Circula a notícia de que o Pix já causou perdas de até R$40 bilhões em tarifas aos bancos brasileiros. Tome cuidado, essa notícia é falsa!
Essa informação vem sendo disseminada por participantes do governo brasileiro, e foi publicada pelo ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), em seu perfil no Twitter. Nogueira afirma, além do falso dado em relação aos prejuízos, que o Pix teria sido criado pelo governo Jair Bolsonaro (PL). A alegação enganosa de que Bolsonaro seria o criador do Pix é disseminada, inclusive, pelo próprio presidente e já foi rechaçada por entidades como o Sinal (Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central) e o Sindifisco Nacional (Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita Federal do Brasil).
O meio de pagamento começou a ser estudado no BC (Banco Central) em 2016, na gestão Michel Temer (MDB). O grupo de trabalho para o desenvolvimento de pagamentos instantâneos foi criado em maio de 2018, como consta no DOU (Diário Oficial da União). Em dezembro daquele ano, o BC divulgou um comunicado de que a diretoria havia aprovado os requisitos fundamentais para a criação do sistema. Isso significa que somente o lançamento da ferramenta aconteceu na gestão de Bolsonaro.
Além disso, a queda de arrecadação com taxas nas cinco maiores instituições do país foi de R$ 2,69 bilhões entre 2020 e 2021, e não de R$40 bilhões, como afirma Nogueira. A cifra reúne todas as tarifas cobradas, não só as de transferência bancária. Um levantamento do Aos Fatos com base nos relatórios de demonstração contábil dos cinco maiores bancos do país (Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal, Itaú e Santander) apontou que a receita com serviços de conta corrente foi reduzida em R$ 2,69 bilhões entre 2020, ano em que o Pix foi lançado, e 2021. Já na comparação entre o primeiro trimestre de 2022 e o mesmo período do ano passado, a perda estimada é de R$ 225 milhões.
Esses números, distantes dos citados por Nogueira, ainda estão superestimados, pois abrangem todas as tarifas cobradas sobre correntistas, não apenas taxas de transferência bancária por meio de DOC e TED.
É importante lembrar que algumas transações feitas via Pix têm cobrança de tarifa, como as feitas com QR Code e transferências para pessoas jurídicas, assim como nem todas as transações via TED e DOC têm cobrança de tarifa. Contas digitais, por exemplo, geralmente possuem isenção dessas tarifas e clientes que movimentam maior volume de recursos já tinham isenção de tarifa mesmo antes do Pix.
Além disso, o crescimento das transações com Pix é muito maior do que a queda do uso de TED e DOC, o que indica a inclusão de novas pessoas no sistema bancário. Em relatório divulgado no final de 2021, o BC afirmou que a tendência apresentada pelos dados sugere que os brasileiros entraram no sistema bancário por causa da nova ferramenta, especialmente para “pagamentos de varejo de mais baixo valor”. Isso demonstra que o Pix substituiu as transações em dinheiro vivo e aumentou a bancarização.
Apesar da queda no número de transações com TED, essa modalidade de transferência concentra o maior volume de dinheiro transferido mesmo após a criação do Pix. Em junho de 2022, no último mês registrado, cerca de R$ 3,5 trilhões foram movimentados via TED, enquanto transações com Pix movimentaram R$ 889 bilhões.
Os lucros dos bancos brasileiros também continuaram a crescer após o advento do Pix. Em 2021, as quatro maiores instituições somaram R$ 81,63 bilhões de lucro, o maior valor nominal registrado desde 2006 e o quarto maior em números corrigidos pelo IPCA. O lucro do primeiro trimestre de 2022 também demonstra tendência de alta.