O vento assobiava lá fora, os galhos das árvores balançavam de um lado para o outro. O sol, com seus raios, invadia o chão da minha cozinha, através da janela. Minha casa estava em total silêncio. Sem o som dos meus passos, do barulho do chuveiro, da máquina de lavar, da televisão, do barulho dos meus dedos teclando no notebook. E eu estava ali, deitada na minha cama, enrolada em cobertores que me traziam o conforto da casa dos meus pais e me faziam recordar das manhãs em que acordava com o som das vozes deles tomando chimarrão na sala e conversando sobre a previsão do tempo. Fechei os olhos, e por um momento, imaginei estar lá.
Assim como os raios do sol refletiam no chão da cozinha da minha casa, eles adentravam a casa dos meus pais de maneira imponente e gloriosa. Iluminava todo o ambiente e me dava uma sensação de aconchego. Quando levantava da cama abria as portas e as cortinas para que eles tomassem conta. Colocava a mesa do café, com uma toalha toda colorida, com desenhos de panelas e potes de açúcar. Depois, pegava as xícaras, o café solúvel e o açúcar que estavam no guarda louças. Havia sempre três xícaras na mesa, porque meu irmão não tomava café com nós. As colheres, as facas, e a faca que meu pai dizia que era para cortar o pão, eu buscava na gaveta da cozinha, abaixo da pia. O pão, a chimia, o leite, a margarina e a mortadela estavam na geladeira.
Depois da mesa posta, arrumava os quartos, colocava as roupas lavarem e esperava meus pais terminarem de ordenhar as vacas. E da janela do meu quarto, que tinha vista diretamente para o galpão que meus pais estavam, observava o quanto eles trabalhavam e lutavam para cuidarem de mim e do meu irmão. Naquele instante meu coração ficou apertado, uma angústia tomou conta do meu ser e percebi o quanto eu não tinha aproveitado viver com eles todos os momentos possíveis.
Meus olhos piscaram e eu saí daquele estado que me encontrava, paralisada por alguns segundos. Voltei à cozinha e meus pais entraram pela porta, me deram bom dia, falaram o que iriam fazer depois do café da manhã. Minha mãe perguntou o que eu gostaria de almoçar, qual era o horário. As vozes, os barulhos dos passos, das colheres mexendo no café com leite, invadiam o ambiente. E meu coração se acalmava, como se aquilo preenchesse minha alma e me deixasse em segurança.
Abri os olhos, assustada e ao mesmo tempo feliz. Tinha sonhado com a minha família, que estava distante. Lágrimas rolavam do meu rosto. Eram de felicidade em saber que tinha criado tantas memórias, ter sido tão amada e por saber que posso voltar a qualquer momento que eles estarão lá.
Por muitas vezes questionei se tudo isso vale a pena. Sair da casa dos pais, morar sozinha, estudar, buscar melhores condições de vida. E a resposta é sim, vale muito. Vale cada sorriso que seus pais e seu irmão dão quando te vêem chegar. Quando você leva uma lembrancinha para eles. Quando você conta uma conquista. Quando você consegue um emprego. Quando você realiza seus sonhos. Por mais pequenos que sejam, eles sempre me apoiam em tudo. Desde conseguir pagar o aluguel com o meu dinheiro até o certificado de um curso. E é isso que faz tudo valer a pena.
Caroline Schepp