Uma tragédia secreta com números alarmantes e cercada por tabus. O ato de tirar a própria vida de forma intencional muitas vezes é visto como pecado, egoísmo, fraqueza e até mesmo exibicionismo. Muitos mitos ainda rodeiam o suicídio, por isso, desde 2014, setembro foi eleito como um mês de prevenção, o Setembro Amarelo.
A iniciativa surgiu em 1994, nos Estados Unidos, quando Mike Emme, um jovem de 17 anos, cometeu suicídio. Ele possuía um carro amarelo e, no dia do seu velório, seus familiares decidiram distribuir cartões amarrados em fitas amarelas com frases de apoio para pessoas que pudessem estar enfrentando problemas emocionais.
A ação se espalhou por diversos países, dando início a um movimento de prevenção ao suicídio e, até hoje, o símbolo da campanha é uma fita amarela. O dia 10 de setembro marca o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio e, com o objetivo de dar mais visibilidade a causa, pontos turísticos e monumentos também se iluminam de amarelo.
A campanha busca conscientizar a população sobre os dados reais envolvendo o suicídio. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em todo o mundo, 800 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano, sendo uma a cada 40 segundos. O suicídio também é classificado pela organização como a segunda principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos.
Os dados são alarmantes, mas muitas vezes ficam escondidos por conta do medo e da dificuldade de falar sobre o tema. De acordo com a médica psiquiatra Joana Carvalho Cordeiro, o transtorno mental é considerado o maior fator de risco para o suicídio. “Mais de 90% dos casos de suicídio estão relacionados a transtornos mentais, sendo o mais comum a depressão. Também vemos casos envolvendo transtorno bipolar, esquizofrenia, transtorno por dependência de substâncias químicas”, destaca.
A maior parte dos transtornos mentais possui tratamento, por isso, a médica afirma que o suicídio é uma tragédia evitável. Além disso, mesmo os suicídios não relacionados a transtornos mentais podem ser prevenidos. “O tratamento psicológico ajuda a pessoa a lidar com os sentimentos, sem ser levado ao desespero e a atitudes extremas e destrutivas”, ressalta.
Frases como “já deu pra mim”, “chega dessa vida” e “eu sou um peso, eu só incomodo as pessoas” podem ser consideradas sinais de alerta. Mas como podemos ajudar nesta situação? A principal orientação é procurar um psicólogo ou psiquiatra.
A médica salienta que, muitas vezes, há uma resistência do paciente em procurar ajuda. “A maioria das pessoas se recusa a ir até o profissional. Geralmente, é necessário que outra pessoa marque a consulta e venha junto com o paciente”, orienta.
Mas por que há a demora e a dificuldade de procurar ajuda? Muitas vezes existe uma cobrança interna para dar a “volta por cima” sozinha, sem precisar do auxílio de ninguém. Esse pensamento, segundo a psiquiatra, é equivocado. “O ser humano é comunitário e ninguém vive sozinho. Para lidarmos com os nossos problemas e doenças a gente também precisa dos outros”, aconselha.
Eles estão aqui para te ouvir
Além de conscientizar, o Setembro Amarelo também busca acolher esse que talvez seja um dos nossos maiores tabus. Afinal, dor, sofrimento, desesperança e medo não desaparecem de uma hora para a outra, nem podem ser empurrados para baixo do tapete.
Cientes que o diálogo é um passo importante para o processo de recuperação e cura, os voluntários do Centro de Valorização da Vida (CVV) prestam serviço gratuito 24 horas por dia, nos 365 dias do ano, para quem deseja conversar sobre seus sentimentos, dores e descobertas, dificuldades e alegrias.
Com profundo respeito, aceitação, confiança e compreensão, cerca de 4 mil voluntários estão disponíveis, de forma sigilosa, para ouvir aquele que liga, por meio do telefone 188, e aprender a ouvir é um dos trabalhos principais dos voluntários.
Felipe Laud se inscreveu para ser voluntário do CVV há três anos e descobriu, durante o treinamento, como escutar quem liga. “Antes de fazer o curso eu achava que sabia escutar, mas não sabia. O curso ensina como devemos centrar a conversa na pessoa que nos procura. Nós devemos ouvir com atenção e passar confiança, assim a pessoa vai se sentir a vontade e confortável para poder falar o que está sentindo, assim, proporcionamos esse momento de desabafo”, afirma.
Laud destaca que o voluntário não dá conselhos e mantém tudo que foi dito durante a conversa em sigilo. “A conversa é completamente anônima, nós apenas anotamos a quantidade de ligações que recebemos. O voluntário não está ali para dar conselhos ou tomar decisões para a pessoa, mas sim para ouvir”, ressalta.
Felipe considera que, muitas vezes, as pessoas não estão preparadas e não sabem lidar quando alguém pede ajuda. “Muitas vezes as pessoas querem ajudar, mas não sabem o que dizer e acabam falando coisas que não ajudam”, salienta.
Prestar atenção nos próprios sentimentos e nas pessoas que estão ao nosso redor também é essencial, de acordo com Laud. “Nós consideramos que a prevenção passa pelo caminho da fala. Não é necessário esperar o copo transbordar para poder falar, é preciso se acostumar a falar sobre o que estamos sentido”, conclui.
Onde procurar ajuda?
Além dos serviços do CVV pelo telefone 188, também está disponível o atendimento pelo chat ou e-mail. Em Frederico Westphalen, é possível buscar ajuda de forma gratuita no Centro de Atenção Psicossocial (Caps) ou nas Unidades Básicas de Saúde do município (UBS).
A médica psiquiatra Joana Carvalho Cordeiro atende de modo particular em Frederico Westphalen, na clínica Santa Margarida, localizada na rua Tenente Lira, n°1199, no Centro.
Texto: Débora Franke
(Foto: reprodução)