Opinião

Por Marina Oliveira, estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Santa Maria, campus Frederico Westphalen

Putas e santas, recatadas e expansivas, frágeis e insensíveis. E, não ou, porque nascemos e morremos lutando pelo direito de ser, embora este nos seja negado desde o princípio quando, por medo, insegurança ou qualquer outra fragilidade – típica do gênero masculino – decidiram apagar as nossas histórias. Somos tanto, muito além de qualquer dualidade em que tentem nos encaixar. Sempre “há uma história que não está na história e que só pode ser resgatada aguçando os ouvidos e escutando o sussurro das mulheres”, como afirma Rosa Montero.

Mulher, jornalista (e muito mais), a escritora recupera na obra Nós, mulheres a história de personalidades femininas que lutaram por sua existência e, consequentemente, a de todas nós, mulheres. Montero destaca o apagamento histórico das mulheres ao longo do tempo como importante ferramenta de manutenção do patriarcado. Fossem elas heroínas ou vilãs, não nos cabe julgar, afinal este é um exercício masculino. A questão é: viemos de uma história de luta, mas por quanto tempo, e como, ainda teremos que lutar?

Vejo que somos a arma mais forte que temos e, enquanto seres políticos, talvez a saída seja mudar o curso da história que escreveram para nós por meio da participação política. Afinal, no país em que mais da metade dos eleitores são mulheres, é inegável que nosso futuro está em nossas mãos.

Segundo estatísticas do TSE Mulher, coletadas entre 2016 e 2022, 52% do eleitorado brasileiro é feminino, 33% dos candidatos às eleições daquele período eram mulheres e 15% das candidaturas eleitas eram femininas. Parece pouco, e é, mas já foi impossível.

Conquistamos o direito ao voto e à candidatura a cargos políticos há menos de um século. Foi o Decreto nº 21.076 de 1934 que garantiu às mulheres acima de 21 anos o ‘benefício’ do voto e também de serem votadas. Tudo isso para que, 90 anos depois, a gente tenha que ouvir de um dos candidatos à prefeitura da maior capital do país que “mulher não vota em mulher, a mulher é inteligente”.

Esse tipo de discurso, além de ignorante e contraditório, deslegitima não somente a participação política das mulheres como também a nossa existência, afinal, o patriarcado tenta – desde sempre e a todo o custo – se manter no poder.

Cármen Lúcia, mulher, jurista, professora e magistrada brasileira, atual ministra do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral, afirmou, durante o evento Mesa Mulher na Política, em 2022, que a desigualdade de gênero é uma violência já integrada na sociedade e que nem mesmo a política foi capaz de superar isso. “Ao longo da história, as mulheres têm sido silenciadas. A falta de uma voz que seja ouvida é planejada e preparada”.

Diante de tantas limitações e impedimentos, buscar força na resistência feminina pode parecer um caminho truculento, mas recompensador.

Há dez anos a primeira mulher eleita à Presidência da República do Brasil foi reeleita. Por não ceder às imposições do patriarcado, Dilma Rousseff sofreu impeachment, declarado em 2016. As provas de inocência da presidente começaram a surgir durante o próprio processo, mas foi só em março de 2022 que o Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) anulou a condenação. O golpe sofrido não atingiu somente Dilma, mas também – e principalmente – a democracia brasileira.

Assim como Dilma, outra importante figura da história brasileira também sofreu impeachment. Em 1992, o então Presidente da República Fernando Collor de Mello enfrentou uma situação parecida, não fosse o esquema de corrupção no governo que, neste caso, realmente existiu. Acontece que, além de culpado, Collor também é homem e, assim que teve início o julgamento do processo de impeachment , o Presidente renunciou ao cargo.

Diferente de Collor, Dilma resistiu, permanecendo no cargo até ser deposta.

A justiça nem sempre é justa, mas desistir não faz parte de quem somos. A democracia depende da força e da participação feminina para continuar resistindo.

Neste ano, pela primeira vez na história de Frederico Westphalen, município localizado no interior do Rio Grande do Sul, três mulheres foram eleitas para o cargo no Poder Legislativo, sendo que duas delas tiveram o maior número de votos entre todos os candidatos do pleito.

As revoluções levam tempo, por isso a resiliência. Sejamos então tranquilas, assim como eles esperam, enquanto se articulam para que nada fuja de seu controle. Afinal, se não podemos com eles, vamos nos infiltrar, e quando estivermos lá dentro acabamos com eles, com gentileza.

Sempre encontramos espaço, afinal, somos mulheres inteligentes, e nós, mulheres inteligentes, lutamos para ser quem a gente quiser. Por isso, mulher vota em mulher, elege mulher e reivindica os direitos de todas.  Até porque, nossa existência é um verdadeiro ato político.

Por Caroline Schepp, estudante de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Maria, campus Frederico Westphalen

 

É manhã de domingo. Ao acordar já sinto meu coração acelerar só de imaginar que o outro dia será segunda-feira. O cobertor em cima do corpo parece pesar uma tonelada e eu estou imóvel embaixo dele. As mãos e os pés começam a suar e, mesmo que eu saiba que tenho que me levantar, tomar um banho, comer, não consigo, porque o poder dela é maior que a força do meu corpo. 

Você se identifica com essas sensações? Esses são alguns dos sintomas da ansiedade. Márcio Bernik, psiquiatra e coordenador do Programa de Transtornos de Ansiedade do Instituto do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, em reportagem publicada no Jornal da USP (21/03/2023), afirma que a ansiedade, quando não tratada, pode desencadear outros transtornos mentais, como a depressão.

Segundo dados apresentados pela Organização Mundial da Saúde, a OMS, aproximadamente 9,3% dos brasileiros sofrem de ansiedade patológica. Na América Latina, o Brasil é o país com mais prevalência de depressão. 

Esses transtornos podem surgir a partir de múltiplas causas, como a hereditariedade e o desequilíbrio neuroquímico. A exposição a condições estressantes, que podem ser de âmbito social, econômico e cultural, também desempenha um papel importante. Além disso, dificuldades em lidar com emoções, uso de drogas lícitas ou ilícitas e vivência de traumas são fatores que contribuem para o desenvolvimento desses distúrbios. 

De acordo com o pesquisador do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde, Matías Mjeren, os casos de depressão entre jovens de 18 e 24 anos quase dobraram mesmo antes da pandemia. O aumento do transtorno nessa faixa etária cresceu 5,5% entre 2013 e 2019. 

“A prevalência de casos de depressão já havia dobrado antes da pandemia e a situação pode ter se tornado ainda pior com a crise sanitária e econômica iniciada em 2020. A perda do emprego por um dos pais aumenta a probabilidade de jovens serem diagnosticados com algum tipo de transtorno mental”, explica Mjeren. 

Volnei Costa, médico psiquiatra e presidente do conselho científico da Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos, a Abrata, explica que, com a carga tributária elevada e remuneração baixa, os brasileiros precisam trabalhar muito mais para acessar serviços básicos, que frequentemente são de baixa qualidade. Isso acaba sobrecarregando a saúde mental da população, desencadeando transtornos mentais, como depressão e ansiedade. 

Segundo a OMS, as mulheres são mais suscetíveis a ter depressão. Elas apresentam duas vezes mais chances de terem o diagnóstico da doença do que os homens. “Do ponto de vista biológico, os menores níveis de testosterona acabam deixando a mulher mais exposta a doenças. Por outro lado, na questão social e psicológica, a mulher corriqueiramente está em uma posição de maior vulnerabilidade que o homem e acaba ficando com muitas obrigações, o que aumenta as chances delas terem mais diagnósticos do que eles”, explica Volnei Costa. 

A expressão “geração deprimida” vem sendo usada para se referir aos adolescentes, jovens e adultos que nasceram entre os anos de 1985 e 2010. Begoña Albalat Peraita, psicóloga espanhola, em um artigo publicado no site The Conversation, aponta algumas razões para a geração Millennials e Z serem chamadas assim. Entre elas, estão a frustração profissional e econômica, o uso prejudicial das redes sociais e o peso das preocupações globais. 

Como alguém que observa e vive as angústias da “geração deprimida”, não é difícil perceber que os transtornos mentais são mais do que estatísticas alarmantes; são a realidade de muitas pessoas ao nosso redor, que frequentemente fingimos não perceber. Após anos enfrentando uma guerra silenciosa dentro de mim, fui ignorada por minha família, que considerava crises de ansiedade e depressão um exagero, um “auê”. Só fui diagnosticada com ansiedade generalizada e transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) aos 20 anos.

Após alguns meses de terapia, iniciada quando meus pais perceberam que eu realmente precisava de ajuda profissional, minha terapeuta me fez alguns questionamentos e conseguiu identificar os transtornos. Saber o que eu realmente tinha foi um alívio, pois agora eu poderia iniciar um tratamento e buscar a redução dos meus sintomas. No entanto, minha realidade é muito diferente da grande parte da população brasileira que vive em situações de pobreza e não tem condições financeiras de buscar um tratamento de qualidade.

Além das condições socioeconômicas, os estigmas associados às doenças mentais são outra barreira. Estigma vem do grego stígma e significa sinal, tatuagem. Na Grécia Antiga, essa palavra não estava relacionada à doença mental, mas já era associada ao conceito de vergonha, desvalorização e humilhação. Na Idade Média, com a inquisição relacionada às bruxas, além de representar forte misoginia, representava atitude negativa e condenatória em relação aos transtornos mentais. 

No Brasil, o Hospital Psiquiátrico de Barbacena foi uma instituição que ficou marcada como um dos maiores símbolos de abusos e crueldade contra pessoas com doenças mentais. Ele foi inaugurado em 1903 e funcionou até 1980, sendo palco de graves abusos contra pessoas pobres, negras e marginalizadas socialmente. Originalmente, o objetivo era realizar o tratamento de pacientes com transtornos mentais, mas se tornou um depósito de supostas escórias sociais. A maioria dos internos eram alcoólatras, portadores de infecções ou doenças sexualmente transmissíveis, prostitutas, homossexuais, epiléticos, mães solteiras, esposas substituídas por uma amante. Segundo Daniela Arbex, cerca de 60.000 pessoas morreram durante os anos de funcionamento do hospital. 

Os estigmas relacionados às doenças mentais afetam não apenas o paciente, mas também sua família, as instituições psiquiátricas, os profissionais de saúde e até mesmo os tratamentos utilizados. Esses estigmas representam maior obstáculo para a recuperação e reabilitação do paciente, funcionando como um elemento central da discriminação enfrentada por essas pessoas no cotidiano. Como consequência, há uma piora significativa na qualidade de vida e na eficácia do atendimento, prejudicando tanto o bem-estar do paciente quanto a qualidade da assistência recebida.

Apesar de a Constituição Brasileira de 1988 afirmar que a saúde é um direito de todos e que o Estado tem o dever de garanti-la, observamos que isso não ocorre de forma efetiva. Os dados mostram que os transtornos mentais vêm atingindo um número cada vez maior de pessoas, cujas causas vão muito além de sintomas de descontrole emocional. 

O SUS oferece uma série de serviços para o tratamento de transtornos mentais. Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), disponibiliza tratamento multidisciplinar com psicólogos, psiquiatras, enfermeiros e assistentes sociais. Além de alguns hospitais comuns oferecerem leitos para pacientes que necessitam de internação. 

Mesmo que o SUS ofereça assistência e tratamento à população, por que os dados mostram um aumento nos casos de ansiedade e depressão?

É possível considerar que hoje, com o acesso facilitado à informação, temos mais dados sobre saúde mental, o que contribui para uma maior conscientização sobre os sintomas e diagnósticos de transtornos mentais. Esse aumento na quantidade de informações disponíveis também pode estimular uma maior busca por serviços de saúde mental. O crescimento dos casos de ansiedade e depressão não significa, necessariamente, que a prevalência desses transtornos seja algo novo, ao contrário, pode refletir uma identificação mais precoce e um incentivo maior para a procura de ajuda. No entanto, segundo o Dr. Drauzio Varella, a falta de psicólogos e psiquiatras disponíveis no SUS é um dos principais motivos pelos quais muitas pessoas, especialmente as em maior vulnerabilidade social, não conseguem acessar o atendimento necessário.

Maior investimento em políticas públicas de saúde mental é essencial para garantir à população brasileira assistência e tratamento adequado. Mirian Gorender, diretora secretária adjunta da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), avalia uma falha muito grande na assistência que afeta a saúde e a vida da população. Além disso, Gorender afirma que em outros países o serviço de saúde mental é mais adequado, o que resulta na diminuição constante da taxa de suicídio. No Brasil, essa taxa vem subindo de forma constante. Mirian reforça que, com o avanço da ciência, o paciente pode levar uma vida normal e aproveitar seu potencial, mas para isso é necessário que tenha acesso a tratamento eficaz.

Por trás do “auê”, das manifestações intensas de sentimentos, há questões muito profundas e relevantes que precisam ser ouvidas, compreendidas e tratadas com atenção. Por isso, esteja atento aos sinais do seu corpo e das pessoas que estão ao seu redor. A saúde mental garante o seu bem-estar, possibilitando o desenvolvimento de suas habilidades e melhor resposta aos desafios da vida.

 

Referências:

GORTÁZAR, Naiara Galarraga. Barbacena, a cidade-manicômio que sobreviveu à morte atroz de 60.000 brasileiros. El País, 2021. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2021-09-05/barbacena-a-cidade-manicomio-que-sobreviveu-a-morte-atroz-de-60000-brasileiros.html. Acesso em: 14 nov. 2024. 

 

PRADO, Alessandra Lemes; BRESSAN, Rodrigo Affonseca . O estigma da mente; transformando o medo em conhecimento. PePsic: 2016. 

 

ROCHA, Lucas. Casos de ansiedade e depressão cresceram 25% durante pandemia, diz OMS. CNN Brasil, 2022. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/saude/casos-de-ansiedade-e-depressao-cresceram-25-durante-pandemia-diz-oms/. Acesso em: 14 nov. 2024. 

 

VARELLA, Drauzio . Como conseguir tratamento para a ansiedade no SUS?. Uol, 2022. Disponível em: https://drauziovarella.uol.com.br/videos/como-conseguir-tratamento-para-ansiedade-no-sus/. Acesso em: 14 nov. 2024. 

PERAITA, Begoña Albalat . Millennials e geração Z: por que elas são ‘geração deprimida’. BBC News Brasil, 2022. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-60788360. Acesso em: 14 nov. 2024. 

 

CARVALHO, Rone . Por que o Brasil tem a população mais depressiva da América Latina. BBC News Brasil, 2023. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/czkekymmv55o#:~:text=Na%20lista%20de%20pessoas%20mais,mulher%20mais%20exposta%20%C3%A0%20doen%C3%A7a.. Acesso em: 14 nov. 2024. 

 

Depressão entre jovens de 18 a 24 anos aumentou para 11,1% em 2019, segundo pesquisador do IEPS. Instituto de Estudos para Políticas de Saúde, 2022. Disponível em: https://ieps.org.br/depressao-entre-jovens-de-18-e-24-aumentou-para-111-em-2019-segundo-pesquisador-do-ieps%EF%BF%BC/. Acesso em: 14 nov. 2024. 

Casos de ansiedade não tratados podem tornar-se problemas de saúde mental mais graves. Jornal da USP, 2023. Disponível em: https://jornal.usp.br/radio-usp/casos-de-ansiedade-nao-tratados-podem-tornar-se-problemas-de-saude-mental-mais-graves/. Acesso em: 14 nov. 2024.


Rachel Carson, uma bióloga e conservacionista americana, causou comoção em seu país ao publicar o livro Primavera Silenciosa em 1962. Ela começa convidando a imaginar uma cidade em que os pássaros sumiram, vítimas do uso excessivo de compostos químicos como agrotóxicos. Sua frase enigmática foi: “O ser humano é parte da natureza, e sua guerra contra a natureza é inevitavelmente uma guerra contra si mesmo”.

Carson não era contra a aplicação seletiva de agrotóxicos e inseticidas, mas era contra seu uso indiscriminado, muito comum em uma época onde as pessoas tinham uma fé cega no poder da ciência. O livro de R. Carson foi o início do movimento ambientalista nos EUA e posteriormente em outras partes do mundo. Na época de Carson havia cerca de 30 mi; atualmente existem cerca de 350 mil compostos químicos produzidos pela indústria. Hoje se geram mais de 250 bilhões toneladas de substâncias químicas por ano, considerado uma avalanche tóxica que está prejudicando as pessoas e a vida no planeta. Como menciona Julian Cribb: ‘a Terra e toda a vida nela estão sendo saturadas com substâncias químicas em um evento sem precedentes em toda a história do planeta’.

Sessenta e dois anos depois da publicação de Primavera Silenciosa, quão preocupante é a atual proliferação de compostos químicos? Para muitos estudiosos, a humanidade enfrenta uma ‘policrises’ ou “crise permanente” (Permacrise) onde temos: (i) a aniquilação da biodiversidade; (ii) a emergência climática; (iii) os níveis pandêmicos de adoecimento (físico e mental) e de mortes prematuras causada pela poluição químico-industrial; e (iv) os níveis aberrantes e crescentes de desigualdade, causa maior do agravamento dos três primeiros.

Os humanos estão desestabilizando a biosfera global extraindo cada vez mais recursos do meio ambiente, e despejando nele quantidades enormes de lixo e veneno, mudando a composição do solo, da água e da atmosfera. Se continuarmos no curso atual, isso não apenas causará a aniquilação de uma grande parte de todas as formas de vida como poderia também afetar fortemente os fundamentos da civilização humana.

Quando falamos de compostos ou contaminantes químicos devemos focar a atenção nos ‘compostos persistentes’, aquelas moléculas quimicamente muito estáveis. No meio ambiente não há muitas reações que conseguem degradá-las seja pela ação de micro-organismos ou de organismos superiores. Esses compostos se dissolvem mais em matéria orgânica do que em água apresentando tendência de se acumular em organismos vivos, a bioacumulação. Toda vez que um organismo bebe ou come algo que desses compostos, ele os acumula e não os excreta, porque nosso sistema de excreção mais normal é a urina.

A ciência comprovou que, na medida em que vamos subindo na cadeia alimentar, os organismos superiores acumulam esses compostos persistentes cada vez mais quando consume coisas que também continham esses compostos. Isso é o que é chamado de biomagnificação. Mamíferos marinhos como focas, baleias, acumulam mais [compostos] do que peixes. E os peixes que são predadores de outros peixes acumulam mais do que peixes que comem algas e zoo plâncton.

Dentre estes compostos persistentes temos o Dicloro-Difenil-Tricloroetano (DDT), considerado o primeiro pesticida moderno, mas seu uso foi banido décadas atrás pelos danos que causa ao meio ambiente e representar risco à saúde humana. Temos também um outro composto persistente que é o mercúrio, muito preocupante porque contamina a água e dai se acumulando em organismos. O mercúrio é usado nas florestas da América e da África por pessoas que se dedicam a procurar ouro, e que são normalmente pessoas muito pobres com técnicas muito primitivas. Na mineração ilegal, o mercúrio adere ao ouro formando um amálgama. Em seguida, é aquecido para que o mercúrio evapore e o ouro permaneça. Uma delas é amalgamar ouro com mercúrio. O mercúrio é um neurotóxico afetando também o fígado, os rins; leva a deformidades nas crianças quando as mães grávidas são expostas. Esses efeitos já foram perfeitamente documentados.

Outra substância preocupante nos últimos anos refere-se aos microplásticos, aquelas partículas de plástico que são sólidas e insolúveis em água de cinco milímetros ou menores. O plástico é uma invenção que nos ajuda no cotidiano, é inerte e a priori parece que não tem nenhum efeito negativo. O grave problema está no manejo incorreto após de seu uso. Hoje existe muita pesquisa tentando entender os efeitos dos microplásticos na saúde humana e no meio ambiente. Concomitantemente é preciso organizar e tratar adequadamente os resíduos para retirar plástico do meio ambiente.

De aí que para muitos especialistas “estamos participando de uma experiência química global” porque estamos jogando muitos compostos no meio ambiente e alguns deles podem afetar os ecossistemas. Resumidamente, acreditar que podemos ter uma saúde perfeita quando estamos cercados por água poluída, ar poluído e solo ou alimentos contaminados parece ser mais uma tolice. O exemplo mais emblemático podemos ver nos pesticidas usados na agricultura, que em pequenas doses vão acumulando-se e podem causar problemas sérios de saúde como o câncer no longo prazo.

 

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Luiz Marques, no seu livro ‘Decênio decisivo’ (2023) Editora Elefante.

Alejandra Martins, BBC News Mundo (17/10/2022), reportagem disponível em:  https://www.bbc.com/portuguese/geral-63255592 

A estátua indelével vai ficar na esplanada e gremistas de todas as idades tempos afora vão tirar foto ao seu lado. Trata-se do maior ídolo da história do clube e nem um eventual rebaixamento diminuiria seu tamanho. O que se encerra em 8 de dezembro é o ciclo do treinador no Grêmio.

Tristemente, uma vez que abarca um combo lamentável de incompetência no trabalho de campo e truculência na relação com a imprensa. Antes que resvale para o corporativismo, preciso abrir uma vírgula para dizer que, sim, nós da imprensa precisamos revisar conceitos e procedimentos também.

Sinto vergonha de ter como colega de Associação dos Cronistas Esportivos um homem que entrou em campo com uma criança no colo para agredir a chutes profissionais que estavam trabalhando. A ACEG precisa ter um filtro que impeça constrangimentos como este. Renato também tem razão quando aponta termos inadequados que alguns de nós se autorizam para se referir a jogadores de futebol. A mãe e o filho deste jogador poderiam ouvir a crítica sem se sentirem ofendidos pessoalmente? Então não diga.

De resto, a truculência de Renato põe abaixo suas razões. Ele generaliza com o famigerado “vocês da imprensa”. Aí, não há mais diálogo possível e a relação desce a ladeira. Mais importante é o fato de que, no campo, o trabalho de Renato parou de funcionar. O Grêmio de 2025 terá que caminhar noutra direção. Oposta. E Renato Portaluppi, pelo bem de sua vitoriosa carreira, precisa reencontrar em si a alegria, a criatividade e a concentração que perdeu na Arena.

Fonte: Maurício Saraiva / ge RS
Foto: Gilson Lobo

A comissão EAT-Lancet publicou em 2019 um documento denominado ‘Alimento, Planeta, Saúde’, resultado de uma série de pesquisas sobre dietas que sejam saudáveis e também uma produção sustentável. O trabalho deriva da produção de 37 cientistas de 16 países das mais diferentes áreas, alertando que o sistema agroalimentar atual é um grande impulsionador da degradação ambiental, ameaçando o equilíbrio climático do planeta.

A comida é a alavanca mais forte para otimizar a saúde humana e a sustentabilidade ambiental na Terra. Para muitos cientistas, a atual forma como os seres humanos estão produzindo e consumindo os alimentos ameaça tanto a saúde das pessoas como o meio ambiente. Há um imenso desafio de fornecer a uma população mundial crescente com dietas saudáveis a partir de sistemas alimentares sustentáveis.

A agricultura atual, chamada de ‘agronegócio’ realizada em grandes extensões, pouca diversificação, baseado no uso de agrotóxicos e usando pouca mão de obra, busca unicamente o lucro, ameaça a estabilidade climática e a resiliência dos ecossistemas. A produção apenas como negócio é uma parte da crise climática devido a suas altas taxas de emissão de Gases de Efeito Estufa.

António Guterres, o secretário-geral das Nações Unidas, chamou as mudanças climáticas de “a questão definidora do nosso tempo”. Em setembro de 2018: “Se não mudarmos nossa rota até 2020, corremos o risco de deixar passar o momento em que é ainda possível evitar uma mudança climática desenfreada (runaway climate change), com consequências desastrosas para a humanidade e para os sistemas naturais que nos sustentam”.

É importante destacar que precisamos da Agricultura (não do agronegócio) para nos alimentar; a agricultura é muito dependente de fatores não humanos, isto é, de chuvas sazonais em quantidades regulares e de um sistema climático minimamente estabilizado: não adiante termos a melhor genética de plantas e animais, equipamentos da última geração etc., se houver secas ou enchentes. Dai que, chuvas regulares e clima favorável dependem, por sua vez, da conservação das florestas e das demais coberturas vegetais nativas. Por isso a importância de conservar e plantar mais florestas que reciclam a umidade proveniente dos oceanos, estabilizam as chuvas, refrigeram o clima, preservam a fertilidade dos solos e mantêm a biodiversidade, sem a qual não temos dispersores de sementes, polinizadores, fungos e micro-organismos necessários à reprodução das plantas.

O relatório Lancet menciona evidências científicas substanciais que vinculam dietas à saúde humana e à sustentabilidade ambiental. A ciência nos alerta sobre as urgentes necessidades de repensar a nossa alimentação, que possa beneficiar a saúde das pessoas e o planeta. Por isso é necessário que:
1) países desenvolvidos reduzam o consumo de carne.
2) todos reduzam o desperdício alimentar já que 1/3 dos alimentos antes de consumir vão parar no lixo e
3) se modifique os métodos de produção para reduzir a desmatamento e o consumo de água.

A transformação para dietas saudáveis até 2050 exigirá mudanças substanciais na dieta. O consumo geral de frutas, vegetais, nozes e legumes terá que duplicar, e o consumo de alimentos como carne vermelha e açúcar terá que ser reduzido em mais de 50%. Uma dieta rica em alimentos à base de plantas e com menos alimentos de origem animal confere benefícios à saúde e ao meio ambiente.

Sem ação, as crianças de hoje herdarão um planeta gravemente degradado e onde grande parte da população sofrerá cada vez mais desnutrição e doenças evitáveis.

Relatório EAT-Lancet disponível em: https://irp-cdn.multiscreensite.com/63a687e5/files/uploaded/EAT-Lancet_Commission_Summary_Report_Portugese.pdf

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