A poucos dias de se completar um ano da morte do menino Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, a defesa de Edelvânia Wirganovicz, ré no processo sobre o homicídio, tenta mais uma vez desqualificar a investigação policial. O advogado da assistente social, Demetryus Eugenio Grapiglia, divulgou um vídeo com uma entrevista realizada por ele com sua cliente, em que ela apresenta uma versão diferente do depoimento que prestou à polícia em abril do ano passado. As imagens foram gravadas em novembro de 2014, dentro da Penitenciária Feminina de Guaíba, onde Edelvânia está recolhida, epublicadas na página do advogado no YouTube no dia 26 de março. Grapiglia contesta o relato dado à polícia desde que assumiu a defesa de sua cliente.
Conforme o advogado, a entrevista com sua cliente só foi divulgada agora para não atrapalhar a condução do processo e porque a defesa considerou “o momento oportuno”, uma vez que resta apenas uma testemunha ser ouvida. No vídeo, Edelvânia diz que Bernardo morreu em decorrência do excesso de medicamentos ministrados pela madrasta do garoto, Graciele Ugulini, que também está presa e responde por homicídio qualificado e ocultação de cadáver. À polícia, poucos dias após o crime, a assistente social afirmou que a morte do menino teria sido provocada por injeção letal, administrada por Graciele.
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– A Kelli (apelido de Graciele) pega, abre a bolsa dela e pega uma cartela lá de comprimidos e vai tirando, tira um monte. Um monte, mais ou menos uns cinco, seis, um punhado assim e dá para ele tomar – diz Edelvânia no vídeo divulgado pelo advogado.
Nas imagens, Grapiglia pergunta se Bernardo tomou os medicamentos. Ela responde que sim.
– Só que acabou acontecendo que o Bernardo caiu, desmaiou dentro do carro. Ela (Graciele) é enfermeira, ela sabe, pegou no pulso dele e chacoalhava ele estava desmaiado – afirmou. – A gente foi lá, pegou o corpo do guri, a gente trouxe e colocamo (sic) dentro daquele saco. Fiz o que ela mandava, e a gente colocou lá na cova – completou.
O advogado da assistente social afirma que o depoimento dela à polícia foi “forjado”.
– Aquele primeiro vídeo foi gravado sem a presença de advogado. Para nós, aquele depoimento não tem validade. Colocaram palavras na boca dela. Eu levo uma pessoa totalmente desastabilizada emocionalmente para uma sala reservada e ofereço mil e uma maravilhas, ela confessa até a morte de Jesus Cristo – afirmou.
A estratégia da defesa de Edelvânia consiste em responsabiliza-lá apenas por ocultação de cadáver, com pena máxima de três anos. Ela foi denunciada pelo Ministério Público Estadual (MP) por homicídio triplamente qualificado e, se condenada, pode pegar mais de 20 anos de detenção. À polícia, Edelvânia disse que ajudou a madrasta de Bernardo no assassinato em troca de dinheiro que teria usado para a compra de um apartamento. Depois, mudou a versão afirmando que adquiriu o imóvel com recursos próprios e da mãe.
O MP, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que a promotoria mantém sua convicção quando a culpa dos réus e não irá comentar as teses das defesas. A delegada regional de Três Passos, Cristiane de Moura e Silva, classificou o vídeo divulgado com um movimento “natural” da defesa e garantiu que o depoimento colhido pela polícia seguiu todos os procedimentos legais.
– É o trabalho da defesa tentar livrá-la. (À época do crime) ela (Edelvânia) foi orientada sobre o direito de ficar em silêncio ou se manifestar em juízo e decidiu prestar o depoimento mesmo assim. Isso está claro no vídeo (gravado pela polícia) – afirmou.
Não é a primeira vez que a defesa de Edelvânia questiona a versão apresentada no inquérito concluída pela Polícia Civil de Três Passos. Em 14 de abril do ano passado, a assistente social confessou participação na morte de Bernardo e contou detalhes do planejamento e da execução do crime, cometido junto com a madrasta do garoto, Graciele Ugulini. O depoimento foi gravado pela polícia e teve conteúdo divulgado por Zero Hora com exclusividade no dia 19 daquele mês. Em julho, ZH veiculou o vídeo da confissão.
Assim que o depoimento se tornou público, o defensor de Edelvânia passou a questionar a validade do relato, afirmando que teria sido obtido por meio ilícito em razão da ausência de um advogado. Ouvido por ZH sobre a polêmica na época, o advogado Felipe Moreira de Oliveira, professor Direito Processual Penal da PUCRS, explicou que o argumento dificilmente levaria à anulação do depoimento, porque o Superior Tribunal de Justiça já havia publicado decisão dizendo que, se a pessoa é alertada dos direitos e opta por depor mesmo assim, o relato não é nulo.
* Zero Hora