Após turbulências no mercado, Lula diz que ‘responsabilidade fiscal é compromisso’ e que governo ‘não joga dinheiro fora’

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta quarta-feira (3) que “responsabilidade fiscal é compromisso” e que o governo “não joga dinheiro fora”. A declaração, dada durante o anúncio do Plano Safra da agricultura familiar, vai na contramão de outras falas de Lula, que tem resistido a cortar gastos e chegou a dizer que é necessário avaliar “se a saída é o corte de gastos ou um aumento na arrecadação”.

Nos últimos dias, o mercado financeiro tem passado por turbulência devido às declarações do presidente, que incluíram críticas ao Banco Central, e também à alta do dólar. Nesta quarta, o dólar operava em queda de 2% até por volta de 14h40, após reunião de Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

“Aqui, nesse governo, a gente aplica o dinheiro que é necessário. A gente gasta com educação e saúde, naquilo que é necessário. Mas a gente não joga dinheiro fora. Responsabilidade fiscal não é uma palavra, é um compromisso desse governo desde 2003. E a gente manterá ele à risca”, disse Lula.

Antes de o evento começar, Lula foi questionado sobre o dólar e respondeu que falaria sobre “arroz e feijão”. Nesta tarde, ele deve lançar a segunda parte do Plano Safra, voltada ao agronegócio e aos grandes produtores. 

Haddad questionado sobre dólar

O ministro Haddad, que também participou do evento, foi questionado por jornalistas na saída sobre possíveis intervenções para valorizar o real em relação ao dólar.

“O câmbio vai acomodar. [Com] Tudo que nós estamos fazendo e entregando, e os compromissos do presidente”, disse.

Questionado sobre eventuais medidas que o governo poderia anunciar para tranquilizar o mercado, Haddad evitou detalhar propostas. Ele disse apenas que a responsabilidade fiscal é um “compromisso de vida” de Lula.

Pauta econômica

Mais cedo, Lula participou de uma reunião ordinária do Conselho da Federação, órgão criado para reunir governo federal, governadores e representantes de entidades municipalistas.

Em um tom parecido com o da declaração desta tarde, o presidente falou sobre a responsabilidade nos gastos do governo.

“Toda vez que a gente apresentar uma proposta de política de maior benefício no município, é importante que a gente apresente com que dinheiro vai ser financiada essa questão”, afirmou.

Reunião com Haddad

No início da manhã, o presidente se reuniu com o ministro Fernando Haddad, fora da agenda oficial. Segundo assessores, o encontro foi para discutir a questão fiscal do país.

Era esperado que os dois conversassem também, entre outras coisas, sobre a alta do dólar e sobre as críticas feitas por Lula ao Banco Central e ao presidente da instituição, Roberto Campos Neto.

Após a reunião entre Lula e o ministro da Fazenda, o dólar caiu mais de 2%. A moeda americana vive semanas de disparada e, nesta terça (2), encerrou o dia cotada a R$ 5,66, depois de bater R$ 5,70 durante a tarde.

Uma nova reunião de Lula com a equipe econômica deve ocorrer no Palácio do Planalto às 16h30. Além de Haddad, foram chamados os ministros Rui Costa (Casa Civil), Simone Tebet (Planejamento e Orçamento), Esther Dweck (Gestão e Inovação).

Responsabilidade fiscal e taxa de juros

Um dos pontos centrais da responsabilidade fiscal é o equilíbrio entre a arrecadação e os gastos públicos.

A situação das contas públicas é algo que é acompanhado Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, responsável por definir a taxa básica de juros, a Selic.

Lula tem resistido ao corte de gastos. Em entrevista nesta semana, o presidente chegou a dizer que é necessário avaliar “se a saída é o corte de gastos ou um aumento na arrecadação”.

Críticas ao BC

Ao longo dos últimos dias, o presidente concedeu entrevistas e deu declarações em eventos públicos em que criticou o Banco Central e o presidente da instituição, Roberto Campos Neto.

Nesta segunda (1º), por exemplo, Lula afirmou que, quando for escolher o novo presidente do BC, buscará alguém que “olhe para o país do jeito que ele é”, e não “do jeito que o sistema financeiro fala”.

O argumento do presidente é que o BC está mantendo a Selic (taxa básica de juros) em patamares altos — atualmente 10,5% ao ano — sem necessidade. Segundo ele, isso prejudica o crescimento do país, uma vez que fica mais caro captar dinheiro no sistema financeiro.

Por outro lado, o BC diz que o governo não cumpre a contento sua função de controlar os gastos públicos, o que faz persistir o risco de inflação e torna necessário manter juros mais altos.

Desde 2021, o Banco Central tem autonomia. Isso significa que Lula não pode tirar Campos Neto do cargo. O mandato do atual presidente do BC, indicado no governo Jair Bolsonaro, termina em dezembro. Lula poderá indicar o próximo.

Fonte: g1

Foto: Reprodução/TV Globo

 
 
 
 
 
 

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