Já dizia Monteiro Lobato: “Um país se faz com homens e livros”. Este ano, os frederiquenses terão novamente a oportunidade de desfrutar do encanto do mundo das palavras, em uma Feira do Livro repleta de atrações e novidades. Serão três dias de muitas atividades, de 19 a 21 de outubro, em que as pessoas poderão aprender, interagir e se divertir.

Na última semana aconteceu a escolha do patrono da Feira desse ano, e desta vez, o título está nas mãos de Nery Wirti, que reside em Frederico Westphalen desde 1955. Segundo a secretária municipal da educação e cultura, Sidene Buzatto, a escolha se deu em virtude do importante trabalho que a professora tem realizado em prol da criação e manutenção das Feiras do Livro do município. “Ela foi uma grande batalhadora por inúmeras Feiras do Livro em Frederico Westphalen. Ela escreve livros pra crianças, tem uma belíssima obra. A Nery é uma contadora de histórias, vai ser um encanto”, comenta Sidene.

Um refúgio de tranquilidade, sossego e muita inspiração. É com essa sensação que se depara quem chega à casa da escritora, professora, artesã e dona de casa, Nery. O seu lar acolhedor, no Bairro Bela Vista, inunda nosso olhar de cores, linhas, agulhas e livros.

Esse é o recanto de Nery, a patronesse da 34ª Feira do Livro de Frederico Westphalen. Amante das palavras e uma escritora de indescritível talento, Nery idealizou a primeira feira do livro de Frederico e região, quando foi Delegada da Educação. Desde os preparativos da primeira edição, ela sonhava com um evento que tivesse continuidade, que se consolidasse na cultura local e no gosto do povo. “Não queríamos um evento que fosse passageiro”, afirmava Nery; e hoje, às vésperas da 34ªFeira, o tempo mostra que o desejo da professora se realizou.

O objetivo da Feira, desde que surgiu, é fortalecer o trabalho das escolas na formação de leitores, com o intuito de levar aos alunos o encanto das palavras e possibilidades infinitas de viajar no mundo dos livros. A escritora acredita que é imprescindível investir em eventos como esses, principalmente quando se vê dia após dia a tecnologia se expandindo e afastando o hábito de ler um livro das prioridades das pessoas. “A tecnologia chegou com tudo, e é a grande luta que as escolas e as famílias vão ter com isso, todo o imediatismo, você tem tudo de uma vez só, e essa possibilidade entrar no imediatismo faz concorrência com os nossos livros e livrarias”, explica Nery.

A professora afirma que o ato de ler como forma de adquirir cultura deve ir muito além de simplesmente folhear um livro e tomar conhecimento de suas palavras; deve-se aprender a observar a realidade e o universo que nos cerca, que pode ensinar tanto, ou mais do que apenas se deter naquilo que está em uma folha de papel. “Nós temos pessoas não letradas que sabem fazer de sua vida uma vida de cultura, que sabem se transformar em pessoas cultas, porque fazem a leitura do mundo a sua volta. O sujeito é receptor do mundo. Não é a sociedade que nos transforma, é nossa vida que transforma a sociedade, por isso as nossas atitudes são tão importantes”, comenta a patronesse.

Nery fala que há livros que não existem, que foram escritos com dedicação e empenho, mas que ainda não nasceram, pois necessitam dos leitores para lhes atribuir sentido. “O livro que não é lido não existe. O escritor só é escritor, e o livro só é livro, porque existe o leitor; é o leitor que dá vida, é o leitor que significa o trabalho do escritor. O livro preciso ser deglutido, consumido, com os olhos e com a alma”, ressalta a professora. E destaca ainda o quanto é imprescindível que as pessoas adotem a prática do desapego em relação aos livros, que não tenham receio em passar os seus livros adiante, para que mais pessoas possam lê-los e assim poderão cumprir com a sua função. “É importante você fazer os livros circular, leia e depois passe adiante, faça circular”, lembra ela.

A principal obra da autora é intitulada “Bela, boneca de pano e de sonhos”, publicada em 2015. No entanto, a história surgiu há mais de 30 anos, quando Nery decidiu ajudar uma menina que estava com câncer. “Mandei pra ela uma boneca de pano com a história da confecção da boneca e porque aquela boneca estava indo e o que ela pretendia, que era acompanhar a menina no tratamento. E aí deu alento, a menina foi acompanhada pela boneca e ficou boa. Depois se formou, hoje é professora doutora, uma pessoa muito culta e completa”, contou a artista.

A escritora conta que a sua paixão pela literatura nasceu ainda na infância, quando teve contato com a literatura oral, e pôde desfrutar do encanto e da emoção de ouvir essas narrativas. “Meus antepassados eram imigrantes italianos, que traziam as histórias da sua vinda ao Brasil, a travessia do oceano atlântico, traziam aquelas lendas da Europa, traziam fatos; e isso era uma literatura, a literatura oral”, resgatou Nery de suas memórias.

A professora ainda destaca a importância das pessoas terem um livro de estimação, que apreciem e gostem de ler. “Eu acho que todas as pessoas deveriam ter um livro de preferência, pode ser um livro de oração, de receitas, de historinha infantil, um livro que ganhou da madrinha, enfim, um livro que marcou a sua vida, e que tenha dentro da sua casa em um lugar especial”, comenta Nery, que sabe melhor do que ninguém o valor de um livro na vida do ser humano.

São inúmeras lições que a escritora nos ensina, reflexões que valem à pena ser pensadas. “Alegria de viver é a minha receita para a longevidade e jovialidade. A alegria de viver é o cerne da vida. A alegria se encontra até na tristeza, é só procurar. A alegria tem que ser buscada; e a felicidade está onde você a coloca”, afirma a mulher com uma riquíssima bagagem de conhecimento e experiência. E concluindo, Nery enfatiza: “Eu acho que você está no mundo pra abraçar as pessoas, dar a mão. Receber a mão é tão bom também, mas dar a mão pra atravessar as dificuldades e os obstáculos que a vida oferece não tem preço; você sozinha enfrenta de uma forma, você abraçada ou de mãos dadas com alguém, você enfrenta bem diferente”.

A 34ª Feira do Livro está se aproximando aos poucos, e a escritora já tem uma poesia pronta sobre esse belíssimo evento, confira:

É FESTA OUTRA VEZ

O sol dourando a praça,

livros cheios de sonho,

livros cheios de graça.

É festa outra vez!

Explosão de alegria,

algazarra de crianças

abraçando a feira,

onde tudo pode acontecer!

É festa outra vez!

Palavras brincando

de esconde-esconde

nas cores, nos sons.

Quem vai encontrar?

Que bom!

ASCOM –  Prefeitura Frederico Westphalen