35 anos, já estão indicando.”
  • “Tem dois tipos de exame que são bem melhores que a mamografia, mesmo porque a mamografia ela detecta, ela não é preventiva. Então, você pode realizar um ultrassom ou um exame melhor ainda que é preventivo: a termografia […].”

 

⚠️ Por que o contéudo é fake?

 

  • dose de radiação da mamografia é, aproximadamente, duas vezes maior que a do raio X – e não 150 vezes maior. Não há, portanto, risco para a saúde de pacientes.
  • No Brasil, a recomendação é que mulheres de 40 a 49 anos façam mamografia uma vez por ano, mesmo que não tenham sintomas. Além disso, o Ministério da Saúde recomenda a mamografia a cada dois anos para mulheres de 50 a 69 anos ou em qualquer idade, nos casos de histórico familiar de câncer de mama.
  • Já a termografia – que mostra em cores diferentes as regiões mais quentes do corpo, mas não identifica o câncer de mama e tem levado muitas mulheres a uma falsa sensação de segurança – é contraindicada pela Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), pelo Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR) e pela Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
  • termografia também não é recomendada Agência de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês).

 

 

📌 Qual é a importância de se fazer mamografia?

 

  • mamografia é considerada por médicos a principal estratégia para a detecção precoce do câncer de mama, o que pode salvar vidas.
  • O exame é rápido – dura no máximo 10 minutos –, e a dor é considerada suportável para a maioria das pacientes.
  • câncer de mama é um dos tipos de câncer mais comuns do Brasil, após com 73,6 mil novos casos por ano.
  • Se identificado em estágio inicial, as chances de cura podem chegar a 95%.

 

📑 O que o g1 já publicou sobre esse assunto?

 

 

Fato ou Fake: a checagem passo a passo

 

▶️ O Fato ou Fake procurou a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) para verificar se as afirmações do vídeo procedem.

▶️ A médica Rosemar Rahal, que faz parte da entidade e atua como professora associada da escola de medicina da Universidade Federal de Goiás (UFG), afirmou que vídeo desinforma o público sobre o exame preventivo.

▶️ A especialista explicou por que é falsa a alegação segundo a qual “a mamografia equivale a 150 incidências de raio X”.

 

  • De acordo com a médica, a dose de radiação na mamografia é de 0,21 mSv (milésimos de Sievert) – o raio X, por sua vez, tem representa 0,1 mSv.
  • Ou seja, a mamografia tem uma dose de radiação aproximadamente duas vezes maior que o raio X – valor muito baixo, que não representa risco para a saúde humana.
  • Já a radiação emitida por uma tomografia de tórax, por exemplo, é de 5,8 mSv.
  • Rosemar Rahal lembra ainda que a tripulação de uma companhia aérea que viaja por um ano inteiro está exposta a uma radiação 25 vezes maior que a aplicada em um exame de radiografia de mama.

 

▶️ A mastologista refuta o trecho do vídeo que compara as faixas etárias das mulheres às quais se recomenda mamografia no Brasil e no mundo.

 

 

“A Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), o Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR) e a Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) recomendam o início dos exames a partir de 40 anos, uma vez que 25% das mulheres no Brasil desenvolvem câncer de mama entre 40 e 50 anos”, diz Rosemar Rahal.

 

▶️ Essas diretrizes estão detalhadas em um documento oficial intitulado “Declaração de posição: Desafios do rastreamento do câncer de mama”, publicado por SBM, CBR e Febrasgo em setembro de 2023.

 
Mulheres entre 40 e 74 anos – nessa faixa etária, recomenda-se a realização da mamografia para todas as mulheres, com a periodicidade anual e de preferência para a técnica digital; em locais onde a tomossíntese mamária estiver disponível, ela deve ser preferencialmente utilizada.
 
— Documento publicado pela Febrasgo em setembro de 2023.

▶️ Rahal afirma que a realização da mamografia em mulheres com menos de 40 anos está condicionada “às populações de alto risco onde existem recomendações claras, na literatura mundial, para essa conduta”.

 

 

  • A especialista explica que não é possível adotar, no contexto brasileiro, as orientações válidas para a Europa, pois lá “a epidemiologia da doença tem um comportamento diferente”.
  • Nos Estados Unidos, onde indicava-se que mulheres começassem a fazer mamografia aos 50 anos, ocorreu recente uma revisão nas diretrizes clínicas.
  • Um documento publicado em abril de 2024 pela Força-tarefa de Serviços Preventivos dos EUA (USPSTF, na sigla em inglês) instruiu que as mulheres americanas passem a procurar o exame de detecção aos 40 anos.
  • Carol Mangione, professora da Universidade da Califórnia (UCLA) e uma das autoras do novo regulamento da USPSTF, disse o seguinte à NPR, a rede pública de rádio americana: “Novos estudos mais amplos sobre o câncer de mama em mulheres mais jovens que 50 anos permitiram expandir a nossa recomendação prévia. Tem muito mais mulheres com câncer de mama, o que influenciou a nossa decisão”.

 

▶️ Por fim, sobre a termografia, a Comissão Nacional de Mamografia do CBR, da SBM e da Febrasgo divulgou um parecer prévio em abril de 2023. No documento, as entidades afirmam que “não recomendam o rastreamento do câncer de mama com a termografia, seja isoladamente, seja em conjunto com a mamografia”. O texto afirma:

 

 

  • “Um dos maiores riscos dos dispositivos de atividade térmica ocorre em mulheres que optam por esse método em vez da mamografia.”
  • “Outra preocupação é seu uso associado com a mamografia, em substituição à ultrassonografia ou à ressonância magnética em mulheres com alto risco para câncer de mama ou mamas densas.”
  • “Em ambas as situações, as mulheres podem perder a chance de detectar o câncer de mama em seu estágio inicial.”

 

▶️ Sobre o mesmo assunto, a FDA publicou, em 10 de junho de 2023, um comunicado com o título “Rastreamento do câncer de mama: Termograma não substitui mamografia”. Veja um trecho da nota:

 

  • “Alguns centros de saúde fornecem informações que podem induzir os pacientes a acreditar que a termografia, um tipo de teste que mostra padrões de calor na superfície do corpo ou próximo a ela, é uma alternativa comprovada à mamografia. Mas a Food and Drug Administration dos EUA não tem conhecimento de nenhuma evidência científica que sustente essas alegações”.

 

▶️ Quanto ao ultrassom, Rosemar Rahal diz que ele pode até auxiliar na avaliação das mamas, mas não substituiria a mamografia.

Fonte: g1