O União Frederiquense venceu aquele que não deve ser mencionado e permanece na Divisão de Acesso

O União Frederiquense precisava apenas de uma coisa: vencer, na casa do adversário. Não tinha mais nenhum jogo na competição que pudesse salvar a equipe de disputar a Terceirona Gaúcha em 2020.

Quilômetros de viagem, diversas paradas nada obrigatórias para ir ao banheiro e chegamos a cidade por volta das 11 horas. Após muito analisar o território da cidade daquele que não deve ser mencionado, toda a equipe da Rádio Comunitária visitou o cemitério para conhecer os túmulos de dois líderes políticos, Leonel Brizola e João Goulart — o túmulo do terceiro líder político, Getúlio Vargas estava na Praça Central e não foi possível visitar.

Após um bom almoço, partimos para o estádio em que seria feita a transmissão. Paramos o carro a uma distância considerável, tendo em vista a grande ameaça de sermos agredidos no local.

Sim. Devido a tamanha repercussão do programa “Contra-Ataque”, da última segunda-feira, 8, a equipe da Rádio Comunitária foi para a transmissão do último jogo da primeira fase da Divisão de Acesso sob ameaças. Mas com o objetivo de cumprir com sucesso e profissionalismo o principal objetivo: levar todas as emoções ao querido ouvinte.

Os “sinais” nos deixaram na mão.

Em uma pane Estadual de uma operadora telefônica, impossibilitou que a transmissão mantivesse a mesma qualidade de áudio apresentada durante toda a competição. Mesmo assim, a equipe da Rádio Comunitária permaneceu no ar, via ligação telefônica, parecendo uma transmissão dos anos 80.

Presságio do que estava por vir?

Talvez.

Afinal, foi com este sinal que o União Frederiquense anotou o seu primeiro gol no jogo, com Jefferson convertendo o pênalti aos 43′ da primeira etapa. Logo após o gol, disse para o colega Ângelo Lorini: “a gente se f#*%$”.

No caso, o “a gente”, era toda a equipe da Rádio Comunitária, já contando com uma possível vitória do União Frederiquense.

No fim do segundo tempo, a possibilidade se concretizou.

O ator principal de “O Inferno de Silvano”, o atacante Silvano, apareceu dentro da grande área para escorar o cruzamento do autor do primeiro gol, Jefferson, e finalizar a partida. Dois a zero para o União Frederiquense na cidade que não deve ser mencionada e o tal fantasma do rebaixamento pulou a cerca, não regressando com o Leão para Frederico Westphalen.

Fim de papo e no ar nós escutamos da voz do comandante da Rádio Comunitária, Ademir Telles: “Enquanto fazemos o apito final, rapidamente, Ângelo Lorini, vai buscar o carro porque a Brigada Militar vai fazer a proteção por apenas 20 minutos”.

À paisana, a barricada da Rádio Comunitária passou a atuar na retaguarda, apenas no aguardo do sinal do restante da equipe, afinal, qualquer menção a emissora fora do estádio, não passaria pelo pelotão montado pelos torcedores para impedir a nossa saída. Neste momento, já éramos agraciados com todo o tipo de elogios possíveis.

Aí entrou em cena a Brigada Militar.

Ou melhor, saiu de cena. Os integrantes da BM iria fornecer escolta apenas ao clube e não a imprensa. Entretanto, não contavam com a astúcia do nosso comandante que solicitou para irmos com o ônibus do clube. Caso contrário, parte da equipe da Rádio Comunitária estaria no departamento médico neste momento.

Os equipamentos foram guardados do jeito que dava, e na saída, um indivíduo me abordou com a seguinte frase: “Você merecia tomar uma porrada! Você desrespeitou a nossa cidade, seu trouxa!”.

Sigo em direção ao ônibus e, na minha cabeça, passa três opções: 1) Sigo caminho e apanho de costas; 2) Retruco e apanho; 3) Fico quieto e conto que ele não vai me atacar.

Opto pela terceira opção.

Entramos no ônibus e a primeira coisa que eu ouço: ANOTE AÍ!

Os dirigentes do União pedem para que todos fechem as cortinas a fim de evitar mais uma reação da torcida adversária. E a BM?

De fato, escoltaram a delegação e nós também, até o hotel em que estavam hospedados. Lá estava a nossa barricada, nos esperando para concluir a rota de fuga rumo a Frederico Westphalen.

Chegamos.

Sem transmitir o rebaixamento do União Frederiquense.

Sem lesões.

E, agora, sem mencionar absolutamente nada daquele que não deve ser mencionado.

Todos os detalhes desta crônica não são fictícios. Também não é possível esquecer que a temporada do União Frederiquense foi muito arriscada. Apenas duas rodadas fora da zona de rebaixamento em toda a competição. A campanha na Divisão de Acesso foi ruim, diversos fatores influenciaram para que o Leão de Frederico Westphalen chegasse a essa situação. Agora é o momento de rever tudo. As finanças, os erros e, principalmente, os acertos. São eles que motivam todos a permanecer elevando o clube de patamar. Esse não é o lugar que o União Frederiquense merece e tenho certeza que essa temporada será uma lição muito grande e marcante na história leonina.

Tenho que admitir, foi uma temporada diferente.

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