O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) declarou o fim do estado de emergência zoossanitária no Rio Grande do Sul em razão da detecção da doença de Newcastle (DNC) em uma granja no município de Anta Gorda, na Região dos Vales. A portaria foi publicada na terça-feira (6).
O estado de emergência foi declarado em 19 de julho por conta do risco da doença se propagar rapidamente entre as aves de produção comercial – como uma forma do governo se antecipar a um surto. A situação fez com que o Brasil suspendesse a exportação de carne de aves para 44 países.
Segundo o Mapa, a declaração de emergência “prevê uma vigilância epidemiológica de forma mais ágil com a aplicação dos procedimentos de erradicação do foco”. Entre as medidas, estão ações de sacrifício ou abate de todas as aves onde o foco foi confirmado, limpeza e desinfecção do local, adoção de medidas de biosseguridade, demarcação de zonas de proteção e vigilância em todas propriedades existentes no raio de 10 km e adoção de barreiras sanitárias.
“A avaliação da condição epidemiológica e a ausência de novos casos com sintomatologia de doenças da síndrome respiratória e nervosa na região possibilitou a evolução na situação e a indicação da normalidade sanitária no estado do Rio Grande do Sul”, explica o diretor do Departamento de Saúde Animal, Marcelo Mota.
Apesar do fim do estado de emergência, na área sob acompanhamento da fiscalização do serviço veterinário oficial, ainda estão mantidos os procedimentos especiais de fiscalização dos produtos destinados ao mercado doméstico, que podem incluir a necessidade de termoprocessamento, antes de sua comercialização no mercado doméstico.
Especialista explica a doença
A DNC é uma enfermidade viral que contamina aves domésticas e silvestres. Causada pelo vírus pertencente ao grupo paramixovírus aviário sorotipo 1 (APMV-1), a doença apresenta sinais respiratórios, seguidos por manifestações nervosas, diarreia e edema da cabeça dos frangos.
O g1 conversou com um especialista sobre o assunto, o professor de Medicina de Aves da Faculdade de Medicina Veterinária da UFRGS Hamilton Luiz de Souza Moraes, que esclareceu dúvidas sobre a doença.
Qual o impacto em humanos
O especialista explica que a doença pode causar, no máximo, conjuntivite transitória em humanos, podendo durar cerca de uma semana. A transmissão ocorre pelo contato, e não pelo consumo.
“Ela é o que a gente chama de uma zoonose classe 2. Ela não causa muitos problemas, no máximo conjuntivite, mas em uma semana, tá bom. Então não é um problema para a saúde pública, vamos dizer assim. O problema maior é para as aves mesmo”, explica.
Como ela é transmitida
A doença é transmitida por aves migratórias infectadas que fazem rotas comuns através dos continentes. Por conta disso, elas podem ter ocorrência em qualquer lugar do mundo.
“Em algum momento, essas aves se cruzam, então, algumas que estejam infectadas podem contaminar outras e, nos locais onde elas estavam, podem sair e infectar aves domésticas”, explica.
Como a doença é extinta
A eliminação de todas as aves do mesmo lote é a metodologia de controle da doença. Isso ocorre, pois o vírus é transmitido pelo ar, podendo contaminar ração, água e o abrigo aviário. Caso o foco não seja extinto, o surto pode se espalhar para uma região mais ampla.
É seguido o protocolo:
- Eliminação e destruição de todas as aves do estabelecimento;
- Limpeza e desinfecção do local;
- Interdição imediata do estabelecimento avícola, suspendendo toda movimentação de aves desde o primeiro atendimento pela Seapi.
Existe uma vacina contra a doença de Newcastle que precisa ser aplicada, preventivamente, antes da transmissão da doença.
Quão transmissível é a doença
A difusão da DNC é rápida, pois ocorre por um vírus transmitido pelo ar. O especialista alerta que, se as aves contaminadas saem dos locais onde estão concentradas ou se são mortas e descartadas em lugares inadequados, podem se disseminar para toda uma região.
A enfermidade também é letal, podendo matar quase 100% das aves infectadas. Por conta disso, os órgãos fiscalizadores têm uma preocupação com a dispersão.
Para garantir a contenção do surto, o Mapa realizou uma investigação epidemiológica complementar em um raio de 10 quilômetros ao redor da área de ocorrência do foco. No entanto, o especialista afirma que cada país tem um protocolo. Alguns países regionalizam em raio de 50 km, podendo fechar um estado ou até o país, dependendo da disseminação da doença.
“O Japão é mais inteligente. Para 50 quilômetros, porque esse vírus se conserva bem na carne congelada, então se a gente exportar a carne com vírus, a gente pode estar contaminando outros locais”, explica.
Qual a recorrência da doença
No Brasil, o último registro da doença foi em 2006, nos estados do Amazonas, Mato Grosso e Rio Grande do Sul, segundo o Ministério. O especialista afirma que o foco da doença no estado se concentrou no município de Vale Real, a cerca de 90 km de Porto Alegre. “Algumas aves morreram e outras foram eliminadas”, relembra.
Qual o impacto financeiro
O especialista explica que os animais sacrificados em 2006 foram um problema não apenas para as aves como também para os países que importavam o frango à época. Ele afirma que houve uma interdição do produto por cerca de três meses.
“O Brasil é o primeiro exportador mundial de carne de frango, e os países que compram a nossa carne, quando tem surtos dessa doença, não querem exportar daquele local. Então naquela época, em 2006, houve a interdição da importação por mais ou menos 3 meses”, revela.
Fonte: g1 RS