Cerca de 12 milhões de abelhas morrem contaminadas por agrotóxico em São José das Missões

Cerca de 200 colmeias, com uma população estimada de 12 milhões de abelhas, foram dizimadas nos últimos dias de 2018, na Linha Progresso, localizada no município de São José das Missões, região norte do Rio Grande do Sul. Seis famílias de apicultores tiveram perda total em suas colmeias, uma de suas principais fontes de renda. Segundo os agricultores atingidos, a causa da mortandade foi a utilização indevida de um inseticida a base de Fipronil, em uma lavoura de soja da região. A aplicação desse inseticida teria ocorrido no final de dezembro e as abelhas começaram a morrer nos dias 30 e 31 de dezembro. O engenheiro agrônomo Mairo Piovesan, que trabalha na Emater, em São José das Missões, recebeu nos últimos dias relatos de pelo menos seis famílias atingidas pela mortandade de abelhas. O vídeo abaixo foi feito na propriedade do Sr. Leo e Dona Angela Ballin na Linha Progresso:


 

Os agricultores registraram o que ocorreu com fotos e vídeos que mostram milhões de abelhas mortas em torno das colmeias. Segundo Mairo Piovesan, o inseticida foi usado para o controle do tamanduá-da-soja. O uso desse produto, assinalou, é autorizado na cultura da soja, mas foi usado no mesmo tanque de pulverização com o herbicida glifosato, aplicado para a dessecação das plantas daninhas da soja, e acabo atingindo plantas de nabo forrageiro onde se encontravam as abelhas.

O uso do inseticida e do glifosato no mesmo tanque, para economizar na aplicação, é proibido pela legislação, destacou o engenheiro agrônomo. Segundo ele, pelas informações já obtidas, a morte das abelhas foi praticamente total em um raio de seis quilômetros do local da aplicação.

É difícil mensurar o valor da perda dessas colmeias. Só duas famílias perderam mais de 100 colmeias que representavam sua principal fonte de renda”, disse Piovesan. O prejuízo está sendo calculado e será juntado à investigação que os órgãos policiais estão conduzindo. A Patrulha Ambiental da Brigada Militar já esteve na área atingida para realizar uma vistoria e as famílias afetadas registrarão ocorrência na Policia Civil. Até hoje, pelo que o engenheiro agrônomo tem notícia, esse problema ainda não havia acontecido nesta escala na região que tem na soja um de seus principais cultivos. A velocidade de contaminação de uma colmeia é muito rápida, explicou. Algumas poucas abelhas contaminadas bastam para contaminar toda a colmeia.

No final da tarde desta quinta-feira, dia 3, Patrulha Ambiental da Brigada Militar divulgou o relatório da ocorrência. Suspeita-se que o fato tenha sido causado pelo uso de inseticida em uma lavoura de soja, com o intuito de acabar com um inseto conhecido por “raspador” (Tamanduá do soja), juntamente com um produto utilizado para secar o nabo existente em meio ao cultivo. No entanto o produto deveria ter sido utilizado antes da floração do nabo, mas segundo o acusado, na época não havia umidade suficiente no solo.  Ainda, segundo o acusado, o ato não foi intencional, pois no momento não tinha conhecimento, tampouco foi orientado pelo técnico agrícola que tal inseticida poderia atingir outras espécies. Conforme a Polícia  o produto utilizado foi “MUSTANG 350CE”, do qual foi apresentado nota e receituário.

A Polícia Ambiental visitou cada propriedade dos apicultores próximos, onde foi feito todo o levantamento fotográfico. Também foi visitada a propriedade do Sr. que seria responsável pela utilização do produto, onde foi realizado o levantamento dos produtos estocados em seu galpão apresentando todas as notas fiscais. No local não foi encontrado nenhum tipo de agrotóxico ilegal.

Foram registrados quatro Boletins de ocorrência nas propriedades de quatro apicultores, num total de 82 caixas atingidas, com perda total dos animais e do produto que estava por ser colhido.  Os Boletins de ocorrência são lavrados pela própria Polícia Ambiental, e após será feito todo o relatório e encaminhado ao Ministério Público para as providências cabíveis ao caso, concluiu a  Patrulha Ambiental da Brigada Militar.

Conforme Piovesan a diferença no numero de colmeias afetadas divulgadas pela Polícia e nas identificadas pela Emater, se deve ao fato de alguns apicultores optarem por não registrar a ocorrência ou mesmo notificar a autoridade.

Em 2012, o Ibama sugeriu a reavaliação do uso de quatro agrotóxicos associados à morte de abelhas: Imidacloprido, Tiametoxam, Clotianidina e Fipronil. A decisão do Ibama, na época, se baseou em pesquisas científicas e decisões tomadas por outros países, como a França, onde o Fipronil está proibido desde 2004. Em 2013, a Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (EFSA) emitiu um parecer desfavorável à continuidade do uso de inseticidas à base de Fipronil.

No Rio Grande do Sul, a mortandade de abelhas vem se agravando nos últimos anos. Em 2017, segundo a Câmara Setorial de Apicultura da Secretaria Estadual da Agricultura, cerca de 3 mil colméias foram dizimadas no Estado. Na maioria dos casos, as mortes ocorreram por contaminação das abelhas com agrotóxicos.

O Sul21/Rádio Comunitária

 

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