O mercado de agrotóxicos ilegais – roubados ou contrabandeados – tem crescido no Brasil, de acordo com pesquisas de entidades ligadas ao agronegócio.
Um relatório do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social das Fronteiras (Idesf) aponta, por exemplo, que 20% dos agrotóxicos vendidos no país são de origem ilegal. Já a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) estima que o número chegue a 24%. As pesquisas são feitas com base em informações fornecidas pela polícia e por autoridades estaduais.
O comércio desses produtos provoca um descontrole sobre os compostos químicos utilizados nas lavouras, levando muitas vezes os cidadãos a consumir comida com substâncias proibidas e, obviamente, maléficas à saúde. Segundo as entidades, a entrada no mercado é majoritariamente pela fronteira, em especial pelo Paraguai, onde se tem pouco ou quase nenhum controle sobre a produção de agroquímicos.
O presidente do Idesf, Luciano Stremel Barros, alerta que os produtos sem padrão são, em geral, consumidos pelo mercado interno, já que as grandes empresas têm um controle maior sobre os agrotóxicos utilizados. “Eles [as grandes empresas] acabam fazendo essa checagem maior dos produtos que eles estão comprando para exportação. Quer dizer: estamos envenenando o mercado interno. Acaba batendo no brasileiro esse tipo de produto”, afirma.
Barros diz que há conivência de compradores brasileiros com o mercado do contrabando. “Se não tivéssemos compradores, não teríamos o mercado ilegal”. Segundo ele, o perfil dos compradores é vasto.
Alan Tygel, coordenador da Campanha contra os Agrotóxicos, afirma que o consumo de produtos sem verificação química pode agravar a situação do envenenamento da população brasileira.
“No caso dos agrotóxicos que são contrabandeados de outros países, você não tem esse controle sobre a fabricação dele. Esses agrotóxicos podem conter substâncias ainda mais perigosas do que o agrotóxico em si”, ressalta.
Tygel reforça que condenar o uso dos produtos contrabandeados não valida o uso dos agrotóxicos liberados no Brasil. Para ele, é preciso tomar cuidado para que os dados não sejam usados como falso alerta pela indústria do veneno.
“Esse discurso [de reforçar o uso de veneno ilegal] vem muito da indústria de agrotóxico. Eles tentam jogar toda a culpa dos problemas dos agrotóxicos nos agrotóxicos ilegais, clandestinos”, diz.
Ele afirma que o alto índice de comercialização de produtos ilegais não ameniza os riscos dos produtos legais, também prejudiciais à saúde. “A indústria tenta forçar esse discurso de que o problema é o uso errado, sem seguir as normas de uso, que o problema é o agrotóxico ilegal, mas obviamente uma coisa não valida a outra. Não teria nenhuma vantagem se não tivesse o agrotóxico ilegal”.
Erick Gimenes/Brasil de Fato