De um brilho encantador que costuma iludir muitas pessoas pela ganância, surgiu e foi lapidado um bonito espírito de solidariedade e cooperativismo no Norte do Rio Grande do Sul.
O brilho que nos referimos provém da pedra Ametista, uma variedade do quartzo, que há mais de 60 anos é motivo de orgulho para a cidade de Ametista do Sul, a 340 quilômetros da capital Porto Alegre. Com a mineração da pedra na cidade, aos poucos se fez necessário a união de mineradores e trabalhadores que dependem da extração da ametista.
Assim, em 1990, foi criada primeira cooperativa voltada à mineração no Brasil, a Coogamai, Cooperativa de Garimpeiros do Médio Alto Uruguai. Mas esta história tem seu início na década de 1930, quando o destino trouxe da terra um bem valioso, que até hoje movimenta a economia e a vida de milhares de pessoas desta região.
O brilho que mudou a história da região
Foi por acaso que há mais de um século agricultores pioneiros tiveram contato com a mineração em Ametista do Sul. Da terra que antes servia apenas para cultivo de grãos, aos poucos despontava aquilo que no futuro seria a principal fonte de sobrevivência dos moradores da cidade. A pedra, ainda então desconhecida, ganhou grande valor comercial após o término da 2ª Guerra Mundial.
Com o tempo este tesouro atraiu mineradores de todo o Brasil que passaram a garimpar em profundas galerias subterrâneas que chegam a atingir a extensão de aproximadamente 800 metros.
Seu Ênio da Rosa que se apaixonou desde criança pelo brilho da Ametista, quando adulto foi minerador e fez das minas sua segunda casa:
Se o fascínio pela Pedra Ametista fez de Seu Ênio um experiente minerador também lhe trouxe algo que o marcaria para o resto da vida. Após 16 anos percorrendo as extensas galerias em busca do seu tesouro escondido, Seu Ênio foi diagnosticado com silicose, doença que pôs fim ao sonho de muitos mineradores.
Assim como Seu Ênio, outros mineradores sofrem as consequências da busca pelo seus sonhos. Porém, mesmo com todas as dificuldades, o futuro de inúmeros garimpeiros foi assegurado por uma iniciativa com base no cooperativismo.
União pela sobrevivência: Nasce a Coogamai
Em 1988, surge a partir da necessidade de melhores condições de vida e trabalho, a primeira cooperativa voltada à mineração no Brasil, a Coogamai. A entidade atua no que diz respeito à segurança do trabalho, às questões de conservação do meio ambiente e auxilia socialmente os mineradores, como explica o atual engenheiro de minas da cooperativa, Anderson Oliveira:
Anderson também comenta que a Coogamai atua para a proteção de seus associados, evitando que novos casos como do Seu Ênio sejam registrados:
A cooperativa também se responsabiliza para que a lei do Estatuto do Garimpeiro seja assegurada. Atualmente a Coogamai abrange oito municípios da região, totalizando 15.313 hectares.
Dentro desta área encontram-se cerca de 200 garimpos em funcionamento, os quais a cooperativa auxilia com âmparo legal e técnico:
A Coogamai foi e é importante na vida de seu Luiz Carlos Colussi, garimpeiro desde seus 14 anos. Ele destaca o papel fundamental da Cooperativa:
Mario Tiburski é fiscal de minas e trabalha para a Coogamai. Ele é o profissional responsável pelo contato direto com os mineradores e tem a missão de atestar a segurança do ambiente de trabalho dos garimpeiros, para isso utiliza de sua experiência, já que é minerador de origem.
O papel desempenhado por Mário Tiburski e pela Cooperativa de Garimpeiros foi e é fundamental para a sobrevivência da profissão mineradora no Brasil, que vive realidades diferentes quando se trata desse assunto.
Se de um lado, a abundância de riquezas minerais foi historicamente explorada por grandes empresas, muitas delas do exterior, por outro lado não são poucas as histórias de pequenos garimpeiros, como os associados da Coogamai, que por meio da união do cooperativismo tiram da terra seu sustento e de suas famílias.
A força que lapidou conquistas
Ao longo dos seus 27 anos de atuação, a entidade obteve inúmeras conquistas. Como a a extinção de acidentes fatais nos garimpos, mediante as ações de prevenção e melhorias nas condições de trabalho dos garimpeiros; a recuperação de áreas degradadas, com o aproveitamento dos rejeitos com a fabricação de tijolos ecológicos, a utilização no encascalhamento de estradas e na técnica de remineralização do sol. Além do reconhecimento como entidade representativa do setor com a participação em eventos por todo o Brasil e também no exterior, levando a experiência e o pioneirismo na área; Os avanços da cooperativa também oportunizaram a criação do Fundo de Saúde do Garimpeiro e a construção do Centro de Diagnóstico de Saúde do Trabalhador Garimpeiro, possibilitando o controle da qualidade de vida, conforme preconiza a o Ministério do Trabalho e Emprego.
O pioneirismo na iniciativa para proteger o garimpeiro tornou a Coogamai um exemplo de cooperativismo no Brasil e também no exterior, pois para a entidade o valor da união está acima de qualquer pedra preciosa.