Depois de denúncias realizadas pelo Portal The Intercept Brasil sobre abusos sexuais supostamente cometidos pelo Bispo de Frederico Wesphalen, Antonio Keller, e de uma nota escrita pelo religioso divulgada por meios de comunicação, na qual refuta as acusações, a defesa de Claudir Zuchi, ex-padre que denunciou Keller, se pronunciou também por nota.
A defesa entende que, em seu relato escrito, o Bispo Keller acusa Zuchi com insultos como mentiroso e caluniador. Assim como fez desde as revelações desde caso, a Rádio Comunitária abre espaço para as manifestações de ambas as partes. Confira a nota da defesa de Claudir Zuchi:
Eu, Claudir Miguel Zuchi, venho por meio da presente prestar esclarecimentos a respeito de notícia veiculada na Folha do Noroeste, em publicação do dia 20 de dezembro de 2021, onde o Sr. Antônio Carlos Rossi Keller fez acusações dirigidas a minha pessoa, tais como de caluniador, mentiroso, hiena e lobo voraz, entre outras.
No referido periódico Antônio Carlos Rossi Keller afirmou que foi absolvido das acusações de abuso sexual na esfera Eclesiástica e na Justiça Comum, bem como que eu fui expulso da Igreja Católica e que ingressei com ação trabalhista contra a Igreja.
Tais afirmativas e acusações não são verdadeiras, pois não sou mentiroso, não sou caluniador, não sou, por óbvio, uma hiena ou um lobo voraz, tampouco fui comunicado da expulsão e nunca ingressei com ação trabalhista contra a Igreja Católica, o que traduz a mais absoluta inverdade.
Da mesma forma, o bispo Antônio Carlos não foi absolvido na Justiça Comum, sendo que os processos seguem em curso, notadamente o processo de Estupro de Vulnerável, que parte do conteúdo veio a público recentemente. Neste processo Antônio Carlos também foi denunciado por Coação no Curso do Processo, por ter praticado perseguição, ameaça e violência ao menos psicológica contra minha pessoa.
O bispo Antônio Carlos, ainda afirmou que foi absolvido na esfera eclesiásticas, mas não fez prova alguma nesse sentido, embora tenha usado tal afirmação para tentar desmerecer minha imagem, aliás, seria imperioso que permitisse o acesso a esta suposta absolvição para que o contraditório fosse implementado.
A minha suspensão e, possível expulsão, foi justificada pela prática de suposta desobediência ao Bispo e a seus sucessores em proveito de eventuais interesses pessoais, justificativa feita por Antônio Carlos, mas que não foi provada. Aliás, não tive o direito ao devido processo legal canônico dentro da instância eclesiástica, sendo eu sequer tive conhecimento das devidas acusações, pois não me foi franqueado acesso aos atos do processo e do seu conteúdo, inclusive de eventual decisão desfavorável, embora o bispo propague na mídia que fui expulso.
Todavia, esclareço que a suspensão e talvez a expulsão, ocorreram de modo indevido, ilícito, abusivo e sem o devido processo legal, bem como sem o apontamento de qualquer fato capaz de lhe dar sustentação, mas sobretudo sem a possibilidade de efetiva defesa.
A verdade é que o Bispo agiu em ato de represália e vingança contra minha pessoa, valendo-se de sua posição de autoridade eclesiástica para me impor uma forma de coação pelo fato de eu ter assinado, juntamente com outras pessoas, denúncia contra ele junto à Igreja Católica e o Ministério Público Estadual.
A denúncia foi baseada em fatos que vieram ao conhecimento dos denunciantes por vítimas declaradas e fatos ocorridos na Diocese, fatos que deveriam e devem ser apurados. As atitudes narradas são, ao menos em tese, incompatíveis com a atividade eclesiástica e a lei.
Os fatos narrados compreendem atos de suposto abuso sexual contra menores, conduta questionável na gestão financeira da Diocese, tolerância e omissão em face de infrações praticados contra a Diocese e contra menores, possível abuso de poder, possível perseguição a padres e pessoas que não compactuam com a postura e os atos do bispo, entre outras situações.
No que toca ao delito de abuso sexual, Antônio Carlos Rossi Keller jamais negou a prática de tal ato, o que por si só chama muito a atenção, pois se não cometeu tal delito ou prática sexual ilícita, como a vítima declara, teria de imediato negado o cometimento de tal ato ilícito na primeira oportunidade que teve de se manifestar na investigação, e não teria ficado em silêncio.
A minha postura de assinar a denúncia vem ao encontro da atual posição da Igreja Católica, que foi priorizada e divulgada pelo Papa Francisco, ou seja, de evitar abusos sexuais e de poder dentro da Igreja, punindo aqueles que assim agem e reparando as vítimas. Neste contexto, cito o Motu Proprio – Vos estis lux mundi, legislação publicada pelo Papa para combater e punir atos de violência sexual e abuso de poder de religiosos.
O bispo passou a usar seu poder e atentar contra mim, retirando minha atuação, suprimindo minha côngrua, o pagamento do INSS e plano de saúde estabelecidos pela Legislação Canônica, bem como passou a propagar inverdades contra minha pessoa, como é o caso da publicação objeto da presente carta de esclarecimento. Estou sendo massacrado com atos ilegais perpetuados contra mim pelo bispo, o que ocorreu pelo fato de ter agido como pessoa do bem que busca o cumprimento da lei.
Jamais caluniei Antônio Carlos Rossi Keller e o desafio a provar que sou mentiroso, pois as provas e elementos que nos foram enviadas, além do depoimento das suas vítimas, inclusive trazidos em documentos, demonstram consistentemente a prática, ao menos em tese, de delitos, tanto que o próprio Ministério Público fez denúncia muito substancial a respeito dos fatos e o processo está seguindo seu curso normal sem qualquer tipo de absolvição, mas sobretudo com o silêncio do bispo, que não nega os fatos.
Sendo assim, aqui faço minha defesa e respostas às malfadadas alegações e acusações perpetradas por Antônio Carlos Rossi Keller, já que não pude fazê-la nas instâncias eclesiásticas, pois Antônio Carlos não permitiu e ainda usou de seu poder para me atacar e me punir por ter agido como padre devoto, cidadão de bem e contrário a abuso de poder e abuso sexual dentro da Igreja Católica.
Aguardo a conclusão dos processos, para que se faça justiça pois as denúncias custaram à minha pessoa muito mais do que os valores financeiros suprimidos, custaram meu ofício, minhas crenças, minha saúde psicológica, bens imateriais incalculáveis e que jamais poderão ser ressarcidos.
Desta forma, refuto com veemência a acusação de ser caluniador, mentiroso, hiena e/ou lobo voraz. Fui e sou a voz de vítimas, que buscaram o amparo de pessoas de bem para repudiar e punir o mal que sofreram, apenas atuei no exercício regular de um dever cívico e eclesiástico, tendo cumprido meu papel de cidadão e denunciado os fatos que chegaram ao meu conhecimento, pois o silêncio diante de atrocidades contra menores não mais pode imperar em nossa sociedade, mas principalmente em nossa Igreja e na Diocese de Frederico Westphalen.
Confira também a nota do Bispo de Frederico Westphalen, Antonio Keller, divulgada no dia 20 de dezembro de 2021:
Diante das inverídicas notícias vinculadas por algumas pessoas e por alguns órgãos de informação, interessados em semear escândalos, calúnias e difamações contra minha pessoa, venho a público esclarecer o que se segue.
Há cerca de três anos tive conhecimento de que um grupo de sete padres diocesanos e um reduzido grupo de leigos, apresentaram à Nunciatura Apostólica denúncias graves contra a minha pessoa, envolvendo acusações de abuso de menores, mau gerenciamento econômico, incapacidade pastoral e outros itens.
Da mesma forma, o referido grupo apresentou queixa-crime ao Ministério Público de Porto Alegre, com as mesmas graves acusações. Imediatamente o Ministério Público abriu uma investigação para a averiguação dos fatos.
No âmbito eclesiástico, foi efetuada uma investigação prévia, em que foram ouvidas dezenas de testemunhas. A investigação, sob a responsabilidade da Nunciatura Apostólica, foi encaminhada para a Congregação para a Doutrina da Fé, conforme a legislação canônica em vigor. Como hoje é praxe, frente à enorme pressão social em relação a este tema, foi aberto um Processo canônico Penal por via Administrativa em meu desfavor.
A Congregação para a Doutrina da Fé, como é previsto, indicou um Juiz e dois Assessores canônicos para a instrução do Processo Penal por via Administrativa. Após as audiências, que arrolaram dezenas de pessoas: sacerdotes, seminaristas, leigos, religiosos, com data de 5 de maio de 2019, recebi o Decreto assinado pelo Exmo. e Revmo. Sr. Juiz Eclesiástico, nomeado pela Congregação para a Doutrina da Fé de Roma, a sentença final do Processo, sendo a de absoluta absolvição.
Alguns meses após encerrado o Processo canônico com a minha cabal absolvição, a Congregação para os Bispos de Roma determinou uma “Visita Fraterna” para a averiguação das demais denúncias em meu desfavor, tendo sido nomeado um Visitador e um Notário. O Visitador efetuou uma completa verificação da economia da Diocese, da reputação do bispo diocesano junto às Paróquias e junto aos fiéis da Diocese, bem como se entrevistou com todos os padres da Diocese, incluindo aqueles que apresentaram as denúncias. Segundo fontes seguras que não posso citar, o resultado da Visita, que não é dado ao conhecimento nem do bispo investigado nem de quem apresentou as denúncias, não só não encontrou nenhuma categoria de problema diante das acusações apresentadas, mas constatou a absoluta normalidade da vida diocesana, dando algumas indicações práticas de melhorias para a mesma. Da mesma forma, nada foi constatado de condenável no que se refere à moral e aos costumes do bispo diocesano. Todos sabem que estas visitas, no caso de se encontrar algum problema sério, resultam, entre outras possibilidades, na imediata necessária renúncia e na substituição do bispo investigado.
Cabe dizer que dos sete sacerdotes envolvidos neste triste episódio, quatro retrataram-se das acusações, afirmando terem sido pressionados em assinar o documento de acusação contra o bispo diocesano. Outros três, com alguns destes leigos que me acusaram, continuam até o presente a tentar conspurcar a vida e o ministério do bispo diocesano, bem como a vida de toda a Diocese, levando estas acusações às redes sociais, buscando dar-lhes visibilidade. Um desses senhores, hoje já não mais sacerdote, há meses tenta também obter indenizações trabalhistas e outros pseudodireitos, na Justiça criminal e cível, todos eles já refutados.
No âmbito civil, a investigação (não há processo até o momento) arrastou-se por mais de 2 anos (onde está a garantia do direito de um investigado ter, em breve tempo, uma definição decisória?), da mesma forma arrolando dezenas de testemunhas sob segredo de Justiça. Contudo, alguns desses caluniadores continuam a usar as redes sociais para espalhar a ideia de que o bispo diocesano é um criminoso, inclusive postando trechos de “documentos” que envolvem a moral do bispo diocesano, evidentemente com conteúdo acusatório. Os documentos que atestam a lisura, a honra e a boa fama do bispo diocesano não são publicados. É importante dizer que a investigação que deveria correr, por determinação judicial sob segredo de Justiça, teve criminosamente este segredo violado em diversas ocasiões, já que estes senhores e senhoras não encontram problema algum em divulgar estas falácias, até mesmo com documentos oficiais do Ministério Público de Porto Alegre, que estão sob sigilo judicial. As mesmas pessoas também ainda espalham entre os incautos notícias de que eu estaria submetido a prisão domiciliar, ao uso de tornozeleira eletrônica e até mesmo já teria sido preso.
Em duas oportunidades o EXMO. e DD. Juiz de Direito da 3ª Vara da Comarca de Frederico Westphalen pronunciou-se rejeitando integralmente a denúncia oferecida pelo Exmo. Sr. Promotor de Justiça contra a minha pessoa.
Posteriormente, dentro desta ação de verdadeira perseguição que tenho sofrido, tive ciência de diversos processos cíveis e criminais que foram abertos contra mim e contra a pessoa do Chanceler da Cúria Diocesana, todos eles com ridículas acusações de perseguições contra estes padres, danos à saúde dos mesmos etc. Com verdadeira ânsia de espalhar estas inverdades, estes senhores apelaram para a imprensa sensacionalista que encetou uma verdadeira “caça às bruxas” no território da Diocese, interpelando inúmeras pessoas com a finalidade de obter novos elementos para poderem acusar o bispo diocesano. É preciso dizer que não conseguiram absolutamente nada contra a minha pessoa. Apresentam-se como vítimas da prepotência episcopal, mas, na verdade, são lobos e hienas vorazes que sistematicamente buscam destruir a honra e a boa fama do bispo diocesano com inverdades espalhadas aos quatro ventos. É sempre importante perguntar-se o porquê da insistência destes senhores em divulgar aquilo que dizem ser a verdade, deixando de lado a manifestação daquilo que a Justiça, tanto eclesiástica como civil, já decidiu em meu favor. Ou seja, a pretensão destes senhores continua a ser aquela que desde o início têm manifestado como objetivo: a saída do bispo da Diocese. Não lhes interessa a verdade dos fatos. Interessa-lhes impor suas vontades, utilizando-se até mesmo de meios ilícitos para isto acontecer, visto que por meios lícitos nada se comprovou contra minha pessoa.
Assim sendo, esta Nota de Esclarecimento visa apresentar a realidade de quem há mais de três anos sofre uma perseguição pilotada por elementos que pretendem destruir o meu bom nome e a minha boa fama, movidos por intenções e por razões que envolvem interesses financeiros, ideologias políticas que não aceitam ser confrontadas por uma visão eclesial apartidária e que pretendem atrelar a Igreja Diocesana de Frederico Westphalen a um ideário político e práticas pastorais mescladas com princípios que contradizem a fé católica, envolvem certos princípios viciados da compreensão do que é a vida sacerdotal, na forma como a Igreja a entende e a promove, enfim, envolvem mesmo alguns que vivem e se alimentam de lançar calúnias contra os outros, pois tem histórico longo a respeito disso. Cabe dizer que um destes três padres acusadores já foi demitido do estado clerical por documento proveniente da Congregação para o Clero, por ordem do Santo Padre o Papa Francisco e que a Chancelaria da Diocese possui toda a documentação pertinente das razões deste ato tão grave por parte do Santo Padre para com um sacerdote. Entre os outros dois, um deles há anos está fora da Diocese, vagando aqui e acolá sem dar a menor satisfação ao bispo diocesano de sua vida e de seu ministério e o outro também há anos abandonou o território da Diocese, tendo paradeiro desconhecido. Portanto, este discurso de “perseguição” consiste em uma grande mentira, já que com cada um destes senhores o bispo diocesano sempre teve a maior paciência e compreensão. Da mesma forma, o exercício de meu Ministério é a maior prova contra as afirmações destas pessoas, já que ano após ano, no exercício de minhas funções como bispo da Diocese, estou em constante contato com milhares de pessoas, sejam elas adultas ou jovens, tanto nas milhares de Crismas que realizo pela Diocese inteira, bem como pelo contato constante com os seminaristas das diversas etapas formativas e tantas outras situações exigidas pelas minhas funções e todos sabem muito bem de meu comportamento ilibado no trato com todos. Este discurso sustentado por estes mentirosos, na verdade pretende desviar o foco do verdadeiro problema em questão que é a infidelidade destes senhores para com os compromissos assumidos como sacerdotes católicos, envolvendo a obrigação da obediência ao bispo, o compromisso do celibato eclesiástico e outros.
Assim como confiante em Deus, esperei e recebi a absolvição canônica das acusações que contra mim, foram apresentadas à Igreja, a qual amo, sirvo e continuarei servindo por toda a minha vida, aguardo também com a mesma confiança a total rejeição dessas acusações contra a minha pessoa na Justiça Civil, como tem ocorrido até este momento.
Da mesma forma, tome-se consciência de que, em seu devido tempo, todas as medidas canônicas e civis necessárias serão tomadas, para que se restaure a boa fama pública de quem, nestes anos, tem se mantido calado, em respeito às determinações da Justiça.
Frederico Westphalen, 12 de novembro de 2021.
+ Antonio Carlos Rossi Keller