O número de hipertensos bateu recorde no último ano, segundo o Instituto Nacional de Cardiologia. Quase 60 milhões de brasileiros têm pressão acima do que é considerado normal – e isso se reflete no Rio Grande do Sul, segundo o cardiologista no Hospital São Lucas da PUCRS, Mário Wiehe.
“Eu tive oportunidade de participar de um estudo de bases populacionais em Porto Alegre, na década de 90, e esse índice ficava entre 20% e 24%. A prevalência na população agora aumentou, chegando a 30%. Vamos lembrar que a nossa alimentação hoje é muito baseada em alimentos que são preservados em sais de sódio, alimentos industrializados. E o sal, especialmente em indivíduos depois dos 50 anos, ele se torna mais prejudicial”.
Um grupo em especial ganhou destaque recentemente, por um estudo da Universidade australiana Edith Cowan, que comparou, durante seis semanas, dois grupos com dietas distintas. Enquanto uma parcela comeu vegetais de raiz, como cenoura, batata e batata-doce, os demais consumiram vegetais chamados de “crucíferos”, pela aparência de flor: brócolis, repolho, couve e couve-flor. Esse último grupo teve uma redução de 5% dos riscos de AVC e ataque cardíaco, graças aos melhores índices na pressão.
“Houve uma redução de 2 a 3 milímetros de mercúrio, o que é significativo. O estudo está alinhado com outros que mostraram benefícios de uma dieta saudável, estilo mediterrâneo, com verduras, frutas, oleaginosas, carnes magras, mais peixe, frango e óleo de oliva”, comenta Wiehe.
Os benefícios desta alimentação vêm do potássio, segundo o cardiologista. Ele também destaca as fibras como benéficas para os grupos com a pressão alterada.
“Os alimentos verdes, na sua maioria, são ricos em potássio, que se associa a um controle melhor de pressão arterial. São alimentos também ricos em óxido nítrico, que são vasodilatadores, fazem bem para a circulação. Então, é um conjunto de benefícios de uma dieta rica em fibras, rica em potássio e pobre em sal”.
Verdura e um torresminho de vez em quando
“Muita verdura, muita verdura. Eu moro numa casa, num terreno grande, e eu tenho uma horta dentro do terreno. Couve é algo que eu tenho de montão”, garante o advogado Emilio Francisco Rozados Rivero, na feira da rótula do Papa, bairro Menino Deus, Zona Sul da capital gaúcha.
Prestes a completar 80 anos de idade, ele deixa escapar um deslize: “Tu sabes que eu gosto de um torresminho, né, Elen?”, brinca com a esposa. Mas ele complementa:
“Mas é só de vez em quando. O importante é o equilíbrio, e as verduras eu como sempre”.
Jovens hipertensos
O cardiologista Mário Wiehe alerta que também jovens estão procurando mais seu consultório com diagnóstico de hipertensão. Alguns, já começam a tomar medicações controladas – e para o resto da vida – no início da vida adulta.
“Tem um percentual até de crianças. É minoria, cerca de 5%. Eu atendo alguns jovens entre 18 e 25 anos que necessitaram iniciar com anti-hipertensivo, mas tem um aspecto importante aí: existem causas secundárias de hipertensão, da área da endocrinologia, alteração da tireoide, alteração da glândula suprarrenal, apneia do sono, entre outros. Muitas vezes, a gente corrigindo essas causas secundárias, a pressão cai. Mas 95% dos indivíduos são hipertensos genéticos”, complementa Wiehe.
Apesar dos genes, hábitos de vida são importantes para reduzir a pressão: inclusão de exercícios diários contribuem, pois a obesidade está na lista de fatores de risco, e o cuidado na alimentação, com uma dieta rica em fibras e preparos com pouco sal.
Fonte: g1 RS